Só pra achar bonito

Novas viaturas enfeitam a cidade e não atendem ocorrências

Quem costuma passar pelo Centro tem visto, nas últimas semanas, as novas viaturas da Polícia Militar, sempre com um policial de cada lado. Elas fazem parte das quase 500 viaturas entregues à PM desde janeiro. Porém, as viaturas são somente para dar sensação de segurança, porque, conforme a própria PM, os policiais e viaturas não podem sair dos locais onde estão posicionados para atender ocorrências, a não ser que ocorram no alcance da vista dos policiais.

Em função disso, a audácia dos bandidos tem sido grande, a ponto de crimes serem registrados no entorno das viaturas paradas, sem que os cidadãos possam contar com auxílio direto dos policiais. Em 30 de março, um sábado, o analista de informática Rodrigo Samuel Pinto, 29 anos, teve o carro da empresa em que trabalha arrombado na Rua Ébano Pereira, a cerca de 50 metros de uma viatura do 12º Batalhão, estacionada em frente ao Palácio Avenida, na Boca Maldita.

Ordens

Segundo a vítima, três indivíduos roubaram vários pertences de dentro do automóvel. “Rapidamente avisei os policiais que estavam na viatura. Repassei as características dos bandidos, mas os PMs me disseram que não poderiam ir atrás”, revelou Rodrigo.

Os policiais disseram a Rodrigo ter sido orientados a permanecer fixos naquele ponto. “Afirmaram que ficavam parados para mostrar à população que os impostos estão sendo investidos em segurança, mas que segurança é essa?”, questionou Rodrigo. Ele contou que, após os policiais constatarem que nenhuma equipe poderia atender o crime, registraram boletim de ocorrência, mas os três bandidos já estavam longe.

Farmácia

Na noite de 21 de março, próximo dali, no cruzamento das ruas Visconde de Nácar e Comendador Araújo, um assaltante entrou numa farmácia da rede Nissei e, após agredir um cliente e alguns funcionários, fugiu levando R$ 273 do caixa e um celular.

A poucos metros dali acontecia a Feira de Páscoa, da Praça Osório, onde havia uma das novas viatura da PM com dois policiais.

Eles não atenderam à ocorrência e o bandido fugiu. Quase uma hora depois, outra viatura (das velhas) socorreu as vítimas, mas neste episódio também, o bandido não foi preso.
Os policiais na nova viatura nem se mexeram do lugar.

Governo diz que fez maior aquisição da história

De acordo com a Secretaria da Segurança Pública (Sesp), desde o início do ano, 563 novas viaturas foram entregues às polícias, das quais 475 foram para a Polícia Militar (418 Renault Duster e 57 Renault Fluence). “Novas viaturas estão reforçando a atuação das polícias em todas as regiões do Estado. (…) Queremos uma polícia ainda melhor, mais ágil e que dê respostas rápidas à comunidade”, disse o governador Beto Richa, durante a entrega de 18 novas viaturas em Colombo, segunda-feira.

Segundo divulgado pela Agência de Notícias do Paraná, “a ação faz parte da reestruturação da frota policial paranaense. O governo estadual está adquirindo 1.470 novos veículos. “É a maior aquisição de viaturas da história do Paraná. Só um terço foi entregue e já vemos as melhorias na nossa segurança pública”, afirmou Richa. Ele ainda diz, no mesmo texto, que a reestruturação é essencial para o bom desempenho do trabalho de segurança.

Criminalidade

Ainda de acordo com a Agência, a distribuição das viaturas atende ao estudo elaborado pela Coordenadoria de Análise e Planejamento Estratégico, tendo como base os índices de criminalidade.

Módulos parados sobre rodas

A assessoria de imprensa da Polícia Militar informou que o procedimento de deixar as viaturas paradas se chama “PB” (Ponto Base). Seria uma estrat&ea,cute;gia adotada há anos, também nos bairros.

Os policiais ficam em locais estratégicos e, quando alguma ocorrência acontece, são orientados a repassar as informações para outras viaturas. Mesmo que a ocorrência esteja a uma quadra da viatura PB, somente as outras viaturas de área podem atender o chamado.

A assessoria esclareceu que os policiais posicionados ao lado das novas viaturas só podem atender ocorrências que estiverem no campo de visão deles e, mesmo assim, apenas um vai atendê-la. O outro permanece ao lado da viatura.

Reclamação

Até os próprios policiais reclamaram, anonimamente, da decisão, pois além de ter que ficar o dia todo em pé, não podem sair para ir ao banheiro ou comer. Caso contrário, são advertidos pelos superiores.