Trabalho com medo!

“Surto de covid-19” preocupa funcionários dos Correios na RMC. Duas pessoas já morreram

surto de covid nos correios em pinhais
Centro dos Correios seria alvo de um "surto" de covid-19, segundo denuncia de sindicato. Foto: Reprodução.

Uma denúncia sobre a falta de cuidados sanitários contra o coronavírus (covid-19) no Centro Internacional de Cargas dos Correios (CEINT), em Pinhais, região metropolitana de Curitiba, levou a Vigilância Sanitária do município a fiscalizar o local no início de junho. Não é a primeira vez que denúncias como essa chegam à prefeitura, desde que a pandemia começou. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores dos Correios (Sintcom-PR), o Centro tem apresentado um alto número de trabalhadores infectados pelo coronavírus (covid-19) nos últimos dias, com dois óbitos registrados neste mês. A denúncia partiu do sindicato no dia 28 maio, pedindo testagem de covid-19, afastamento preventivo em casos positivos ou de contato com infectados e desinfecção do CEINT. O serviço dos Correios é considerado essencial por decreto.

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O Sintcom-PR explica que o CEINT tem 20 mil metros quadrados e é lá que ocorre o recebimento e organização de parte das encomendas internacionais que chegam ao Brasil. É o maior centro de distribuição internacional dos Correios no país e conta com cerca de 660 funcionários, dos quais 540 são terceirizados.

Um desses trabalhadores, que preferiu não se identificar por medo de perder o emprego e que acabou pegando covid-19, disse que a empresa demorou para tomar medidas preventivas para evitar o que ele chamou de “surto da doença”. “Agora, eles estão fornecendo máscaras duas vezes ao dia para os terceirizados. Para nós, funcionários próprios dos Correios, agora eles estão fornecendo máscaras adequadas, sendo que, até então, eram de tecido normal. Aferição de temperatura, agora tem uma máquina que você coloca a mão, sem necessidade de um segurança fazer isso”, relatou o funcionário.

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Mas, ainda de acordo com ele, as aglomerações continuam ocorrendo na entrada do refeitório e nas trocas de turno. “Alguns quesitos eles tomaram as providências, outros não. Isso perto de uns 15 dias, depois que teve a denúncia e a vigilância sanitária veio várias vezes no centro. Antes, quando eram só os terceirizados com casos, eles não se preocupavam. Quando gestores dos Correios começaram a testar positivo, as coisas mudaram”, reclamou.

Outra funcionária que era terceirizada, mas que pediu para sair da empresa em junho, com medo de se infectar e acabar levando a doença para casa, contou que nem o teclado onde se batia o ponto era higienizado. “Eu tinha que levar o meu álcool de casa. Preferi sair de lá, quando o surto começou, porque tenho um bebê em casa. Achei arriscado ficar”, contou.

De acordo com o Sintcom-PR, o funcionário Luiz Henrique Belemer, de 22 anos, que faleceu de covid-19 na segunda-feira (14), saiu do local de trabalho no dia 7 de junho, dizendo que não se sentia bem. Fez o teste e deu positivo para a covid-19. Outro óbito, na quarta-feira (9), foi da esposa de um trabalhador, Keli Queques, 38 anos, casada com Roberto Cordeiro Franco, operador de triagem no CEINT. O Sintcom-PR aponta que ele foi o primeiro em casa a apresentar sintomas e a testar positivo, em seguida, a esposa desenvolveu as complicações da doença.

A secretária de Saúde de Pinhais, Adriane Carvalho, disse que denúncias sobre os protocolos sanitários no CEINT ocorrem desde que a pandemia começou, em março do ano passado. Segundo ela, a vigilância fiscaliza e exige as adequações necessárias para o cumprimento das medidas sanitárias por parte da empresa. “A denúncia recente do sindicato dos Correios foi comunicada no dia 28 de maio. Ainda estamos seguindo com a fiscalização das adequações, mas as exigências básicas dos decretos como deixar álcool gel disponível, manter o distanciamento e fornecer a troca de máscaras é o mínimo que os decretos exigem para cumprir a lei sanitária. A prefeitura vem cumprindo o seu papel com rigor”, explicou.

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Conforme a secretária, o termo “surto” pode ser aplicado quando há mais de três casos positivos confirmados, conforme uma definição técnica da saúde. “Mas é preciso ter cautela. Não significa que há surto generalizado no local. Foram feitos testes e constatados casos. Dessa forma, pede-se a realização de mais testes e afastamento do trabalho dos infectados”, aponta a Adriane Carvalho, destacando que não há uma norma que obrigue as empresas a realizar testes sem uma constatação.

Segundo o Sintcom-PR, do dia 1.º de junho até a última segunda-feira, os casos aumentaram para mais de 60 contaminados no CEINT. “São trabalhadores completamente precarizados que, mesmo sintomáticos para a covid, obrigam-se a ir trabalhar para não perder a renda mínima no final do mês. Isso tem levado à proliferação rápida do vírus na unidade. O pior de tudo é que a direção dos Correios tem conhecimento do problema, mas continua se negando a quaisquer medidas que possam mitigar o contágio. É o completo desprezo pela vida em detrimento do lucro”, denunciou Adaílton Cardoso, secretário geral do Sintcom-PR.

E aí, Correios?

Os Correios negam qualquer falha nas medidas sanitárias. Em nota, a empresa disse que “as informações alegadas pelo sindicato não procedem e os Correios repudiam a disseminação de notícias infundadas sobre a empresa, que geram preocupação desnecessária à população”. Segundo os Correios, desde março de 2020, medidas de proteção vêm sendo adotadas para proteção da saúde dos empregados, fornecedores e clientes. A empresa também disse que acompanha a saúde dos colaboradores e presta apoio necessário, “atuando para garantir o bom funcionamento das atividades operacionais”.

Sobre as medidas sanitárias no Centro Internacional em Pinhais, os Correios informaram que “há medição de temperatura dos profissionais, houve a reorganização das estações de trabalho para promover o distanciamento e mais de 600 exames foram realizados pela empresa”.

No caso da denúncia sobre a falta de água, a empresa informou que a “cidade está realizando o rodízio de fornecimento. Dessa forma, a empresa já tomou as providências necessárias para garantir o fornecimento na unidade”. O rodízio ao qual se refere a nota faz parte das medidas economia adotadas pela Sanepar por causa da falta de chuva que mantém baixos os níveis dos reservatórios que abastecem a região.