Familiares de Karla D’Arcanchy Antmann, 35 anos, morta a facadas pelo marido, aproveitaram a manifestação em frente à Catedral Metropolitana de Curitiba, ontem à tarde, para pedir que a Justiça mantenha o assassino na cadeia o máximo de tempo possível.

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Familiares, amigos e colegas de trabalho da jovem exibiam faixas e camisetas com o rosto de Karla. Eles se uniram ao Ato de Solidariedade às Mulheres Vítimas de Violência Sexual e Doméstica.

Karla chegava em casa, de um jantar com colegas do trabalho, na madrugada de sexta-feira, quando o ex-marido, o vendedor de móveis Samuel Nísio, 47 anos, a abordou na portaria, tentando reatar o casamento. Karla não aceitou conversar e levou nove facadas.

O porteiro do prédio tentou impedir, golpeando Samuel com um extintor de incêndio. O assassino fugiu, mas foi pego depois pela polícia. Karla foi levada ao Hospital Evangélico, onde morreu na madrugada de sábado.

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Separação

Maria Lúcia D’Arcanchy, mãe de Karla, contou que há mais de um ano a filha reclamava da mudança de comportamento e grosserias do ex-marido. Porém, a decisão de separar-se veio há três semanas. A contragosto, Samuel foi morar em outro lugar, mas continuou a persuadir Karla com recados no meio de objetos pessoais dela.

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Passou a fazer vigia em frente ao prédio da ex-mulher, na Avenida Visconde de Guarapuava, no Batel, para monitorar as horas que ela entrava, se estava sozinha ou acompanhada, o que estava fazendo e por quais cômodos do apartamento passava.

A família andava preocupada e a mãe chegou a aconselhar Karla a procurar a polícia. “Mas ela tinha medo que se fizesse isso, ele não fosse mais ver o filho, de 9 anos. Ela só queria ficar em paz, que ele fosse um bom pai para o garoto, que no fim de tudo, está com a mãe morta e o pai preso”, desabafou Maria Lúcia, que passou a criar o neto. Famílias dos amigos de escola do garoto vêm prestando apoio tentando distrai-lo.

Karla trabalhava com comércio exterior na Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep). Uma colega de trabalho, que preferiu não se identificar, contou que a vítima mandou proibir a entrada de Samuel na Fiep, pois ele não a deixava em paz. A perseguia nos horários de entrada e saída, no almoço e tentava a todo momento entrar no escritório para falar com ela.

Histórico de agressão

Maria Lúcia relatou a decepção da filha, quando soube dos antecedentes criminais do ex-companheiro. “Ela estava grávida de sete meses, quando um oficial de Justiça apareceu na casa deles, para cumprir um mandado de prisão. Aí soubemos que ele estava sem pagar pensão para outra ex-mulher, com quem também tem uma filha. Ele agrediu a antiga companheira, que chegou a ficar internada na UTI, e por conta disso são as duas passagens por lesões corporais que ele tem na polícia. Como minha filha estava grávida e gostava dele, não quis se separar na época. Se o juiz soltá-lo ou arbitrar fiança, eu não acredito mais na Justiça”, disse a mãe.

Por todas as mulheres

Anderson Tozato
Ato de solidariedade é feito em vários países.

O Dia Internacional da Não-Violência Contra as Mulheres foi lembrado, ontem, com o “Ato em Solidariedade às Mulheres Vítimas de Violência Sexual e Doméstica”, que começou às 18h em frente à Catedral Metropolitana de Curitiba e se estendeu até as 22h.

Estudos nacionais mostram que, a cada 15 minutos, uma mulher é espancada no Brasil. Em Curitiba, cerca de quatro mulheres são assassinadas por mês. E no Paraná, outras 16 morrem me,nsalmente, vítimas de agressão.

O manifesto na Praça Tiradentes contou com carros de som, pessoas com laços pretos nos braços e uma enorme faixa negra no chão. Na faixa, nomes de várias mulheres que morreram vítimas da violência, inclusive o de Karla Antmann, e das pequenas Raquel Genofre e Lavínia Rosa, ambas de 9 anos.

Denúncias

“Com a Lei Maria da Penha, houve aumento significativo de denúncias de violências contra mulheres. Temos que divulgar a lei para encorajar as mulheres a denunciarem mais, mesmo que sejam pequenas agressões. Brutalidades às vezes começam com um puxão de cabelo. Não podemos tratar essas pequenas violências com naturalidade”, disse Marlei Fernandes, presidente da APP Sindicato.

A campanha de luta contra a violência à mulher é promovida em vários países. Ela foi organizada originalmente pelo Center for Women Global Leadership e deve durar mais 15 dias.