A conta dos atendimentos médicos de urgência e emergência prestados em Curitiba continua sem equilíbrio para fechar. De um lado, a frota de veículos sem renovação frequente resulta em ambulâncias sucateadas nas ruas, dividindo tempo entre resgates e pátios de oficinas. De outro, a contenção orçamentária gera desfalque nas equipes que prestam o serviço, limitando a eficácia dos atendimentos.

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“Antes tínhamos as ambulâncias que ficavam um bom tempo paradas. Depois, veio o drama das escalas de trabalho, que não pode chamar ninguém para fazer hora extra e aí não tem gente o suficiente”, afirmou uma fonte que trabalha no sistema ouvida pela reportagem.

Por falta de equipe, o funcionário relata que chegou a ser impedido de trabalhar em um plantão noturno no mês de maio. Duas pessoas da equipe faltaram, o que impediu os atendimentos na base em que estava. “Eu tenho até vergonha de dizer, mas o que eu fiz foi puxar a coberta e dormir. O que eu ia fazer? ”, questiona.

Previsões de escala de trabalho do Samu em Curitiba às quais a reportagem teve acesso corroboram um cenário apertado em que tanto baixas de veículos como equipes incompletas impedem a prestação do serviço em sua totalidade. No dia 27 de maio, por exemplo, segundo a escala, duas ambulâncias (Cajuru e Tatuquara) ficaram fora das atividades no período diurno e uma (Boqueirão), no período noturno. Além disso, três equipes diurnas (Boqueirão, Sítio Cercado e Pinheirinho) e duas noturnas (Boa Vista e Sítio Cercado) estavam incompletas.

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A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) afirma que o problema não causa grandes prejuízos à população, mas admite não ter capacidade para completar a equipe de profissionais de enfermagem empregada no Samu.

Limitações

Atualmente, a frota do serviço em Curitiba é composta por oito ambulâncias de suporte avançado (com UTI) e 15 de suporte básico. Além de oito médicos, 180 profissionais de enfermagem formam o quadro de servidores que atuam nos atendimentos, prestados 24 horas por dia. É justamente a equipe de enfermeiros e técnicos que precisaria ser elevada em ao menos 40 profissionais para garantir fôlego ao serviço.

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“Hoje nós não temos capacidade de completar o quadro com profissionais de enfermagem no Samu. Trabalhamos então com horas extras de funcionários que já atuam no Samu, mas isso também está submetido ao orçamento. Significa que, pontualmente, quando um funcionário tira férias, pode ser que não seja possível substituí-lo. Isso explica o fato de que a gente tenha duas ambulâncias, pontualmente três ambulâncias em operação sem equipe completa. É uma dificuldade realmente”, reconhece o diretor do Departamento de Urgência e Emergência, o médico Vinícius Filipak.

Segundo o diretor, apesar das limitações, ainda é possível garantir a qualidade dos atendimentos com a composição atual da equipe. Isso porque a média de resgates atendidos diariamente, entre 170 e 180, permite um número menor de dez atendimentos a cada 24 horas por cada ambulância. “Os dados que possuímos dão conta que, mesmo com essa eventual redução em alguns dias, não há prejuízo significativo para a população. Os atendimentos mais críticos sempre são atendidos da melhor forma possível” , disse.

Mesmo assim, a pendência de profissionais pode impedir que uma ambulância saia da garagem. Os veículos de suporte básico, obrigatoriamente, precisam ser operadas por um condutor socorrista e um enfermeiro. Já a de suporte de avançado deve ter também um médico.

Se o médico faltar, não sai, mas se houver falta de enfermeiro, a abrangência dos atendimentos é reduzida.

“A ambulância pode ser liberada sem enfermeiro, mas existe uma limitação de gravidade de pacientes que podem ser atendidos por essa equipe. Sem equipe completa, com médico e enfermeiros, alguns procedimentos que são mais críticos são difíceis de médico realizar o atendimento sozinho”, admite Filipak.

Fora das ruas

Das 23 ambulâncias que formam a frota do Samu em Curitiba, seis estavam fora de operação nesta segunda-feira (10) por problemas mecânicos. A SMS garante, contudo, possuir dez ambulâncias reserva para ajudar no gerenciamento das manutenções. Este extra, no entanto, não resolve o problema por completo.

De acordo com o diretor, não existe critério do Ministério da Saúde, que é quem fornece as ambulâncias do Samu, para definir o tempo máximo de uso da frota. “Eles fazem uma limitação técnica que acaba sendo limitada na questão orçamentária: quem tem frotas mais antigas e têm mais atendimentos têm reposição, mas essa reposição não é, infelizmente, tão frequente quanto poderia ser. De modo que a gente fica rodando com ambulâncias antigas. É claro que elas estragam mais rápido e ficam mais tempo em manutenção”, ressalta Filipak.

Atualmente, as quatro ambulâncias mais antigas da frota do Samu de Curitiba rodam há dez anos.