Deu ruim

Moradora da Caximba ficou sem reforma na casa após treta entre Greca e Huck

Gravação do programa aconteceu na Vila 29 de Outubro, no bairro Caximba. Foto: Jonathan Campos

A vinda de Luciano Huck a Curitiba para gravar um episódio do quadro Lar Doce Lar, do Caldeirão do Huck, na última sexta-feira (17), tinha um objetivo bem específico: reformar a casa de uma das moradoras da Vila 29 de Outubro, no bairro Caximba. No entanto, a proposta inicial da visita acabou não se concretizando, após uma ligação do prefeito Rafael Greca (PMN) ao apresentador, explicando que a comunidade está localizada em uma área de invasão que a Prefeitura está tentando regularizar e que o global não deveria incentivar a permanência dos moradores lá, doando material para a reforma.

Alheia às disputas políticas que envolveram o quadro, Edilaine Aparecida de Lima, de 34 anos, acabou sem a casa reformada. Ganhou do programa de Huck, porém, dinheiro para fazer melhorias na residência, além de eletrodomésticos, panelas, brinquedos e recursos para manter o projeto social que desenvolve na região.

Desde que foi morar na vila, ela atende crianças que têm entre 4 e 16 anos na Biblioteca Amigos do Caximba. Participam das atividades, oferecidas no contraturno escolar, 180 meninos e meninas. A maioria dos pais trabalha recolhendo materiais recicláveis. “Eu sei o que é trabalhar com os filhos dentro do carrinho. Quero dar a essas crianças a oportunidade de uma vida diferente”, diz Edi, como é conhecida na comunidade.

Mãe de quatro filhos, ela foi expulsa de casa pela família de classe média aos 15 anos, quando engravidou pela primeira vez. Viúva duas vezes, Edi deixa de lado as histórias tristes quando se fantasia de Emília – aquela, do Sítio do Pica Pau Amarelo – para contar outras narrativas, mais alegras, às crianças atendidas.

“Ser ajudada pelo programa do Luciano foi uma surpresa, um dia diferente. Foi uma pena a casa não poder ser reformada, mas realmente não temos a documentação. O pior é não ter certeza se vamos ficar aqui ou não. Ninguém sabe”, conta, referindo-se à possibilidade de sair da região por conta do novo bairro que está sendo planejado pela prefeitura.

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Regularização da invasão

Procurado pela reportagem, Greca esclareceu que ligou para Huck explicando que a casa não poderia passar por melhorias, já que se encontra em uma área de ocupação. “Eu pedi a ele que não financiasse uma construção irregular. Até me dou bem com ele, mas não podia permitir isso”, contou Greca.

A prefeitura, que trabalha para retirar parte dos moradores da região do Caximba, afirma que está fazendo o que pode: cadastrou os moradores, congelou a área e busca financiamento para colocar todo o projeto do chamado Bairro Novo da Caximba em prática. “Isso não acontece na velocidade de um post de Facebook nem de um programinha de televisão”, disse Greca, se referindo à postagem em que Huck comparou a região ao Haiti.

Repercussão negativa

O post de Huck comparando a comunidade ao Haiti não teve reações ruins somente com o prefeito Rafael Greca. Moradores da região ficaram revoltados com a comparação. “Ele veio aqui para fazer a imagem dele em cima da população. Queremos melhorias, mas nossas crianças não estão nas ruas sem ter o que comer”, critica Rosenil do Rocio dos Santos, presidente da Associação de Moradores da região.

Até as fotos tiradas pelo apresentador com os moradores viraram motivo de comentários na vila. Professora Gaivota, que toca o projeto Move Vidas na Comunidade Abraão, vizinha à 29 de outubro, diz que o apresentador “ficou chocado”. “Na foto que eu tirei ele está até com uma cara estranha”, descreve.

Mas, se a visita de Huck não resultou na reforma da casa e acabou revoltando alguns moradores, para outros o saldo pode ter sido positivo. “É bom que as pessoas vejam a nossa realidade para que sejam feitas melhorias no comunidade. A gente vai ficar aqui por mais algum tempo, até que as novas casas estejam prontas. Que seja em condições um pouco melhores, então”, pondera Gaivota.

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Tarefa dolorida