O prefeito Rafael Greca criticou duramente nesta quinta-feira (9) a decisão dos empresários do transporte coletivo de Curitiba de reduzir pela metade o salário de motoristas e cobradores de ônibus durante a pandemia de coronavírus. Em entrevista à rede de TV CNN, Greca afirmou que as empresas têm dinheiro em caixa e não precisam fazer isso.

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“O transporte coletivo tem que funcionar. Ontem fiquei furioso com os empresários de ônibus de Curitiba que pagaram só uma parte dos salários de seus motoristas”, foi enfático o prefeito.

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Greca garante que não há motivo para os empresários reduzirem os salários dos motoristas e cobradores com a queda de passageiros no sistema. “Eu tinha pago R$ 51 milhões para eles na véspera e eles me disseram que não tinham R$ 26 milhões para pagar aos seus motoristas. Mandei dizer que parem com isso”, exigiu o prefeito na entrevista.

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“Não é hora de ganhar dinheiro. A hora agora é de exercer a humanidade, de colocar o coração nas mãos e oferecer para o próximo. É hora de cada um perguntar o que pode fazer pelo proximo”, concluiu o prefeito.

Em nota, o Setransp, sindicato patronal que representa as empresas de transporte, rebate os números do prefeito. De acordo com a entidade, mais da metade do orçamento mensal de R$ 77 milhões das empresas é destinado ao pagamento de funcionários. Em março, com a queda de 75% no número de passageiros por causa do coronavírus, o valor total repassado às empresas pela Urbs, empresa municipal que gerencia o transporte coletivo, caiu para R$ 51 milhões.

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“Ou seja, faltaram R$ 26 milhões para cobrir os custos do sistema. É por isso que, embora tenham feito todos os esforços, metade das empresas de ônibus de Curitiba não conseguiu honrar com 100% do salário de seus colaboradores no dia do pagamento”, alega o Setransp em nota.

A entidade ainda informa que pagou 70% do total dos salários dos motoristas e cobradores. E cobra uma ação do poder público para socorrer o setor. “As empresas reforçam o pedido para que os poderes públicos criem um plano de socorro ao setor, a fim de garantir a operação do transporte coletivo e a manutenção dos empregos. O transporte coletivo é um serviço essencial, que mantém outras atividades essenciais em funcionamento. O Setransp espera a compreensão do atual momento pelas autoridades”

A redução

Cerca de 5 mil funcionários do sistema de transporte coletivo de Curitiba descobriram que receberam apenas metade de seus salários segunda-feira (6). A justificativa, de acordo com o Setransp, é a queda brusca de passageiros por causa da pandemia. Isso diminiu o valor do repasse da Urbs, a empresa municipal que gerencia o sistema, às empresas.

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A situação atinge motoristas e cobradores de cinco das dez empresas do sistema: Gloria, CCD, São José Filial, Tamandaré e Viação Sorriso. Essas empresas se comprometeram a pagar o restante dos salários ainda em abril: algumas em parcela única e outras em duas vezes.

O Sindimoc, sindicato que representa motoristas e cobradores, declara que só ficou sabendo da medida segunda-feira (6), quando os salários não foram pagos integralmente. De acordo com o sindicato, não houve nenhum acordo prévio ou negociação para parcelamento. O sindicato já esperava que algo semelhante pudesse acontecer, diante da queda de arrecadação, embora empresas e poder público tivessem se comprometido a manter a remuneração.

De acordo com a Urbs, a redução de passageiros chega a 80% nos ônibus por causa do isolamento social para prevenir o covid-19. Foram 164.842 passageiros no sistema na última quinta-feira (2), enquanto que no dia 10 de março, antes das medidas preventivas, 756.167 passageiros circularam pelos ônibus.
O Ministério Público do Trabalho (MPT) foi acionado para acompanhar o caso.