Da Canastra ao balcão!

Paraíso dos queijos em Curitiba tem DNA mineiro e inúmeras possibilidades

Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná.

“Mineiro tem queijo até no DNA.” A frase de Francisco Augusto Mesquita Gonçalves, o Chico, resume a paixão que move seu negócio: a Chico Queijos, primeira e única loja de Curitiba dedicada exclusivamente a queijos de produtores brasileiros. Desde 2021, ele administra o espaço, que transforma cada visita em uma viagem pelo sabor do país. Nas vitrines e prateleiras, há laticínios e charcutarias que vão do Oiapoque ao Chuí, cada um carregando a identidade e tradição de sua região de origem.

Antes de chegar às prateleiras, cada produto passa por uma seleção criteriosa conduzida por Chico, que avalia sabor, textura, aroma e, sobretudo, a história de quem o produziu. De queijos mais cremosos a mais firmes, de salgados a adocicados, de leite de vaca a leite de cabra, cada escolha é minuciosa. Para ele, existe uma regra clara: “Um bom queijo precisa ser brasileiro.

Para Chico, a qualidade do catálogo depende de uma engrenagem delicada que começa no cuidado com os animais, passa pela seleção do leite e chega à habilidade do queijeiro, responsável por transformar a matéria-prima em identidade.

“Com um leite bom, é possível fazer um queijo bom. Mas com um leite bom, também é possível fazer um queijo ruim. Então o queijeiro precisa ser bom também”, resume. Cada queijo percorre um caminho que vai do pasto ao produtor, do produtor à loja, e só então ao consumidor.

A cadeia produtiva de queijos artesanais no Brasil cresce ano a ano, conquistando reconhecimento até em concursos internacionais. No mercado interno, o diferencial está em despertar a curiosidade do paladar. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Queijo (Abiq), o brasileiro consome, em média, 5,6 kg de queijo por ano (dados de 2024). 

Para Chico, o que tem feito os queijos ganharem espaço entre os curitibanos e brasileiros são as inovações trazidas pelos produtores. “Os queijeiros começaram a explorar receitas autorais, a criar queijos diferentes. Saíram do básico — curado, muçarela, parmesão — e passaram a se inspirar em receitas do Velho Mundo”, explica.

Minas em Curitiba 

Natural de Belo Horizonte, Chico conheceu cedo a base econômica familiar ligada aos queijos. Nos anos 1990, mudou-se com os pais, Ana Rosa e João, para o sítio da família, a quase 100 km da capital mineira. Durante quatro meses, o jovem Chico mergulhou na vida rural: aprendeu a cuidar da horta, dos animais, da ordenha, além de pescar e nadar no rio que cortava a propriedade.

O retorno à capital não foi imediato. A família se estabeleceu em Itaguara, onde Chico cursou o ensino médio e dividiu seu tempo entre os estudos e o trabalho na Padaria João Padeiro, do pai, como auxiliar de padeiro. Mais tarde, voltou a Belo Horizonte e se formou em Direito, atuando como advogado.

Há 13 anos, ao chegar a Curitiba, Chico era sócio de um escritório de advocacia. Em 2018, em busca de novos horizontes, decidiu deixar a advocacia para explorar oportunidades na capital paranaense. “Quando assinei o termo de retirada, sabia que não voltaria a trabalhar com Direito. Os queijos já vinham chamando minha atenção. Nunca encontrava os queijos que eu gostava aqui, então trazia muitos de Minas e guardava em casa. Os queijos vieram de forma natural”, lembra.

O interesse pelo universo queijeiro se uniu a outra habilidade: o empreendedorismo. Mesmo enquanto advogado, Chico observava oportunidades para iniciar projetos do zero. O pontapé para o negócio aconteceu durante uma imersão na Serra da Canastra, em Minas Gerais. Em visita à Cachoeira do Cerradão, errou o caminho e acabou na parte alta da queda, onde, por acaso, conheceu a Queijaria Matinha do Ouro.

