No chão da fábrica de Andréia Pszybylski não há pó. Em um ou outro canto do pavilhão em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, o que se vê são apenas recortes de tecido, tufos de fibra de algodão e alguns olhinhos de plástico. Há seis anos, o negócio de produção de pelúcias começou na cozinha de Andréia e hoje conta com mais de 30 funcionárias treinadas por ela.
Por mês, cerca de 10 mil bichinhos de pelúcia saem da fábrica em direção a lojas de todo o Brasil. As colaboradoras da Santa Klaus produzem animais de pelúcia para os principais pontos turísticos, desde o Rio de Janeiro até o Rio Grande do Sul. Parques como os aquários do Rio e de Balneário Camboriú, o parque Animália e o Zoológico de São Paulo expõem e comercializam as pelúcias com etiquetas da marca.
“Conseguimos produzir produtos não só com qualidade, mas também que trazem alegria para pessoas de todas as idades. Um ursinho de pelúcia todo mundo faz. Por isso, hoje, nos especializamos em fauna brasileira, que era uma lacuna no mercado”, conta o diretor comercial da empresa, Marco Antônio.
Todos os bichinhos recebem nomes próprios, independente do destino final. A onça se chama Akira, o tucano, Zeca, e as araras, Taco, Deco e Paco, por exemplo. “Quando comecei a empresa, eu queria que tudo tivesse nome. Não queria vender P, M ou G. Queria vender com identidade”, lembra Andréia.
Outro diferencial da empresa é a produção personalizada. Clientes como XP Investimentos, Mercedes-Benz, Unimed, Dodge Ram e até o Grupo Família Madalosso já encomendaram mascotes exclusivos e brindes personalizados. “Quando chega um ‘problema’ do setor comercial, Andréia transforma a ideia em realidade, suprindo as necessidades do cliente”, explica Marco Antônio.
No chão da fábrica
Macacos, capivaras, quatis, araras, tucanos e cobras ganham cores, texturas e formas distintas conforme passam pelos setores da fábrica. O processo começa no setor de projetos, onde os materiais são separados e os moldes produzidos para aprovação do cliente.
Independentemente do tamanho do projeto, há uma regra: o protótipo deve ficar pronto em 30 dias. “O nível de perfeição que buscamos é alto, porque o cliente acompanha cada passo da criação”, diz Andréia. Com os materiais aprovados, a filha de Andréia, Letícia Pszybylski, responsável pelo setor de compras, organiza a produção.
As pelúcias passam então pelo corte a laser, reduzindo desperdícios de tecido, e seguem para as costureiras, internas ou terceirizadas, que dão forma ao corpo dos bichinhos. Na etapa final, no setor de acabamentos, eles são enchidos com fibra de algodão e recebem detalhes como olhos coloridos e formas corporais. Após passar por avaliação de qualidade, finalmente, são encaixotados para envio em até 90 dias.
Na mesa da cozinha
Os primeiros produtos artesanais de Andréia eram sazonais, para datas comemorativas como a Páscoa. Inspirada no Natal de Luz de Gramado, começou a produzir itens natalinos por encomenda e vendê-los em feiras, como na Praça Osório, Parque Barigui e Santa Rita, onde recebeu o ponta-pé.
“Uma das organizadoras da feira me disse que meu produto não era para feiras, que eu precisava trabalhar com lojistas”, lembra. Durante a pandemia, a internet ajudou a empreendedora a expandir os negócios, conseguindo vender uma primeira leva de produtos para Gramado.
A grande virada, no entanto, veio com o encontro com Marco Antônio, então representante de vendas de brinquedos, em 2020. “Lembro de uma feira natalina em que uma senhora expunha presépios ao meu lado, e eles ficavam encalhados. Sou católica, mas não sou adepta da figura do Papai Noel. Para mim, ele acabou sendo uma porta de entrada no comércio. Quando a equipe comercial apareceu, disseram: ‘Precisamos de bichos de pelúcia diferentes’”, conta.
