Alunos se revoltam!

Quebradeira e violência! Prédio central da UFPR é invadido por grupo mascarado

Um grupo de pessoas mascaradas ocupou o prédio histórico da Universidade Federal do Paraná (UFPR), na Praça Santos Andrade. De acordo com alunos, o grupo chegou ao câmpus por volta das 22h30, no horário da saída de aula. Houve quebra-quebra e sobraram empurrões entre os alunos e esse grupo. A porta de entrada principal teve os vidros quebrados e alguns estudantes se cortaram. Os mascarados empunham uma bandeira nas cores vermelha e preta.

Num vídeo ao vivo postado no perfil do grupo CWB contra Temer era possível ouvir os mascarados gritando “vaza, c******” para os alunos, funcionários e professores que deixavam o prédio. Após a saída, a porta principal do prédio foi acorrentada. Eles também gritavam palavras de ordem e agitaram uma bandeira vermelha e preta, dividida diagonalmente, em partes iguais. Os membros mascarados da ocupação afirmavam que a quebra da porta foi feita por pessoas de fora do movimento e um aluno teria sido esfaqueado.

Um sofá foi colocado contra a porta de entrada, pelo lado de dentro, de forma a não permitir que seja visto o que é feito dentro do prédio.

Na manhã desta sexta-feira (04), funcionários da universidade foram impedidos de entrar para o trabalhoe vários alunos contrarios ao movimento retiraram as faixas que foram penduradas pelo lado de fora.

Alunos contam o que viram

Em entrevista por telefone, Marcus Paulo Röder, estudante do quarto ano do curso de Direito, afirmou que os mascarados entraram no prédio perto do término das aulas e se espalharam pelos andares. Segundo ele, houve intimidação por parte dos manifestantes contra estudantes, professores e funcionários e aparentemente haveria menores de idade entre os integrantes da ocupação. Segundo Röder, ele, colegas, docentes e servidores foram mantidos contra a vontade dentro do prédio por cerca de meia hora.

A Gazeta do Povo conversou com mais alunos, que não quiseram se identificar. Um deles contou que estava dentro do prédio, no fim da aula, quando percebeu a movimentação estranha no local. Ele relata que o grupo que invadiu a Santos Andrade colocou os alunos e professores em uma espécie de isolamento “Encarceraram a gente para nos liberar no momento que fosse mais conveniente”, contou. Os alunos foram colocados em fila indiana e liberados, um a um, quando só havia pessoas do grupo de mascarados controlando os acessos. Ele afirma que não reconhece a maior parte do grupo de mascarados como alunos do curso. “Os verdadeiros alunos estão impedidos de entrar no prédio histórico”, afirmou.

Outro aluno afirmou que presenciou ameaças (inclusive de morte), depredação e agressão a pessoas que tentaram evitar a invasão. Ele diz que enquanto o grupo gritava ‘ocupar e resistir’, os alunos retrucavam com ‘trabalhar e estudar’.

Um dos alunos se envolveu em uma confusão com o grupo. Ele relata que estava tentando sair quando viu os encapuzados entrarem na universidade. “Teve uma confusão, me jogaram contra a porta e eu cortei meu braço. Os alunos de Direito me puxaram para fora enquanto essa guerrilha tentava me agredir”, disse. Ele contou que a ação foi muito rápida e que o grupo entrou e trancou as portas com cadeados.

Assembleia permanente

Segundo alunos do curso de Direito, no início da semana houve uma assembleia entre os alunos, em que foi decido manter uma assembleia permanente para discutir o caso. Na próxima segunda-feira, seria feita uma votação, com urnas, pela greve estudantil e possível ocupação do prédio. Há dois grupos fortes no curso: um favorável e outro contrário à ocupação.

“Não estava lá, nem eu nem qualquer membro de centro acadêmico. [A ocupação] não teve nenhuma participação do centro. O que temos é uma assembleia marcada para segunda-feira que vai deliberar sobre a ocupação do prédio histórico e também a possibilidade de uma greve estudantil”, explicou Luís Machado, secretário do Centro Acadêmico Hugo Simas.

De acordo com o estudante, a ocupação do prédio central da UFPR na noite desta quinta-feira (3) pode fazer com que o centro antecipe a votação de uma ocupação permanente no local. “Vamos analisar, mas existe sim a chance”.

Alunos contrários à ocupação da Santos Andrade vão realizar um ato nesta sexta-feira (4). O protesto deve ocorrer às 11h, mas a mobilização começa desde o início previsto das aulas, às 7h30.

Repercussão

A direção da faculdade está acompanhando de perto a situação com um representante da Comissão de Direitos Humanos da OAB. “No momento, estamos conversando e dialogando. Os incidentes que aconteceram já pararam”, disse Vera Karam de Chueiri, diretora do curso.

