TENSÃO

Estudantes ignoram a Justiça e invasão da UTFPR vai para o segundo dia

Foto: Daniel Castellano

Depois de um sábado (19) agitado, o domingo (20) começou mais calmo no campus central da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, em Curitiba. Apesar de a Justiça ter determinado a reintegração de posse do local, os invasores seguem acampados dentro da universidade, atrapalhando a rotina da instituição – um congresso internacional de engenharia elétrica que ocorreria neste domingo, com cerca de 300 pessoas inscritas, teve de ser remarcado para um dos hotéis da região.

Não há informação oficial de uma nova tentativa de reintegração de posse – cogitou-se o uso de força policial devido à resistência dos estudantes. Professores, porém, seguem em tratativas com o comando da invasão em busca de uma saída pacífica para o caso.

A juíza federal Danielle Perini Artifon determinou na tarde dee sábado (19) a reintegração de posse do prédio da UTFPR, tomado na sexta-feira (18) por um grupo de estudantes contrários a medidas do governo Michel Temer. O oficial de Justiça notificou os manifestantes às 19h50 deste sábado (19). A decisão judicial, solicitada pela direção da UTFPR, ordenava a desocupação em uma hora a partir da notificação, o que não aconteceu.

Dia tenso

O sábado foi um dia de muita tensão na UTFPR. O momento mais crítico foi a explosão de uma bomba de são-joão dentro do câmpus, na briga entre os dois grupos de estudantes. A professora Denise Maria Maia, do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), ficou ferida sem gravidade por um estilhaço da bomba. O autor do lançamento da bomba não foi identificado.

Os contrários à invasão do prédio conseguiram forçar a entrada por volta das 9h30 deste sábado. O local havia sido tomado por manifestantes na noite de sexta-feira (18) por alunos da graduação e do ensino médio e também por pessoas ligadas a outros movimentos não diretamente relacionados à UTFPR. A ação não teve a anuência do Diretório Central Estudantil (DCE), que havia deliberado pela não ocupação forçada do espaço.

Na tarde do sábado, a tensão aumentou e se concentrou no teatro da UTFPR. Integrantes do grupo que tomou a universidade se concentraram no auditório. Estudantes contrários ocuparam a área interna do acesso ao auditório, isolando os adversários. Mas outros alunos favoráveis à tomada da universidade se posicionaram no portão do teatro, ilhando os contrários.

Os ânimos se acirraram, e uma bomba são-joão foi solta na área interna do acesso ao auditório – o que feriu a professora Denise Maia. A explosão fez com que a segurança da UTFPR informasse que havia chamado a polícia para intervir. Mas nenhum policial chegou a entrar no câmpus (fora dele, havia PMs desde a manhã fazendo a segurança).

A situação começou a ficar menos tensa após o pró-reitor Sandroney Fochesatto discursar aos dois grupos tentando pacificá-los. Ele assegurou que a direção da UTFPR não ia tomar partido de nenhum dos dois lados, mas apenas queria garantir a integridade das instalações, a segurança dos estudantes e a realização do vestibular da Unioeste.

Após o discurso, os estudantes contrários à invasão começaram a deixar o prédio. Os invasores gritaram: “Ocupar, resistir”. Os contrários responderam: “Trabalhar e produzir”.

Entenda o caso

Cerca de 70 pessoas tomaram o campus Curitiba da Universidade Federal Tecnológica do Paraná (UTFPR), na Avenida Sete de Setembro, por volta das 23 horas de sexta-feira (18). O ato ocorreu logo depois do último horário de aulas. Discutida em assembleias internas em dois momentos, a ocupação do campus Centro da UTFPR havia sido descartada pela maioria dos estudantes.

Uma foto publicada pela página “Ocupa UFPR”, no Facebook, mostra duas pessoas com rosto coberto usando blocos de concreto para obstruir uma porta do prédio. Parte do grupo que participou da tomada do campus usava máscaras.

Em outra página do Facebook, “Ocupa UTFPR – CWB”, foi apresentado um manifesto que seria do grupo que tomou o prédio da universidade, dizendo ser “parte do movimento estudantil da UTFPR. A presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UTFPR, Ana Carolina Spreizner, disse à Gazeta do Povo que o grupo é composto por estudantes ligados a movimentos independentes. Ou seja, sem ligação a centros acadêmicos ou ao diretório.

Na noite de 4 de novembro, a direção da UTFPR chegou a determinar a evacuação do campus Curitiba para evitar que o prédio fosse invadido. A medida foi tomada para garantir a realização no local do Enem, que ocorreria nos dois dias seguintes. A prova foi aplicada sem problemas.