O curitibano Gustavo Cordoni, de 23 anos, planeja um feito inédito no montanhismo brasileiro: ser o primeiro atleta do país a escalar as 14 montanhas mais altas do mundo, todas acima de 8 mil metros. O projeto começará a ganhar forma em abril de 2026, quando ele pretende enfrentar os primeiros desafios: o Everest, com 8.848 metros, e o Lhotse, de 8.516 metros. Será a primeira expedição do jovem às grandes montanhas do Himalaia.
A relação do jovem com a escalada começou cedo, mas longe das altitudes extremas. Aos 12 anos, Gustavo iniciou a prática esportiva em picos do Paraná, especialmente na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Anhangava, Marumbi, Pico Paraná, Tucum, Camapuã e Serra da Farinha Seca fazem parte do histórico dele. Ao longo dos anos, ele também conquistou títulos brasileiros em competições de escalada. A transição para a alta montanha aconteceu mais recentemente.
Em 2025, um episódio o ajudou a definir essa escolha. O montanhista Waldemar Niclevicz, primeiro brasileiro a escalar o Everest, retornou à montanha. Para Gustavo, o movimento funcionou como um sinal de que era hora de avançar. “Se eu quiser entrar no mundo da alta montanha, o momento é esse”, afirmou à Tribuna. Motivado com o desafio, a ideia do jovem é concluir as 14 montanhas dentro do período de dois anos.
A preparação passou a incluir experiências em altitude elevada. Na Bolívia, ele participou de um curso intensivo de escalada no gelo e encarou o Huayna Potosí, de 6.088 metros, próximo a La Paz. Já considerado extremo para alguns atletas, para Gustavo foi uma prova de que era possível: “me senti muito bem na montanha”, resume.
Antes do Everest, porém, há outra etapa decisiva: o Aconcágua, na Argentina. Com 6.962 metros, a montanha mais alta das Américas funciona como um termômetro para avaliar a adaptação do corpo à altitude. A escalada está prevista para a segunda quinzena de janeiro, pela rota 360, que contorna a montanha.
Treino intenso faz parte dos preparativos para escalar montanhas gigantes
Para fazer a primeira tentativa de subir a montanha mais alta do mundo, a rotina de treinos é intensa e contínua. Duas vezes por semana, Gustavo realiza treinos focados em corrida. Em outros três dias, o foco é a escalada em ambiente natural. Atividades como maratonas, mergulho e paraquedismo entram de forma complementar, ajudando no condicionamento físico e no controle emocional.
A disciplina, segundo ele, foi construída desde a adolescência. O principal desafio agora é lidar com a dimensão do risco. A expedição ao Everest deve durar entre 40 e 50 dias, tempo necessário para a aclimatação gradual entre a cidade, o campo-base e altitudes intermediárias. Só após essa adaptação e com condições climáticas favoráveis ocorre o ataque ao cume.
“Na altitude, o corpo reage de formas imprevisíveis. Você pode ser o cara mais bem treinado e, ainda assim, passar mal. A partir de cerca de 7.500 metros, entra-se na chamada zona da morte, onde não há oxigênio suficiente para o corpo se manter por muito tempo. São 48 horas para descer e subir”, explica.
Além da preparação esportiva, o projeto exige planejamento financeiro. Equipamentos específicos, passagens internacionais, autorizações e logística fazem com que os custos sejam elevados e sujeitos à variação cambial. Parte do investimento inicial será bancada pelo próprio atleta, com apoio de dois patrocinadores já confirmados para a fase inicial.
“Patrocínio e logística são outro Everest”, resume o curitibano. Segundo Gustavo, o desafio inclui apresentar o projeto, negociar contrapartidas e assumir responsabilidades com as marcas apoiadoras. A expectativa é ampliar o número de patrocinadores após a experiência no Himalaia.
Curitibano concilia faculdade e montanhismo
Enquanto organiza a expedição, Gustavo conclui o último ano do curso de Direito na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). A viagem ao Everest coincide com o período letivo, o que exigiu diálogo com professores e coordenação. A intenção é cumprir o semestre regularmente, inclusive as avaliações.
Com o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) já apresentado, ele passa a aplicar na prática os conhecimentos jurídicos, especialmente na análise de contratos de patrocínio e documentos exigidos para a expedição, sem necessidade de assessoria externa. Após o retorno do Himalaia, o plano é concluir a graduação e avaliar os próximos passos profissionais. Nos próximos dois anos, porém, a prioridade será o projeto esportivo.
Curitibano pode se tornar o brasileiro mais jovem a enfrentar o Everest
Para bater o recorde brasileiro, Gustavo precisa escalar nove montanhas acima de 8 mil metros, superando a marca do paranaense Moeses Fiamoncini. Caso alcance o cume do Everest, ele também se tornará o brasileiro mais jovem a escalar a montanha, superando o recorde estabelecido por Carlos Santalena, aos 24 anos.



