Ameaça

“Não vou ser a próxima Marielle”, diz Carol Dartora após ameaça de morte

Foto: Arquivo Pessoal

Carol Dartora, a primeira mulher negra a se eleger vereadora em Curitiba, tornou pública uma ameaça de morte recebida neste domingo (6) e os ataques racistas que vem sofrendo desde o resultado das últimas eleições municipais. Em seus perfis no Facebook e no Twitter, a política de 37 anos, filiada ao Partido dos Trabalhadores (PT), expôs uma mensagem recebida por e-mail, em que é ofendida e tem sua vida colocada em risco. “Não quero ser a próxima Marielle e não serei”, desabafou a ativista racial que vai ocupar uma das cadeiras da Câmara Municipal de Curitiba.

Sobre o ocorrido, Carol relatou à Tribuna do Paraná que estas agressões não são incomuns, no entanto, esta é a primeira vez em que recebe uma ameaça mais grave. “Infelizmente, não é uma novidade e estava esperando ser a próxima. Eu já tinha recebido vários ataques, mas não de morte mais objetiva”, disse Carol.

Ameaça

O e-mail com tom ameaçador tem a assinatura de um homem cujo nome é bastante utilizado por grupos que praticam crime de ódio no Brasil, que segundo costa, não se trata de alguém real. Na mensagem, ele relata que conhece o endereço da Carol e que irá comprar uma pistola 9 milímetros em um morro no Rio de Janeiro (RJ). No texto, ele cita que virá para a capital paranaense e vai dar um tiro na cabeça da vereadora, para depois se matar. Além do crime de ameaça de morte, o homem promove racismo diante da cor da pele de Carol.

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“Sua aberração. Macaca fedorenta, cabelo ninho de mafagafos. Enquanto você ganha um salário de vereadora apenas por ser macaca, eu estou desempregado, minha esposa está com câncer de mama e estamos vivendo de auxílio emergencial. Eu juro, mas eu juro que vou comprar uma pistola 9 mm no Morro do Engenho aqui no Rio e uma passagem só de ida pra Curitiba e vou te matar. Não adianta avisar a polícia ou andar com seguranças. Nada no mundo vai me impedir de te matar e me matar em seguida. Até breve”, escreveu o homem em seu ataque.

Após informar o caso nas redes sociais, Carol constatou que o responsável pela mensagem seria um suposto grupo neonazista que atua no Brasil e que está procurando intimidar vereadores negros ou transexuais, como Duda Salabert, eleita vereadora em Belo Horizonte (MG) e que também foi alvo de ataques feitos com a mesma assinatura.

“Estamos em contato com uma rede de proteção e advogados, é o mesmo e-mail que atacou outras vereadoras eleitas que são negras, trans no Brasil. As ameaças são semelhantes com a mesma estrutura. É um ataque orquestrado. Estarei fazendo o boletim de ocorrência na segunda-feira (7), pois a delegacia de crimes cibernéticos está fechada neste domingo”, disse a vereadora eleita em entrevista para a Tribuna.

“Não serei a próxima Marielle Franco”

Alerta com a ameaça recebida, Carol Dartora irá reforçar seu esquema de segurança nos próximos dias e até mesmo a alteração no local de residência não está descartada. Esta não foi a primeira intimidação que a vereadora eleita com 8.874 votos recebeu, mas sem dúvida é o mais pesado. Segundo Dartora, ela esperava por isto em algum momento e promete não ficar calada diante do racismo. Carol relembra inclusive a morte da vereadora Marielle Franco (PSOL), do Rio de Janeiro, baleada em março de 2018.

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“Eu já tinha recebido vários ataques, mas não de morte mais objetiva. Vou buscar a minha segurança, pois não quero ser a próxima Marielle e não serei. Estamos colocando mais uma pessoa para andar comigo e também estamos organizando a minha moradia. Talvez nem fique aqui no prédio”, comentou Dartora.

Críticas abertas a Greca

Historiadora formada pela Universidade Federal do Paraná, Carol é representante de grupos feministas e do movimento negro em Curitiba. Calejada em acompanhar movimentos na cidade e participar de temáticas relacionada ao racismo, a vereadora não concordou com a entrevista concedida nesta semana do prefeito Rafael Greca (DEM) ao canal GloboNews.

Greca disse que a pouca presença de negros na política da cidade está associada à histórica imigração de europeus para o Paraná. E foi além: “A cor da pele é apenas uma contingência de quem foi criado mais perto [da linha] do Equador, com mais sol. Quem foi criado mais longe do Equador foi criado com pele mais clara. Mas nós somos todos iguais”, declarou ao canal da televisão fechada.

Questionada pela Tribuna do Paraná sobre o assunto, Carol ressaltou que a declaração do prefeito teve um nível absurdo de ignorância. “ Foi um nível absurdo de ignorância, mas é mais fácil ele dizer isto ao invés de tomar algumas atitudes. Ele não é um bobo, mas é politicamente interessante para ele desmentir o que eu estou dizendo”, completou a futura vereadora.