A região, conhecida como “Rota do Queijo da Canastra”, abrange seis municípios e cerca de 700 km de tradição queijeira, com aproximadamente 800 famílias vivendo da produção artesanal. Em cinco dias na região, Chico se convenceu de que aquele seria seu caminho: “Ainda estava pensando no que fazer quando fui para lá. Não teve jeito, acabei me apaixonando.”

Comer para aprender 

Para aprender sobre queijos, a sala de aula de Chico era uma tábua recheada de diferentes tipos, acompanhada de café ou cachaça artesanal. “O maior aprendizado que tive foi conhecer o produtor, sentar na cozinha dele, ver como o queijo era feito e bater papo”, conta. Cada visita era uma imersão na cultura local, uma aula prática que ia além do sabor.

Dois meses após a primeira experiência na Canastra, Chico percorreu quase 6.000 km por Minas Gerais, São Paulo e Paraná, visitando pessoalmente os principais produtores de cada tipo de queijo. De Curitiba, viajou até Registro, no interior paulista, e passou por Rio Claro, Itapetininga, Amparo e a Fazenda Atalaia, berço do Tulha, o primeiro queijo brasileiro a ganhar medalha em concurso internacional. Depois, explorou as regiões queijeiras de Minas Gerais: Mantiqueira, Campos das Vertentes, Serro, Serra do Salitre, Cerrado Mineiro, Canastra e Belo Horizonte.

Ao retornar, começou a construir seu catálogo de clientes de maneira direta, indo de porta em porta e participando de eventos, como os encontros do Moka Clube, o primeiro local onde apresentou seu negócio. Cada pedido era uma oportunidade de compartilhar conhecimento e expandir a cultura do queijo artesanal brasileiro. Em dois anos, o negócio se consolidou o suficiente para dar o próximo passo: a abertura de uma loja física.

Em plena pandemia, para a surpresa do empreendedor, a demanda cresceu ainda mais. Mais e mais clientes fizeram pedidos pelo Instagram e WhatsApp. “As pessoas não podiam sair de casa, mas ficaram curiosas para conhecer novos queijos e começaram a pedir muito pelas entregas. Aquilo me deu viabilidade e coragem para abrir a loja em janeiro de 2021”, lembra Chico.

Memória afetiva 

Desde os primeiros dias de vendas de porta em porta, Chico já tinha alguns de seus queijos favoritos, seja pelo sabor incomparável ou pelas boas memórias que despertavam. O primeiro queijo que vendeu foi um Minas Artesanal, produzido na Fazenda Matinha do Ouro, na região da Serra da Canastra.

“Foi um dos primeiros produtores com quem fiz amizade. Depois que comecei a trabalhar com ele, o queijo ganhou medalhas na França. Tenho um apego especial por ele. É um dos que mais gosto”, lembra Chico.

Os queijos preferidos, sempre no plural, mudam de lote para lote. “Depende muito do que tenho na vitrine para escolher”, explica. Para ele, cada rótulo carrega uma história que merece ser apreciada. “Não é só um alimento. É um alimento ancestral, presente na vida das pessoas há séculos, assim como o pão e o vinho.”

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A história, contada pelos produtos e pela família que acompanha Chico, ainda está em construção. Entre os planos, está abrir uma nova franquia da loja, ampliando a oferta de um espaço dedicado ao conhecimento sobre queijos nacionais em Curitiba. “Curitiba tem mercado para mais tipos de queijo. Espero que surjam mais lojas e pessoas com coragem para trabalhar com esse universo”, diz.

Por enquanto, o atendimento no balcão já é suficiente para alimentar sua paixão. “Hoje, o dinheiro é menos do que ganhava como advogado, mas, do ponto de vista pessoal, estou muito mais realizado”, conclui Chico, com a satisfação de quem transformou a curiosidade em projeto de vida.

Serviço

Chico Queijos Artesanais 
Endereço: Rua Atílio Borio, nº 1531, no bairro Cristo Rei
Horários atendimento: de segunda a sexta, das 10h às 19h; e aos sábados, das 9h às 17h
Telefones: (41) 99915-1002 ou (41) 99181-9521 
É possível reservar experiências de degustação para grupos com mais de seis pessoas após as 19h. As reservas podem ser feitas pelo WhatsApp.
Veja mais no Instagram do Chico Queijos

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