Dois homens e duas mulheres foram presos na manhã desta quinta-feira (21) por suspeita de integrarem um esquema de venda de uma substância ilegal usada no tratamento de dependência química. A operação da Polícia Civil do Paraná (PCPR) ocorreu em Piraquara, na Região Metropolitana, e em Curitiba.
A investigação começou em dezembro de 2024, após uma denúncia de que uma vítima teria sido internada involuntariamente em uma clínica de Piraquara, ou seja, à força, para tratamento psiquiátrico. No local, a pessoa recebeu medicação psicodélica à base de ibogaína, cujo valor de R$ 12 mil foi depositado na conta de uma psicóloga presa em flagrante durante a operação. O nome da clínica não foi revelado pela Polícia.
Durante a ação, foram apreendidas na clínica substâncias análogas à ibogaína em Curitiba, que é ilegal e não licenciada para uso terapêutico no Brasil. A substância atua sobre diversos sistemas de neurotransmissores no cérebro e, nos últimos anos, tem sido associada a complicações graves e casos de morte súbita.
Foram presos em flagrante na clínica uma psicóloga, um médico e um enfermeiro pelos crimes de falsificação de produtos destinados a fins terapêuticos ou medicinais e por associação criminosa. Outros profissionais também responderão pelos mesmos crimes, mas não estavam presentes no momento das prisões.
Segundo relatos de pacientes ouvidos durante a investigação, a substância era entregue por um enfermeiro, com prescrição de uma psicóloga, após palestra de um estagiário de psicologia. O médico psiquiatra responsável chegava a suspender a medicação contínua para que a ibogaína fosse administrada.
“Alguns pacientes relataram que eram constrangidos a adquirir a substância para conseguir alta. Os familiares pagavam R$ 12 mil pela ibogaína, R$ 30 mil pela estadia na clínica e mais R$ 1,2 mil pela consulta com a psicóloga que indicava o tratamento com o medicamento ilegal”, detalha a delegada Aline Manzatto.
Advogada integrava o esquema
Entre os alvos da operação, uma advogada de 51 anos foi localizada em seu apartamento em Curitiba. Os policiais encontraram no local 390 gramas de substância semelhante à ibogaína, que a suspeita tentou descartar no vaso sanitário.
Foram apreendidas também receitas de medicamentos controlados assinadas e carimbadas por uma médica psiquiatra de Santa Catarina. O carimbo estava em posse da advogada, junto com outros carimbos e receituários de profissionais de saúde.
A operação contou com a participação da Polícia Científica, Vigilância Sanitária, Promotoria de Piraquara, Conselho Regional de Medicina (CRM-PR) e Conselho Regional de Psicologia (CRP-PR).
Ibogaína – o que é e para que serve?
A ibogaína é uma substância psicoativa extraída da raiz da planta africana Tabernanthe iboga, tradicionalmente usada em rituais continente. De efeito alucinógeno, ela ganhou notoriedade mundial pelo potencial terapêutico no tratamento da dependência química, já que estudos indicam que pode reduzir fissuras e sintomas de abstinência. No entanto, a droga também oferece riscos graves, como arritmias cardíacas e até morte, quando administrada sem acompanhamento médico especializado.
No Brasil, a ibogaína não é regulamentada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e seu uso em clínicas é considerado irregular.
Polícia recebe denúncias
A PCPR recebe denúncias de pacientes que tenham sido vítimas de clínicas que ofereciam tratamento com ibogaína por meio da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Saúde (Decrisa) para que todas as medidas legais sejam tomadas.
A delegacia está localizada na Rua Desembargador Ermelino de Leão, n º 513, no bairro São Francisco, em Curitiba. Contatos podem ser feitos pelos telefones (41) 3883-7120 e (41) 3383-7116 ou pelo e-mail decrisa@pc.pr.gov.br.



