Fez história no dial!

“Morte” da tradicional Rádio Clube Paranaense já tem data para acontecer

Rádio CLube B2 do Paraná vai virar Rádio Bandeirantes
Depois de quase 100 anos de existência, Rádio Clube Paranaense vai encerrar suas atividades. Foto: Gerson Klaina

O fim de uma era após 98 anos no ar. A marca vitoriosa da Rádio Clube Paranaense, fundada em 1924, que levou emoção e informação para gerações de ouvintes, no Brasil e no exterior, deixará de existir a partir de agosto. No lugar da primeira rádio paranaense e a terceira mais antiga do país, vai entrar a Rádio Bandeirantes de São Paulo. A emissora paulista passará a ocupar a frequência 101,5 FM. Já o AM 1430, desde 2017, é da Rádio Evangelizar.

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A negociação foi fechada entre o grupo Bandeirantes e a Fundação Nossa Senhora do Rocio. No acordo, parte da programação vai ser comandada pela rede, com sede em São Paulo e com noticiário local em vários períodos do dia, uma parceria entre os antigos gestores com os atuais donos. Além disso, o esporte também vai ser atração da emissora, como característica marcante da Band, com transmissões de jogos do Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil e Copa do Mundo.

Lacuna no rádio do Paraná

O fim da marca Clube vai deixar lembranças e uma enorme lacuna no meio radiofônico do Paraná. Vozes marcantes, vinhetas inesquecíveis e transmissões históricas levaram o nome de Curitiba e do Paraná para quilômetros de distância das sedes que tiveram a placa Rádio Clube Paranaense ou B2 – como era conhecida pelos ouvintes e fãs do potente microfone – que chegou a ser ouvida em países como Japão e Nova Zelândia, em um tempo em que não existia a internet.

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O fim da emissora que chegou a ter 50 quilowatts de potência é classificado como um luto para o meio radiofônico. Capitão Hidalgo, um dos precursores ao lado do narrador Lombardi Junior, da famosa Equipe Positiva, acredita que alguns donos ou gestores não souberam entender que o rádio é prestação de serviço para a comunidade e não somente priorizar o lado financeiro, com parcerias com instituições de outros estados.

“Infelizmente, donos ou gestores não entenderam o valor da Clube e delapidaram a rádio. A notícia do fim deixa a gente triste demais. Era um privilégio fazer uma locução na Rádio Clube, pois era o som do Paraná em todo o Brasil. Lembro quando montamos com o Lombardi Junior, a Equipe Positiva em 1978, quando formamos uma equipe histórica. A nossa ideia era levar o nome da emissora para o restante do país, e a rádio com suas ondas curtas, aumentou esse alcance. Em um mês de Clube, estivemos em Portugal e depois rodamos o mundo. Fizemos a Copa de 1982 na Espanha, e os títulos do Grêmio e Flamengo, no Japão”, relembrou Hidalgo.

“Comunicando na Clube”

Outro locutor famoso que trabalhou na Rádio Clube foi Carlos Kleina. Locutor e jornalista, com 29 anos de emissora, Kleina foi a voz padrão da Clube na programação. Titular absoluto na apresentação por 27 anos de um dos programas mais ouvidos no Brasil, a “Turma do Bate-Papo da AM 1430” e expoente de bordões como “brasileiro não vive sem rádio” e “comunicando na Clube”, o jornalista recorda histórias de ouvintes e companheiros, que acompanhavam a emissora em vários países.

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“Eu praticamente ficava o dia inteiro dentro da rádio. Eu apresentava boletins jornalísticos, esporte e ainda gravava a madrugada musical da Clube. Aquilo ia até às 6 horas da manhã, quando entrava o Algaci Túlio. A Clube foi minha casa e o reconhecimento, na época, era por carta ou telefone. Lembro do Munir Calluf, quando foi treinar uma equipe no Japão, escutava a Clube lá. Mandava carta e a gente respondia”, relatou Kleina.

