Irmão do ex-governador do Paraná e candidato ao Senado Beto Richa (PSDB), José Richa Filho, o Pepe Richa, pode ter recebido carro, imóvel e até um refrigerador do esquema de corrupção revelado pela segunda fase da Operação Integração, deflagrada no último dia 26 pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal (MPF). A suspeita dos investigadores em torno de pagamentos de despesas pessoais de Pepe Richa recai na relação que ele teria com os irmãos Elias Abdo Filho e Ivano Abdo, proprietários das empresas Ivano Abdo Construções e Incorporações (IACON) e Iasin Sinalização (IASIN).

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De modo geral, a investigação aponta que concessionárias de rodovias que atuam no Anel de Integração pagavam propina para servidores públicos do alto escalão do governo do Paraná, como funcionários do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), órgão vinculado à Secretaria de Infraestrutura e Logística, pasta comandada por Pepe Richa durante os dois mandatos de Beto Richa no Executivo estadual (entre janeiro de 2011 e abril de 2018).

Uma das maneiras encontradas pelas concessionárias de pedágio para transferir dinheiro a agentes públicos, incluindo Pepe Richa, seria através da contratação de empresas. “Há robustas evidências técnicas de que a IASIN e a IACON eram contratadas de forma superfaturada pelas concessionárias de pedágio e empregavam, em seu âmbito interno, expedientes aptos a gerar disponibilidade de recursos não declarados, possivelmente em espécie”, aponta o MPF.

A manobra foi revelada aos investigadores pelo ex-diretor-geral do DER Nelson Leal Júnior, alvo da primeira fase da Operação Integração, deflagrada em fevereiro, e que, depois, acabou se tornando um delator. Nelson Leal Júnior pontuou que entre “importantes intermediários de produção de dinheiro em espécie para as concessionárias de pedágio” estavam as empresas IACON e a IASIN.

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No cadastro na Receita Federal, consultado pela Gazeta do Povo, consta que Elias Abdo Filho e Ivano Abdo são sócios da IACON, aberta em 1984; e Ivano Abdo e Ana Heloisa Munhoz Abdo são os donos da IASIN, aberta em 1997.

Levantamento dos investigadores mostra que, entre 2005 e 2016, as duas empresas receberam, juntas, mais de R$ 30 milhões de quatro concessionárias de pedágio.

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Elias, Ivano e Pepe Richa estão presos preventivamente, na esteira da segunda fase da Operação Integração. Ao MPF, nenhum dos três admitiu crimes.

Carro

Nas peças da investigação, o MPF e a PF miram a aquisição, em 2016, de um automóvel Mitsubishi ASX, em nome de Pepe Richa. Ao menos um de quatro boletos da compra teria sido pago por Elias Abdo Filho. “Importante destacar que, no dia deste pagamento (12/01/2016), Elias Abdo Filho recebeu em sua conta dois créditos da empresa da qual é sócio, a Iacon, um no valor de R$ 25 mil e outro de R$ 8,5 mil”, anotaram os investigadores. Os quatro boletos somariam R$ 64 mil.

Às autoridades, a empresa B7 Veículos ainda informou que R$ 46 mil foram pagos mediante depósito bancário feito pela empresa Grãos Brasil Comércio, Importação e Exportação de Cereais. “Os dados fiscais de Pepe Richa revelam que ele declara a aquisição do automóvel, mas não faz referência alguma à Grãos Brasil”, apontaram os investigadores.

Outra informação chamou a atenção das autoridades: o MPF sustenta que a empresa Grãos Brasil tem sede idêntica à KLM Brasil Indústria Eletrônica, que é ligada a Luiz Abi Antoun, primo de Pepe Richa e apontado pela Operação Integração como uma espécie de responsável pelo caixa geral de dinheiro ilícito da gestão Beto Richa. Ele nega.

Imóvel

Elias Abdo Filho e Pepe Richa também são proprietários, juntos, de um imóvel em Balneário Camboriú, que, suspeitam as autoridades, pode ter sido adquirido para lavar dinheiro. Trata-se de um imóvel com mais de 35 mil metros quadrados, localizado no bairro Barra Sul.

Um laudo elaborado a pedido das autoridades, e anexado à investigação, mostra que o valor real do imóvel seria de R$ 2 milhões, e não de R$ 800 mil como foi declarado pela dupla. Além disso, um dos vendedores, Walgenor Teixeira, afirmou que recebeu R$ 500 mil em espécie embrulhados em um jornal, e entregues diretamente por Pepe Richa.

Refrigerador

Outra compra suspeita identificada pela PF e pelo MPF é a de um refrigerador, comprado por Luiz Cláudio da Luz, também alvo da Operação Integração, e ex-chefe de gabinete de Pepe Richa. O eletrodoméstico, no valor de R$ 9.746,80, foi comprado por Luiz Cláudio da Luz na loja Fast Shop, em 13 de setembro de 2012, mas, foi entregue na residência de Pepe Filho. “Não há, nos dados fiscais de José Richa Filho, referência a nenhuma relação jurídica declarada com Luiz Cláudio da Luz que seja apta a justificar este ou outros pagamentos”, registram os investigadores.

De acordo com o delator Nelson Leal Júnior, Cláudio da Luz era um dos destinatários da propina arrecadada junto às concessionárias de pedágio. “Esta compra, portanto, é uma das possíveis formas de ocultação, por José Richa Filho, do produto dos ilícitos arrecadados no esquema de propina”, suspeita o MPF.

Chamado a prestar esclarecimentos, Pepe Filho ficou em silêncio. Já Luiz Cláudio da Luz negou às autoridades ter pago qualquer despesa pessoal de Pepe Richa. “Ressalte-se que, na época, Luiz Cláudio da Luz percebia remuneração mensal de aproximadamente R$ 8 mil, sendo exótica a aquisição em prol de seu superior de artigo luxuoso que supera o rendimento mensal do agente público”, observa o MPF.

Outro lado

A Gazeta do Povo não conseguiu contato com as defesas dos irmãos Elias Abdo Filho e Ivano Abdo; ninguém atendeu as ligações nas empresas IACON e IASIN.

A defesa de Luiz Cláudio da Luz não foi encontrada para comentar as acusações.

A defesa de Pepe Richa tem dito que o ex-secretário “confia que sua inocência restará provada na conclusão do processo”. A Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR) esclareceu que está “contribuindo com as autoridades, fornecendo todas as informações necessárias”.