Quebrou o padrão

Novos ônibus de Curitiba criam confusão de cores nas linhas

Novos ônibus têm sido usados em diferentes tipos de linhas, quebrando os padrões de cores usados há anos na cidade. Foto: Luiz costa/SMCS
Novos ônibus têm sido usados em diferentes tipos de linhas, quebrando os padrões de cores usados há anos na cidade. Foto: Luiz costa/SMCS

A renovação da frota do transporte público em Curitiba que teve início no fim de 2018, mas se intensificou em 2019, modificou a Rede Integrada de Transporte (RIT) e o colorido nas ruas da capital paranaense. Dos 262 ônibus entregues, 141 são “intercambiáveis”. Isso significa que dezenas de linhas convencionais, caracterizadas historicamente pelos tradicionais ônibus amarelos, agora estão sendo servidas também por veículos de cor laranja, antes limitados às linhas alimentadoras. O motivo: maior economia e busca de mais eficiência.

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A RIT, criada em 1974, lançou Curitiba como modelo de excelência em transporte e cresceu baseada em um sistema de cores para as diferentes linhas. As convencionais, veículos de cor amarela, ligam os terminais de ônibus ao centro; os alimentadores, de cor laranja, ligam os bairros aos terminais; os expressos, vermelhos, veículos de grande capacidade, biarticulados de ligação do bairro com o centro em vias exclusivas; os Interbairros, na cor verde. Em 1991, foram criados os “Ligeirinhos”, na cor cinza, operando nas estações-tubo; em 2010, os “Ligeirões”, na cor azul, de operação nas canaletas exclusivas, com número reduzido de paradas.

Em 2018, entrou em operação o Ligeirão Vermelho, na linha Santa Cândida/Praça do Japão. A escolha da cor do ônibus foi proposital. “A opção em não continuar com a cor azul nas novas linhas de Ligeirão é para flexibilizar a operação dos expressos”, anunciou a prefeitura em fevereiro do ano passado. “Com a cor vermelha, pode-se usar os ônibus já existentes na frota quando for necessário, sem precisar comprar mais veículos azuis para ficar na reserva. Isso é um dos itens que ajuda a prefeitura a conseguir segurar o valor da tarifa”, explicou na ocasião o presidente da Urbs, Ogeny Pedro Maia Neto. A cor do veículo causou confusão entre usuários nos primeiros dias de operação, mas o problema foi superado.

Após essa experiência, a renovação da frota seguiu a mesma trilha. Segundo a prefeitura, as empresas de ônibus solicitaram à Urbs, que aprovou a medida, permitindo maior flexibilidade nas operações. Isso porque o contrato prevê uma frota reserva de 10% do total. Antes, para uma frota de 15 carros alimentadores e 15 carros convencionais, eram necessários 4 reservas. Com a unificação das cores, basta ter 3 veículos reservas, reduzindo gastos de aquisição e manutenção, informou a assessoria da Urbs.

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Para manter a categorização tradicional, os veículos laranja que forem usados nas linhas convencionais usarão uma placa amarela em local visível no parabrisa; e os amarelos que forem usados em linhas alimentadoras terão uma placa laranja.

Segundo a Urbs, a unificação de cor será apenas para os sistemas Ligeirão (azul) e Parador (vermelha) para a cor vermelha e, para as linhas alimentadoras (laranja) e convencionais (amarela) para a cor laranja. No fim de maio, a linha Interbairros 2, de cor verde, chegou a ser atendida por um articulado laranja, mas a Urbs informou que essa foi uma situação pontual e que não deve mais ocorrer.

Ao que parece, os usuários não viram problemas na mudança de cor da linha. Segundo a Urbs, há registro de apenas uma reclamação na ouvidoria do órgão. O arquiteto e urbanista Carlos Hardt, professor do programa de Gestão Urbana da PUCPR, avalia que eventuais prejuízos ao usuário nesse caso são pequenos frente às vantagens. “Parece ser bastante lógico, não precisar deixar tantos ônibus em espera em condições de ser utilizados para eventualidades. Claro que um ônibus simples não pode substituir um biarticulado, mas no geral parece uma forma sensata de utilizar melhor os recursos”, observa.

A prefeitura alega que não há impacto negativo na imagem do sistema de transporte coletivo, que “seguirá sendo exemplo para outras cidades brasileiras e do mundo”. As características fundamentais da RIT estão mantidas, diz a assessoria da Urbs: “integração com o uso do solo e sistema viário, configurando uma cidade com crescimento linear; amplo acesso com o pagamento de uma única tarifa; prioridade do transporte coletivo sobre o individual; serviço atrelado à uma rede de alimentadores; os terminais de integração e terminais fora dos eixos principais para ampliar a integração; mais de 80 quilômetros de canaletas, vias ou faixas exclusivas, caracterizando corredores de transporte; e a utilização da rede integrada de transporte também pelo sistema metropolitano”.

Estações-tubo

Outra mudança que afetará uma característica já tradicional no transporte público de Curitiba é a renovação das estações-tubo do Ligeirinho Inter 2. Toda linha será reformulada, a partir de um financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Serão US$ 106,8 milhões (o equivalente a R$ 427,2 milhões no fim de maio) para a reestruturação viária, implantação de novos corredores para os ônibus e de um novo modelo de estações, climatizadas e autossustentáveis. A contrapartida do município neste projeto é de US$ 26,7 milhões (R$ 106,8 milhões).

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A liberação dos recursos depende ainda do aval da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, mas já foi aprovada pelo governo federal em 29 de maio, em uma reunião da Comissão de Financiamentos Externos (Cofiex), coordenada pela Secretaria de Assuntos Econômicos Internacionais do Ministério da Economia.

Nesse caso, o arquiteto e urbanista Carlos Hardt avalia que há um risco para a imagem do sistema de transporte coletivo de Curitiba. Ele lembra que, ainda nos anos 1970, foi criada uma tipologia própria para os pontos de ônibus e mobiliário, como os de banca de revista, em acrílico, que logo foi associada à cidade. As estações-tubo, lançadas em 1991, assumiram esse papel. “A gente que viaja pelo mundo, tem contato com outros profissionais de gestão urbana, vê que eles logo identificam as estações com Curitiba. Então, a intenção de se criar uma nova linguagem plástica para esse equipamento cria um risco. Não se sabe se ela terá força suficiente para se vincular ao município. O que precisa ser avaliado é o quanto isso vai impactar na operação toda”, observa.

Em entrevista à HAUS no início de abril, o arquiteto e urbanista Abrão Assad, responsável pelo projeto das estações-tubo, fez algumas ponderações. Disse que é direito do prefeito propor novos modelos para a cidade, mas que precisará lidar com as consequências. “Como o Jaime Lerner costuma dizer: não se rasga uma fotografia de família. E ao se desfazer das estações-tubo, um símbolo da cidade, ele terá que prestar contas à sociedade e à história”, declarou na ocasião. “As estações fazem parte da paisagem da cidade e esse novo conceito vai criar uma ruptura na linguagem”, acrescentou.

Na ocasião, o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (Ippuc) afirmou que a proposta é trocar 12 estações tubo do Inter 2, sem substituir todos os equipamentos dos ligeirinhos.

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