Ainda para o comunicador, o fim da marca Rádio Clube no FM, é motivo de lamentação para a comunicação no Brasil. “É muito triste. Na vida, a gente precisa entender que o momento ruim virá depois de uma boa fase. No entanto, os diretores não se prepararam para isso, com más administrações. A magia acabou”, lamentou Kleina.

“Nunca imaginei que fosse vivenciar isso um dia”

De técnico de externa a coordenador artístico da Clube FM. A história de Nelinton Rosenau se confunde com o microfone poderoso da Clube. Iniciou em 1986, puxando cabos de transmissão de jogos de futebol e tinha o sonho de trabalhar como repórter. Conseguiu mais do que isso, foram 32 anos indo quase que diariamente para a emissora.

“Eu saí somente por dois anos quando fecharam a equipe de esporte da AM em 2007. Voltei para ser um dos diretores da FM. Eu cresci ouvindo a Clube, tinha um sonho de trabalhar lá e realizei meu sonho. A Clube tem uma história de pioneirismo no rádio brasileiro, principalmente no rádio de Curitiba. É o maior potencial radiofônico do Paraná e estão matando a rádio. Sai lágrimas quando ouço que a Clube acabou. O que eu mais agradeço nesse momento, é que ela não morreu nos meus braços. Eu nunca imaginei que fosse vivenciar isso um dia e jamais imaginei que a gente estaria conversando sobre o fim da Clube”, desabafou Nelinton.

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A reportagem da Tribuna do Paraná procurou a Rádio Clube FM para explicar os motivos do término na marca, mas a direção não atendeu às ligações e nem respondeu as mensagens. Os atuais funcionários pouco foram informados quanto ao futuro dentro da nova emissora. “É um clima preocupante, pois ninguém informou sobre a sequência da equipe ou se seremos demitidos”, disse um colaborador que pediu para não ter o nome divulgado.

História da Clube

A história da emissora que teve programas de auditório, jornalismo e esporte como referência teve início no dia 27 de junho de 1924, às 11h, quando foi ao ar a primeira transmissão experimental. Ela foi realizada por um grupo de radioamadores em um local chamado Mansão das Rosas, na Avenida João Gualberto, nas proximidades do Colégio Estadual do Paraná. Esse grupo fundou o Clube do Amigo, e daí surgiu o nome da emissora.

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Nos primeiros anos de fundação, a emissora funcionava na residência de Lívio Gomes Moreira, com apenas 3 watts de potência. Como a diretoria do clube mudava sempre através de eleições internas, era necessário que cada diretor eleito levasse os equipamentos para sua residência. Essa mudança constante fez com que a emissora tivesse vários endereços, a maioria deles na região central de Curitiba, até o início da década de 1930.

Mesmo com a indefinição de uma sede fixa, isso não impediu que a emissora fosse a primeira estação de rádio do estado a escalar uma locutora. Alice Martins Xavier, efetuou alguns trabalhos para a rádio no ano de 1926.  A Rádio Clube também foi a primeira estação a realizar uma transmissão esportiva ao vivo. Foi durante uma partida Atletiba, em 2 de setembro de 1934. A transmissão foi feita na base de improvisação pelos locutores Jacinto Cunha e Jofre Cabral.

A excelente repercussão dos programas em Curitiba fez com que a Rádio Clube expandisse seu sinal, adquirindo as Ondas Curtas de 25 e 49 metros, e mais tarde com a Onda Curta de 31 metros, levando seu sinal para todo território nacional com programas como o “Revista Matinal”, “Expresso das Quintas”, “Salve o Rádio”, “Repórter Real” e tantos outros.

A Clube teve ao longo dos seus quase 100 anos várias gestões, seja pela Arquidiocese de Curitiba, Irmãos Maristas, Rede Eldorado de São Paulo, Grupo Lumen, Missionários Redentoristas da Província do Estado de São Paulo e Rede Evangelizar.