Convencidos após conhecer a cozinha e a técnica de Andréia, Marco Antônio e um colega da época pediram dez bichinhos de pelúcia fora do comum, algo que não existia no mercado. Apesar de ainda não ter experiência com esse tipo de produto, Andréia não hesitou: “’Eu faço’, falei. Na época, nunca tinha feito nada assim.”
Penas de algodão
O processo de criação de Andréia era totalmente manual. Ela estudava a peça a ser feita, separava os materiais e desenhava os moldes à mão, em papelão, para dar forma ao corpo dos bichinhos. “Era eu e o meu sonho. Para que ele acontecesse, precisei comprar material. Não tinha dinheiro e estava em plena pandemia, então vendi meu carro”, lembra.
Com o recurso em mãos, Andréia comprou pilhas de tecido e, aos poucos, investiu em maquinário para ampliar a produção. Gradualmente, começou a contratar funcionárias, como Jeniffer, atual gerente de produção da marca. Da cozinha de casa, passou para a garagem e, em seguida, iniciou a construção da fábrica, hoje com o segundo andar em fase final de obras, destinado ao setor administrativo.
“Sempre coloquei Deus como patrão. Tudo o que fazemos é voltado para isso. Quando chega um projeto novo, a primeira coisa que penso é: ‘Se for da tua vontade, Senhor. Se não, peço que retire.’ E os projetos estão vindo de forma surpreendente, um atrás do outro”, conta.
A vitrine que tornou a marca de São José dos Pinhais conhecida ficava na outra ponta do estado. O Parque das Aves, em Foz do Iguaçu, foi o primeiro grande parque a expor os produtos. O primeiro pedido envolveu quase mil pelúcias de araras, mas o grande desafio surgiu quando representantes do parque pediram uma ave harpia para a loja.
“Não existia uma pelúcia na cor da harpia, nem com os detalhes da asa ou do bico. Os biólogos exigem que o produto seja o mais fiel possível dentro das características lúdicas”, explica Marco Antônio.
Para transformar as penas do gavião-real em penas de algodão, Andréia decidiu que as asas deveriam ser o principal atrativo do bichinho. “A envergadura da asa da harpia chega a quase 2 metros. Comecei a rabiscar e desenhar uma ave de asas abertas, para valorizar sua imponência. Quando recebemos a avaliação do biólogo, ele disse apenas: ‘Beira a perfeição’. Pensei: estou no caminho certo”, lembra.
Mãos talentosas
Assim como Papai Noel, que inspira o nome da marca, tem seus duendes e ajudantes, Andréia conta com uma equipe de mulheres que costuram, gerem e produzem as pelúcias nacionalmente conhecidas. As 30 funcionárias trabalham em dois turnos flexíveis, conciliando rotina, filhos e família, todas treinadas por Andréia.
“Não existe curso que ensine a ser designer de bichos de pelúcia. Tive que treinar minha mente e a das colaboradoras para enxergar os desenhos em 3D. É um trabalho difícil, mas muito gratificante ver as peças prontas”, celebra.
A técnica manual não é o único legado passado por Andréia. Sua filha, Letícia, representa o “olhar para o futuro”. “Meu negócio foi um presente que recebi e quero passar adiante”, afirma.
Trabalhando com a mãe e aprendendo sobre captação de clientes com Marco Antônio, Letícia foi uma das primeiras a conhecer e valorizar o trabalho da mãe. “No começo era uma correria, mas eu admirava muito. Tudo no início é difícil, mas aqui deu certo. Tenho só admiração por ela, que consegue ser mãe e, ao mesmo tempo, administrar a empresa e coordenar a equipe”, diz.
Mesmo com pouco tempo de operação, Andréia acredita que a chave para manter o negócio nos trilhos está em desenvolver lideranças e priorizar a qualidade. “Antes procurávamos clientes, hoje eles nos procuram”, afirma Marco. Para Andréia, vivendo a realização de um sonho, “o céu não é mais o limite”.
