Um robô importado da Inglaterra está encaixotado há 13 anos no Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar). O equipamento – avaliado em mais de R$ 6 milhões, em valores atuais – foi comprado na época em que a empresa pública negociava com o Ministério da Saúde para produzir vacina antirrábica para humanos, mas o acordo não foi efetivado e o aparelho ficou sem função.

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O negócio começou a desandar quando a aquisição do robô demorou – por causa de entraves na licitação internacional e aduaneiros. A decisão de comprar o equipamento ocorreu em 2000, como contrapartida em um projeto de pesquisa que o Tecpar havia conquistado. Mas o aparelho só chegou ao Paraná dois anos depois. Nesse meio tempo, o Instituto Butantan, de São Paulo, conseguiu uma parceria com uma instituição francesa que cedeu a tecnologia para a fabricação da vacina. O Ministério da Saúde decidiu, então, que compraria do instituto paulista os lotes de imunização contra a raiva, para aplicação em humanos.

O caso está sendo discutido no Tribunal de Contas do Paraná (TC-PR), que encontrou o equipamento em uma vistoria de rotina. Um procedimento investigatório foi aberto e os conselheiros consideraram que se trata de mau uso do dinheiro público. O acórdão considerou responsáveis o atual presidente, Júlio Cesar Felix, e os três presidentes anteriores, até a data da compra do equipamento. Potenciais valores de multa ainda não foram fixados. O Tecpar está recorrendo da decisão.

Para Ivan Bonilha, presidente do TC-PR, o robô é “um monumento à desídia administrativa”. Ele acredita que o equipamento deveria estar gerando renda e imunização. “A gente sabe que os processos de importação são morosos, mas como não tem um gestor para colocar esse equipamento em funcionamento?”, questiona. O Tribunal estaria, nas palavras do presidente, em busca de fazer com que o aparelho entre em operação e que os cofres públicos sejam ressarcidos pelos potenciais prejuízos causados no período. “É revoltante”, diz.

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“Equívoco”

O presidente do Tecpar, Júlio Cesar Félix, afirmou que a decisão do TC “é um equívoco”. Primeiramente, não teria considerado que negócios na área de ciência e tecnologia envolvem risco inerente. Ele também contesta fatores usados no acórdão para calcular o prejuízo: como a depreciação de 10% ao ano, que seria um recurso contábil inadequado para o caso, e a suposta perda de receita, calculando quanto deixou de ser vendido em vacinas no tempo em que o robô está parado.

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O instituto assegura que tem um laudo que comprova que o equipamento continua atual – e único no Brasil. Tão único que não foi possível, até o momento, achar outra função para o aparelho. É que o robô seria responsável por girar garrafas de cultura de vírus. A fabricação da vacina antirrábica veterinária, que é o carro-chefe do Tecpar, é feita em espécies de tonéis, com outro tipo de procedimento para garantir que o conteúdo seja remexido de tempos em tempos. Félix ainda destaca que todo o restante da estrutura para a produção da vacina humana – o robô era apenas uma parte – foi transferido para o setor de imunizações veterinárias.

O Tecpar teria buscado formas para aproveitar o equipamento em outras áreas, mas sem sucesso. Agora há uma nova esperança de usá-lo no setor de fabricação de kits de diagnóstico. Contudo, o presidente afirma que a incorporação do equipamento depende de um projeto maior, que demandaria fontes de investimento ainda não disponíveis. Assim, Félix defende que não foi falta de gestão – no caso, de tentativa de colocar o equipamento para funcionar.