Vera, juntamente com o professor Sandro Lunardi, fizeram a negociação com o grupo que invadiu a Santos Andrade. A diretora do curso contou que o grupo assumiu o compromisso de não ocupar a area administrativa, a pós-graduação e o Salão Nobre. Essas áreas devem ser isoladas e a ocupação do prédio deve se limitar às salas de aula. Na ocupação há alunos da faculdade de Direito, de outros cursos da UFPR e pessoas ligadas a movimentos sociais. O grupo teria afirmado que o prédio da Santos Andrade é um símbolo da cidade e ocupá-lo significa dá visibilidade ao movimento na cidade.

Os partidos da faculdade de Direito se manifestaram nesta noite sobre a invasão ao prédio da Santos Andrade. O Partido Acadêmico Renovador (PAR), historicamente alinhado à esquerda, posicionou-se contra a ocupação. “O que ocorreu foi um movimento forçado, feito de maneira imposta e sem consulta à comunidade acadêmica. Atitudes como essa, feitas de maneira precipitada, somente contribuem para a já problemática demonização de movimentos de resistência”, diz a nota postada no Facebook.

Já o Partido Democrático Universitário (PDU),tradicionalmente com inclinação à direita, também posicionou-se contra a ação. “O PDU se opõe veementemente a qualquer ato de violência e de depredação, devendo ser preservada a verdadeira democracia”, diz a nota.

Leia a nota do PAR na íntegra:

As ocupações secundaristas foram um exemplo incrível de luta e perseverança da juventude brasileira, que, mesmo em um momento de perda de direitos e demonização dos movimentos sociais, conseguiu resistir com ímpeto. O protesto contra a PEC 241 (55) e outras medidas questionáveis do governo Michel Temer vêm sendo fortes e importantes, pois fomentam o debate acerca do governo golpista e expandem a participação popular sobre política.

Depois do florescer da primavera secundarista, aumentaram as greves nas universidades federais, que, somente depois de Assembleia e legitimação dos estudantes, iniciaram ocupações importantes, justas e válidas. O Partido Acadêmico Renovador assim, apoia, com veemência, os movimentos de protesto já citados. Contudo, deixa claro que reconhecemos e apoiamos as ocupações somente mediante o apoio da base estudantil e com legitimidade de Assembleia.

Diante disso, o PAR posiciona-se contra a ocupação que se deu hoje na Santos Andrade. O que ocorreu foi um movimento forçado, feito de maneira imposta e sem consulta à comunidade acadêmica. Atitudes como essa, feitas de maneira precipitada, somente contribuem para a já problemática demonização de movimentos de resistência.

Mobilização estudantil vem de discussão. Muita discussão. Às vezes com os ânimos exaltados, às vezes infindáveis. E discussão vem também de escutar o que o outro lado diz. Vem, principalmente, de aceitar que, eventualmente, nossos argumentos não bastam ao convencimento. O PAR se coloca hoje, mais do que nunca, ao lado da democracia. Não temos medo dela, e nunca teremos.

Leia a nota do PDU na íntegra

No decorrer da semana, deliberou-se em Assembleia do CAHS que ocorreria na próxima segunda-feira deliberação sobre apoio/realização de ocupação no Prédio Histórico. A Assembleia de segunda-feira acaba de perder objeto.

O Prédio Histórico da UFPR acaba de ser ocupado por estudantes, muitos deles encapuzados, alguns trajados com vestimentas que os identificam como alunos do Direito UFPR. Atropelaram a Assembleia e a democracia.

Não bastasse o esbulho possessório de prédio público federal, há notícia de depredação e de violência contra alunos que estavam no prédio no momento do ato, alguns inclusive sendo mantidos presos para o lado de dentro.

O PDU se opõe veementemente a qualquer ato de violência e de depredação, devendo ser preservada a verdadeira democracia.

Veja a nota da atual gestão do Centro Acadêmico Hugo Simas

A gestão do CAHS recebeu de sobressalto a notícia de ocupação do Prédio Histórico. Estamos em contato com a Direção da faculdade, para tomar as medidas que cabem exclusivamente ao Centro Acadêmico.

O CAHS repudia o uso da violência e qualquer autoritarismo.

Nenhum membro do Conselho Administrativo do CAHS participou da ocupação.

Já havíamos planejado os eventos de amanhã, cumprindo deliberação da assembleia de segunda-feira´, apoiada por várias força estudantis da faculdade. O CAHS fará a defesa incansável da vontade soberana dos estudantes.

*Por Fernanda Trisotto, Fabiano Klostermann, Carlos Vicelli e Marcus Ayres, com informações de Joana Neitsch

Unespar ocpuada

Na manhã desta sexta-feira (4), estudantes da Universidade Estadual do Paraná (Unespar), Campus de Curitiba II, onde fica a Faculdade de Artes do Paraná (FAP) também ocuparam o prédio. Conforme apurou a Tribuna do Paraná, a ocupação segue pacífica e os jovens apenas estenderam faixas e colaram cartazes pelo prédio. Para evitar conflitos, os funcionários foram todos dispensados.

Foto: Antônio More.
Foto: Antônio More.