Ser o primeiro a oferecer soluções para uma causa transformou o negócio de Jorge Montoro em um verdadeiro movimento de ativismo. O que começou como uma empresa do setor automobilístico, voltada a adaptações de veículos para diferentes funções, hoje é referência nacional e até mundial na criação de soluções para o transporte de cadeirantes e pessoas com deficiência (PcDs).

continua após a publicidade

Engenheiro de formação, Jorge iniciou a empresa realizando tarefas diversas. Entre elas, serviços práticos de oficina, conversão de veículos para GNV (Gás Natural Veicular) e adaptações em viaturas destinadas ao transporte de pessoas detidas. No auge do trabalho, porém, um problema de saúde mudou a trajetória da empresa. “Ele ficou praticamente em cadeira de rodas. Durante o tratamento em ambulatório e outros em espaços, ele conheceu esse novo segmento de acessibilidade”, conta Camilie Serrato Correa, sócia da SM Adaptações e esposa de Jorge.

A virada para a acessibilidade começou em 2008. Em 2013, Camilie, formada em Direito, agregou à empresa sua experiência em importação de produtos internacionais. Essa expertise abriu caminho para a expansão do negócio. A partir daí, o catálogo passou a oferecer soluções para diferentes tipos de deficiência física.

Entre os produtos e adaptações oferecidas, estão a inversão de pedais, aceleradores de aro acoplados diretamente ao volante, freios manuais acionados por alavanca e cadeiras elevatórias instaladas no banco do passageiro. Os projetos que saem dos três galpões da fábrica unem tecnologia e criatividade, sempre com o objetivo de facilitar a rotina das pessoas com deficiência.

Carro-chefe 

continua após a publicidade

O projeto pioneiro de adaptação de veículos para cadeirantes nasceu de uma necessidade concreta dos taxistas de Curitiba. Além de precisarem de espaço adequado para transportar passageiros com deficiência, os motoristas tinham dificuldade para levantar as cadeiras de rodas e colocá-las no porta-malas devido ao peso.

Da dificuldade surgiu a ideia inovadora. Embora a adaptação de porta-malas já fosse realizada em outras regiões do país, Jorge percebeu que havia espaço para ir além. Ele desenvolveu uma adaptação traseira equipada com esteira, capaz de puxar automaticamente a cadeira para dentro do carro, sem exigir esforço físico do motorista.

continua após a publicidade

O funcionamento é simples e eficiente: ao abrir o porta-malas, o condutor aciona a rampa traseira e aguarda sua abertura completa. O cadeirante posiciona a cadeira na beira da rampa, enquanto o motorista fixa os dispositivos de segurança que evitam movimentos bruscos. Em seguida, basta acionar o controle para que a cadeira suba de forma automatizada. O projeto, atualmente em sua quinta atualização, garantiu à empresa a patente mundial da inovação.

Para instalar essa tecnologia, o veículo passa por uma transformação completa. Toda a estrutura traseira é refeita, incluindo a reconstrução do tanque de combustível. O processo é tão complexo que o carro adaptado recebe nova nomenclatura. Na oficina da SM Adaptações, os modelos Spin da fabricante GM passam a ser registrados como Spin SM TCE, já com certificação própria.

Essa adaptação, no entanto, depende de autorizações específicas da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) e do Certificado de Capacitação Técnica (CCT) do Inmetro. Atualmente, o único modelo habilitado para receber a modificação é o Chevrolet Spin. O processo para aprovação de cada modelo demora quase dois anos, o que limita a expansão do catálogo.

“Lança o carro, então temos que trazer o carro para olhar as medidas e além de tudo, ver se realmente esse carro vai atender as especificações que ele precisa”, explica Jorge. “Teve carro que a gente já comprou, fez investimento e daí vimos que não tinha estrutura para aguentar a adaptação. Então, voltamos e pensamos ‘esse projeto não deu certo’”, completa Camilie.

