Bin Laden

Homem usa carro velho como casa em Curitiba

Um Chevette branco abandonado no Prado Velho virou a casa de um morador de rua. Sandro Paulo Antunes, ou “Bin Laden”, como é conhecido, mora no automóvel velho há três meses, mas deixa claro que não é o proprietário. “É de um cliente da oficina aqui do lado que deixou o carro aí. Se não fosse eu, já teriam desmanchado”, conta. Ele acredita que é possível consertar o carro e, se isso acontecer um dia, volta para o dono, que é motorista de táxi.

Enquanto esse dia não chega, o Bin Laden do Prado Velho aproveita para descansar dentro do Chevette, que é muito útil nos dias mais frios. “Eu até consigo me esquentar aí dentro”, afirma. Um vizinho de Sandro disse que a Secretaria de Trânsito já tentou remover o carro da calçada, mas acabaram desistindo, por pena.

Com uma tosse persistente, ele relata que fica doente às vezes e que procura a Fundação de Ação Social (FAS) para comer, tomar banho e se medicar. “Minha mulher sempre vai lá”, diz, lembrando da companheira com quem vive há oito anos. Segundo ele, a mulher saiu há dois dias e não voltou mais para “casa” por causa de uma briga entre eles. “É bom que refresca um pouco a minha cabeça. Ela não me deixa trabalhar, é bastante ciumenta”, revela.

Sandro demorou uns cinco minutos para lembrar o nome da mulher, Janete Mariana de Mattos, resultado provável do uso de crack, conforme relatado pelos vizinhos. “O problema desse pessoal são as drogas. Eles ficam tomados pelo crack. É uma pena porque ele é gente boa e muito trabalhador”, lamenta um comerciante da Rua Felipe Camarão.

Outro vizinho confirma o talento de Sandro. “Ele é muito caprichoso. Pintou o meu portão e não deixou cair um pingo sequer no chão e, além disso, é um mecânico de mão cheia”. Ele e outros moradores da região ajudam Sandro com comida e trabalho sempre que podem, mas, segundo eles, é o tipo de pessoa que não adianta ajudar. “Esse pessoal que mora na rua há muito anos não gosta do abrigo porque lá eles sabem que existem regras”, completa.

Dez anos na rua

Sandro conta que mora na rua há mais de dez anos, desde que saiu da casa do pai, em Pinhais. “Minha mãe faleceu faz muito tempo, mas acho que meu pai ainda é vivo. Um primo meu passou aqui um dia desses e disse que meu pai operou do coração e que não pode fazer força”. Isso é tudo que ele sabe sobre o pai.

Segundo o Resgate Social da prefeitura, a legislação não pode obrigar a pessoa a permanecer nos abrigos, mas quem aceita este tipo de suporte, pode contar com um programa completo e em regime integral que inclui: abordagem social, higiene pessoal, alimentação, atividades socioeducativas, alfabetização de adultos, reinserção à família, encaminhamento para desintoxicação e inclusão no Cadastro Único de Programas Sociais.