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Empresa de Curitiba dobra de tamanho em 3 anos e fatura R$ 100 milhões

Uma das salas da Watch. Salas de descanso, geladeira cheia e clima de startup. Foto: Divulgação

Quando ouvi o nome da Watch Brasil pela primeira vez não fazia ideia do que se tratava, muito menos que ela era uma empresa criada em Curitiba e que movimentou pelo menos R$ 100 milhões em 2024, dobrando de tamanho de um ano para o outro (e já cresceu 50% em 2025 no comparativo com o ano anterior).

Ao mergulhar um pouco mais em sua rotina, pude conhecer uma startup que já atingiu o seu breakeven (ou ponto de equilíbrio, quando se igualam despesas e receitas), tem EBITDA positivo, que desenvolveu uma tecnologia inédita, que domina um mercado em ascensão e que aposta em pessoas para atingir resultados sólidos.

Mas afinal, o que é a Watch? Eleita uma das 100 melhores empresas do Paraná para se trabalhar, segundo ranking do Great Place to Work (GPTW), a empresa foi criada em 2018 e hoje atua como um hub de conteúdo. Seu app oferece serviço de streaming de vídeo com canais ao vivo e on demand (com contrato com os principais estúdios de Hollywood) para provedores de internet (ISPs). Ou seja, se você assinar determinado provedor, pode ter acesso à Watch.

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Para ficar mais fácil de entender, numa “tradução” bem popular, a empresa funciona como funcionavam as antigas TVs a cabo, ou TVs por assinatura. A diferença é que sua recepção é pela internet, direto no dispositivo móvel do cliente ou na sua SmarTV.

Como tudo começou

Maurício Almeida é o CEO da Watch, e também o seu fundador. Com larga experiência em provedores de internet – desde os tempos da conexão discada – o empresário se revelou um profundo conhecedor deste mercado tão promissor no início dos anos 2000. Foi nessa época que Maurício veio para a capital paranaense, trabalhar para o portal IG, um dos pioneiros do país em e-commerce.  “A gente vendia pizza no boleto, irmão. O pagamento compensava bem depois de ter comido a pizza”.

Imagem mostr ao personagem entrevistado pela matéria em frente a um painel com várias imagens de televisores antigos. Ele veste camisa branca e calça jeans
Maurício Almeida é o CEO da Watch Brasil, empresa de Curitiba, que tem escritórios em São Paulo, Manaus e Lisboa (POR). Foto: Átila Alberti / Tribuna do Paraná

Na época ele teve muito contato com os ISPs. Após sair do IG, abriu uma empresa e em 2013 foi contratado para desenvolver uma solução para a TV Digital (o embrião do que seriam os conversores). Viajou o mundo (China, Taiwan, Japão e Estados Unidos) para conhecer as ferramentas necessárias para isso, mas as palavras “TV por IP” estavam na boca de todos os interlocutores. Pesquisou, gostou da ideia, mas para colocá-la em prática precisava de um provedor de internet.

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Descobriu um à venda, no interior do Paraná. “Era em Jacarezinho. O cara tinha 156 assinantes – nunca vou esquecer esse número. A gente comprou e começou a testar esse modelo de TV. No segundo mês em que fechei as contas, mostrei pros caras (sócios) e chegamos à conclusão de que era um negócio muito bom”, explicou Maurício, que ainda tocava o desenvolvimento das “caixinhas” para TV Digital.

Em poucos anos o provedor cresceu e em 2016 ele foi vendido, já com 56 mil assinantes. O mercado dos provedores cresceu e graças à expertise adquirida, veio o estalo. “A Watch nasceu na sala da minha casa. O mercado dos provedores crescia absurdamente e como eu conhecia muita gente, na corrida do ouro, ao invés de ir atrás do ouro, resolvi vender a picareta”.

Diferencial

A experiência com a internet, TV digital, TVs por IP e provedores colocou Maurício em uma posição única. “Eles viam em mim um organizador de um mercado extremamente pulverizado e um fornecedor de tecnologia. Ter uma tecnologia própria, de 5, 10, 100 mil assinantes, é muito caro. Aí criei uma exclusivamente ‘B to B to C’ para provedores fazerem os combos e brigarem de igual para igual”, contou. “É muito legal ver que Curitiba está na briga, de igual para igual, com as BIG Telcos”, orgulha-se.

O começo, porém, não foi fácil. Maurício conta que falou com 30 potenciais parceiros no começo, mas 25 o chamaram de maluco. “Cinco acreditaram em mim e no projeto, e hoje o que temos aqui é tecnologia de ponta, feita aqui em Curitiba para o mundo”. Segundo ele, para a transmissão de um arquivo em vídeo em tempo real é necessária uma tecnologia particular, que faça o encoder e transcoder do vídeo.

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“Existe um protocolo chamado SRT Protocol para transferência de vídeo nas mais diversas mídias. Nós temos a única tecnologia nacional capaz disso. Somos membros efetivos do consórcio SRD no mundo. Tudo que acontece sobre isso a gente participa”, conta o CEO da Watch. “Temos uma placa, inclusive, que reconhece o quanto que a gente contribuiu para o Brasil na indústria. Isso é a inovação na veia, dentro da cidade de Curitiba”.

