Churrasco caro

Espetada: curitibano sente o reajuste no preço da carne e a culpa é da China

Foto: Gerson Klaina/Tribuna do Paraná
Açougueiro Valdeci Teixeira afirma não ter mais como não repassar o reajuste no preço da carne aos clientes. Foto: Gerson Klaina/Tribuna do Paraná

Os curitibanos estão sentindo nos últimos dias o impacto do reajuste no preço da carne bovina. Em alguns açougues da capital, o preço do quilo de alcatra, por exemplo, saltou de R$ 35 para R$ 42 – aumento de 20%. E o principal fator da subida é o bife comido lá do outro lado do mundo, mais especificamente na China.

Desde o final de 2018, os frigoríficos brasileiros aumentaram o envio de carne para China, após o país asiático ser atingido pela peste africana, doença hemorrágica causada por vírus que só atinge porcos, a principal fonte de proteína dos chineses. Desde então, aumentou em 54% a exportação de carne bovina brasileira para o mercado chinês, em 40% a de carne suína e em 48% a de frango. Com mais carne sendo exportada, quem sofre é o mercado interno brasileiro.

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O impacto que começa a ser sentido no bolso agora vem sendo protelado pelos açougueiros desde o início de setembro. Eles seguraram o preço para não perder clientes e driblar a concorrência. Mas em novembro o valor do quilo do boi casado – o animal comprado inteiro -, disparou nos frigoríficos e distribuidores. A ponto de causar prejuízo na compra dos estoques semanais. Ao olhar as placas de preços nos açougues, tem consumidor que já pensa em alternativas para o cardápio. O professor de judô Edson Amaral, de 41 anos, ficou surpreso ao saber de mais um aumento.

Amaral fazia compras na tarde de quinta-feira (21) na Casa de Carnes Culpi, no bairro Campo Comprido. Na casa dele tem carne a semana toda. No entanto, com duas filhas pequenas e o preço alto, ovo e legumes devem se tornar nas refeições da família. “A gente compra conforme a demanda em casa. Geralmente, venho aqui no açougue e levo carne de panela, bife, carne moída. Fui pego de surpresa agora, porque, realmente, eu não sabia dessa alta. Vamos tentar adequar. No cardápio da escola tem ovo, elas gostam bastante de omelete, legumes. Podemos diminuir a carne, mas não parar de consumir”, diz o professor.

Ainda de acordo com Amaral, o churrasco do fim de semana também terá que ser repensado. “Picanha já faz algum tempo que não compro. Andava muito cara. Tenho usado alcatra, fraldinha. Eu que sou bem carnívoro vou ter que apelar para o frango na grelha ou asinha”, brinca.

Foto: Gerson Klaina/Tribuna do Paraná
O quilo da alcatra saltou de R$ 32 para R$ 45 em Curitiba. Foto: Gerson Klaina/Tribuna do Paraná

Mas o proprietário da Casa Culpi, Valdeci Teixeira, 46 anos de idade e 33 de açougueiro, dá uma desanimada nos planos do cliente. Com a alta da carne, segundo ele, o frango também deve sofrer algum impacto no preço por causa do aumento da demanda. “Aumenta a procura pelo frango, começa a faltar. É assim: aumenta a demanda, o preço varia. Por enquanto, a carne de ave teve pouca oscilação, mas já dá para prever que não ficará assim, principalmente pelas festas de fim de ano”, pontua.

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Teixeira comenta que a maioria dos açougues, incluindo o dele, segurou um pouco a alta de preços. “Dessa vez, não teve jeito. Mês passado, comprei o boi casado do distribuidor por R$ 10,90 o quilo. Depois negociei direto com o frigorífico já a R$ 13,50. Depois no distribuidor de novo por R$ 15,50. Nesta semana já vou pagar R$ 16,90. Para você ter uma ideia, semana passada vendi 80 quilos de contrafilé para uma cliente a R$ 35 o quilo, para entregar a ela nesta semana. Já vou tomar prejuízo porque estão agora negociando comigo o contrafilé a R$ 38 o quilo. Não tem o que fazer”, contou o açougueiro.

Em outro açougue, o Bovino Nobre, no Barreirinha, a história é praticamente a mesma. “Temos vivido esses aumentos desde o início de setembro. A gente segura para os clientes, mas a variação veio muito alta.Temos conhecimento do aumento de exportação para a China, mas nos preocupa da chegada das festas de fim de ano. Geralmente, há um aumento natural de preço em dezembro, pelo crescimento da procura, mas como já está faltando carne agora, a margem no lucro também é sentida por nós, assim como pelos clientes”, disse Wellington Varmeling, 28 anos, dono do estabelecimento.

Varmeling contou que faz compras semanais, mas que já houve um caso em que o preço no distribuidor variou duas vezes na mesma semana. “Subiu numa terça-feira e na quinta-feira já tinha subido de novo. A alternativa pode ser o frango, que tem um tempo de maturação do animal de 45 dias, por isso não sofre tanto com a mudança de preço”, aponta.

Motivos do reajuste

A Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) explica que não só as exportações para a China estão contribuindo para o reajuste. A Rússia, outro grande mercado comprador da carne brasileira, voltou a habilitar novos frigoríficos daqui para exportação.

Além disso, estão surgindo novos clientes de peso, como Turquia e Indonésia. Segundo levantamento da Abrafrigo, de agosto em diante este movimento de subida de preços foi se acentuando lentamente até atingir o momento de ser irreversível a partir de outubro.

“Neste espaço de tempo de três meses os preços da carne bovina evoluíram 25% e não há como deixar de repassar estas elevações ao consumidor, pelo menos enquanto a oferta de bois continuar restrita, o que deverá se manter por algum tempo como consequência do aumento das exportações”, explica  na nota o  presidente executivo da Abrafrigo, Péricles Salazar.       https://www.tribunapr.com.br/noticias/seguranca/trio-leva-porsche-de-r-500-mil-de-lava-car-em-curitiba/