Contra a lei

Motorista recusa corrida de deficiente visual em Curitiba por causa do cão-guia

Colaboração

A deficiente visual Dayane Bubalo, 33 anos, passou por uma situação no mínimo constrangedora na manhã desta sexta-feira (9), em Curitiba, quando pediu uma viagem pelo aplicativo 99. Ela foi impedida pelo motorista de embarcar no carro com o seu cão-guia. O condutor foi suspenso preventivamente da plataforma.

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Ele chegou a tentar empurrar a passageira para fora do veículo e teria feito ameaças discriminatórias. Inclusive chamou colegas de outros carros de aplicativo, na tentativa de intimidar a mulher, segundo ela. A confusão só parou quando a Polícia Militar (PM) foi acionada pela mulher. Por lei (N.° 11.126), o animal deveria ter acesso garantido em meios de transporte coletivo, uma vez que não se trata de um cachorro de estimação, mas de um cão treinado para servir de tecnologia assistiva a pessoas com deficiência visual. A ocorrência foi registrada por volta das 9h50, na Rua Jayme Canet, no Santa Quitéria.

A viagem com a 99 seria da casa de Dayane, no Santa Quitéria, ao Água Verde, na Rua Cândido Xavier, para uma consulta veterinária do cão-guia, um Labrador com Golden Retriever preto. O valor era de R$ 5,50, considerado atrativo pela passageira e o que também a motiva a usar aplicativos de carona. O filho de 11 anos estava junto. “Quando o motorista chegou, eu me aproximei e fui abrir a porta dianteira do carro. Ele já saiu logo falando que cachorro ele não levaria. Expliquei que era um cão-guia, que tinha carteirinha, que era amparada por lei, mas não adiantou”, relatou a mulher.

A partir daí, ela passou a exigir os seus direitos. “Eu disse que ele teria que me levar, que era o certo a fazer, mas ele passou a me discriminar. Aí, veio a primeira ameaça, quando ele disse que eu não sabia com quem eu estava lidando”.

Nesse momento, a deficiente visual fez o movimento de sentar no banco da frente do carro, do lado do passageiro, e o cão entrou junto com ela, por causa do treinamento que o animal recebe. “O motorista não fez nada com o cachorro, mas tentou me empurrar. Ele também avisou mais colegas dele para virem até ali. Eu comecei a ficar com medo e disse que chamaria a polícia”, contou.

O sistema da PM registrou o primeiro chamado às 9h50. No entanto, a ocorrência foi encerrada por falta de informações, por ter sido tratada como não sendo uma situação policial. A PM diz ter tentado contato com a solicitante para pedir mais explicações sobre a solicitação, mas não obteve sucesso. Cerca de 20 minutos depois, às 10h11, um novo chamado foi aberto no sistema, dessa vez por ameaça, e uma viatura foi enviada para atendimento no local. Até uma viatura da Guarda Municipal de Curitiba (GM) chegou a ser enviada para prestar apoio, mas não houve necessidade de intervenção.

Cão-guia foi o motivo da discórdia. Foto: Colaboração/Dayane Bubalo
Cão-guia foi o motivo da discórdia. Foto: Colaboração/Dayane Bubalo

A PM também informou que um protocolo para o registro do boletim de ocorrência foi aberto pela passageira e que o motorista do aplicativo foi orientado sobre a lei do cão-guia. A discussão foi encerrada e a aglomeração de pessoas foi dispersa sem a necessidade de intervenção policial mais severa. Ninguém foi preso.

De acordo com a Dayane Bubalo, o próprio motorista da 99 encerrou a viagem. Ela acabou sendo levada até a clínica veterinária por um sobrinho.

Conforme seu relato, em Curitiba há apenas seis pessoas com deficiência visual que possuem cães-guia. Todas elas enfrentam transtornos semelhantes ao que ela passou nessa sexta. “Eu fui ameaçada pelo motorista. Eu sou amparada por lei e nós não podemos nos render ao preconceito. Eu me senti quase que na obrigação de fazer valer os meus direitos. Não é correto uma pessoa agir do jeito que agiu. Ao mesmo tempo em que me senti orgulhosa de fazer justiça, há sempre um constrangimento. Não deveria ser assim”, desabafou.

Suspensão

Em nota, a 99 explicou que recebeu a denúncia envolvendo Dayane e está buscando contato para lhe oferecer todo suporte necessário. A empresa ainda esclareceu que o condutor foi suspenso preventivamente da plataforma. “Nossos termos de uso estabelecem que motoristas parceiros não podem discriminar ou selecionar passageiros por quaisquer motivos, além de tratá-los com boa fé, profissionalismo e respeito”, diz o texto.

A empresa informou que orienta e sensibiliza seus parceiros a atenderem passageiros com deficiência visual e seus respectivos cães-guia, com gentileza e respeito, conforme direito previsto em lei.

Ainda em nota, a 99 diz que “passageiros e motoristas que tenham sofrido qualquer forma de discriminação devem reportar imediatamente para a empresa, por meio de seu app ou pelo telefone 0800-888-8999, para que medidas corretivas sejam adotadas”.

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