Tecnologia coloca a Watch numa corrida solitária, sem concorrência. “Concorremos pelo mesmo dinheiro que outras empresas, mas não tem ninguém que presta o mesmo serviço que nós. Tem outras empresas que oferecem streaming, mas são intermediadores. Solução como a nossa, com canais lineares (convencionais), mais conteúdos sob demanda, mais rádio e audiobooks, não tem ninguém”.

Foco em pessoas

Colaboradores da Watch recebendo prêmio no GPTW deste ano. Foto: Roberto Souza / GPTW

A empresa se orgulha de cuidar bem dos seus. O departamento de pessoas e cultura recebe todo o suporte dos sócios, em especial de Maurício. “Nosso turnover de pessoas que pedem demissão é baixíssimo. Conseguimos manter, atrair talentos de empresas grandes e já começa o boca-a-boca, de que aqui tem coisas diferentes de outros lugares”.

Os benefícios oferecidos aos colaboradores, as boas lideranças e o clima via de regra positivo gerou duas situações curiosas no último ano. Colaboradores com competência reconhecida, que se demitiram por outras propostas profissionais, pediram para voltar poucos meses depois.

“Sabe porque isso acontece? Por que isso toma quase metade do meu tempo. É o foco que eu dou para as coisas”, disse. “Tivemos uma QA que pediu demissão e passou um mês ela quis voltar. É algo muito gratificante. É como ir bem no GPTW, mas não pela placa que ganhamos, pelos valores. Queremos ser um lugar bom para se trabalhar. No começo de setembro a empresa foi eleita uma das 100 melhores empresas do Paraná para se trabalhar.

Uma das iniciativas mais recentes presenteou os colaboradores que têm filhos em idade escolar com notebooks. Não foram máquinas novas, mas sim os equipamentos usados pelos próprios funcionários, que periodicamente são substituídos, já que a tecnologia avança rápido. Os funcionários manifestaram interesse e simplesmente levaram os computadores – revisados – pra casa. O restante – afinal sobraram vários – foram doados para ONGs locais.

No caminho para deixar de ser considerada uma startup, a Watch ainda tem desafios comuns às empresas de tecnologia nascidas há pouco tempo. “No começo a gente tinha 10 incêndios por dia para apagar e tinha que escolher qual combater. Hoje se temos 10 incêndios, tenho balde de água e gente pra apagar 7”, exemplificou.

Em 1º de janeiro de 2025 a Watch tinha 140 funcionários. Hoje, meados de setembro, são 212. “Toda hora estou aprovando novas vagas e contratações. Isso tudo considerando o avanço da Inteligência Artificial. A gente super apoia o uso. Praticamente todos os funcionários têm ferramentas como o Chat GPT pagos pela empresa para incentivar a cultura do uso dessa tecnologia, que é só a ponta do iceberg”.

Na empresa, a cultura também dá força às mulheres, num ambiente tradicionalmente masculino. “Veja ali, na sala ao lado. Tem uma reunião agora e na mesa são 12 mulheres e só 2 homens. Ainda temos dificuldades em contratar desenvolvedoras mulheres, mas estamos atrás sempre. E o nosso Censo mostra que a diversidade também é incentivada e tudo funciona com muita harmonia. Não é uma questão, uma pauta. É muito natural”

Expansão

Foto: Átila Alberti / Tribuna do Paraná

A Watch não descarta “dar um passo” além, para chegar diretamente ao consumidor final, sem intermediários. Mas isso é um projeto distante, pois o campo de atuação atual -e o lucro em potencial – é gigantesco. Atualmente a empresa tem 215 funcionários, escritórios em Curitiba, São Paulo, Manaus e Lisboa (Portugal) e é parceira de cerca de 2 mil provedores, tendo como principais clientes empresas do porte da Ligga, Vero, Giga+, Alares e Giga+TV.

“A gente tem muito pra crescer hoje. Hoje temos parceria com 2100 provedores, que é apenas 10% dos 22 mil que existem no Brasil. Dos 14 milhões de lares que são clientes destes provedores, estão em apenas 23% deles. É uma avenida gigante. Tem muita coisa para fazer”, explicou Maurício, deixando claro de que o futuro da empresa pode levá-la ao consumidor final.

Falando nele, o consumidor final, um novo produto é a Awdio, um serviço de streaming para rádios. A Watch apresentou a novidade em um stand no Congresso da AERP, que terminou nesta quinta-feira, em Curitiba.

“Fizemos parceira com a AERP, a associação de rádios mais bem montada do Brasil. A gente fornece um app pro ouvinte, mas uma série de ferramentas tecnológicas para as rádios. Jogamos a emissora no mundo digital e trazemos para ela publicidade programática, o que é totalmente revolucionário. Dinheiro novo para movimentar esse meio, que ficou muito tempo parado no tempo”.

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