Impasse burocrático 

Na prática, a adaptação mais complexa da SM Adaptações pode ser concluída em menos de cinco dias. Em apenas dois, os técnicos conseguem modificar toda a traseira para instalar a esteira elétrica. Em até 30 dias, o carro é entregue ao cliente, já testado e aprovado em segurança.

O processo, porém, enfrenta barreiras burocráticas e financeiras. Além da documentação exigida, há a dificuldade de financiamento. Uma Spin 2025 0km custa a partir de R$ 129.090 (setembro/2025). A adaptação feita pela SM varia entre R$ 40 mil (versão manual) e R$ 70 mil (versão automatizada).

Pessoas com deficiência podem recorrer ao Programa Nacional de Apoio à Pessoa com Deficiência (PNAPCD), que oferece linhas de crédito especiais, isenção de impostos (IPI, ICMS e IPVA), juros reduzidos e prazos estendidos, conforme a Lei nº 8.989/1995 e o Decreto nº 8.426/2015. No entanto, nem sempre os bancos se mostram interessados em liberar esse tipo de crédito. “Não é uma linha interessante para o banco. É um mercado esquecido nessa parte”, critica Jorge.

Diante das dificuldades, a empresa encontrou alternativas por meio de licitações e parcerias com órgãos públicos. Essas iniciativas se mostraram verdadeiras vias de mão-dupla. “Tem classes sociais que financeiramente não conseguem pagar um táxi, alugar um carro ou conseguir um meio alternativo para o atendimento médico, por exemplo. Então as prefeituras cedem um carro mediante agendamento para buscar, levar ao hospital e fazer os exames. Só que o carro cedido para uma pessoa cadeirante é, muitas vezes, uma ambulância”, relata Jorge.

Com os carros adaptados, a realidade muda. As ambulâncias ficam livres para emergências, enquanto os cadeirantes ganham autonomia e podem viajar acompanhados dos familiares, já que o veículo mantém a capacidade de passageiros. “É um carro mais barato para a saúde e para o transporte público, que amplia a capacidade de passageiros e, quando não estiver em uso, pode ser utilizado como um carro normal no dia a dia”, explica.

Plano ambicioso 

Apesar das dificuldades, o casal mantém o entusiasmo. Durante a pandemia, a empresa precisou encerrar a planta em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana, e reduzir o quadro de funcionários. Hoje, funciona em três galpões espalhados por Curitiba. Até o fim do ano, Jorge e Camilie querem inaugurar o primeiro showroom de veículos adaptados para cadeirantes no Brasil.

“Vai ser uma inovação no Brasil. O espaço será uma mini-concessionária, onde teremos carros prontos para vender e uma base de testes de cadeiras de rodas”, revela Jorge. Já com endereço definido na Rua Salgado Filho, a loja também deve expor produtos importados, resultado das conexões internacionais de Camilie.

Em viagens recentes à França e à Suécia, o casal estreitou laços com fornecedores e conquistou o título de representante oficial da BraunAbility, fabricante mundial de vans e elevadores para cadeiras de rodas. O próximo passo será uma visita aos Estados Unidos para conhecer a produção de veículos já adaptados pela fabricante. “Nosso próximo passo é tentar importar um carro 0km pronto para atingir outros públicos”, adianta Camilie.

O entusiasmo é acompanhado de responsabilidade social. “O nosso foco é ter esse capital parado para fazer o bem para as pessoas. Primeiro, trazer o produto, depois fazemos igual uma concessionária. Você disponibiliza para o test drive, vende essa unidade e depois investe em outro”, planeja Jorge.

Enquanto as negociações avançam, o casal segue determinado a unir negócio, ativismo e inovação. Para que o projeto cresça ainda mais, contam com apoio de empresários, ativistas e parlamentares. “O foco é fazer o bem, mas também lutar pela causa para andar com a legislação e a inovação no país”, finaliza Jorge.

Serviço

SM Adaptações
Endereço: Rua Coronel Antônio Ricardo dos Santos, nº 173, no bairro Hauer
Agendamentos e orçamentos pelo WhatsApp 41 9227-0092