Cumplicidade, confiança, respeito, cuidado e lealdade. Essas são algumas características que se espera de uma amizade verdadeira (ou não). Neste domingo (20), celebra-se o Dia do Amigo, e especialistas alertam para os danos que relações tóxicas podem causar.
Segundo o psicanalista Higor Caldato, sócio do Instituto Nutrindo Ideias, a maioria das pessoas sente conforto ao construir laços sociais, o que pode melhorar a qualidade de vida e a saúde emocional. “O nosso cérebro tem áreas especializadas em regular o comportamento social. Isso nos permite viver em sociedade, ser empáticos, assertivos e resolver conflitos interpessoais”, explica.
Manter boas amizades pode reduzir o risco de depressão e ansiedade, além de aumentar o bem-estar geral. Mesmo quando a “bateria social” se esgota, uma pausa para descansar, se distrair ou fazer algo prazeroso ainda mantêm os amigos verdadeiros por perto. Mas é preciso atenção aos limites entre relações saudáveis e tóxicas.
Como identificar amizades tóxicas?
A psicanalista e professora de filosofia Marcela Jardim destaca que toda amizade saudável precisa de limites. “Não é porque somos amigos que podemos invadir a privacidade ou controlar as decisões do outro. É importante aprender a dizer ‘não’ quando algo incomoda, especialmente na adolescência, fase em que o medo de ser excluído faz com que muitos aceitem o que não querem”, diz. Segundo ela, amizades verdadeiras respeitam sentimentos, valores, limites e o corpo do outro.
Ela explica que amizades tóxicas são aquelas que nos fazem mal, ainda que isso leve tempo para ser percebido. “Se a pessoa te coloca para baixo, te julga o tempo todo, te afasta de outros amigos ou faz você se sentir culpado por tudo, é hora de ligar o alerta”, afirma.
Entre adolescentes, a pressão para se encaixar no grupo pode ser grande. Quando a amizade impede que alguém seja quem realmente é, ou força comportamentos indesejados, é preciso repensar o vínculo. Uma amizade saudável é leve, respeitosa e faz bem à alma.
É possível ensinar sobre os limites das amizades?
A infância é o primeiro espaço onde as crianças aprendem a se relacionar fora da família. É ali que elas constroem vínculos, exercitam a empatia e aprendem sobre os limites da convivência. Por isso, os especialistas reforçam a importância do acompanhamento dos pais e das conversas sobre as amizades em formação.
Ensinar sobre amizade também é ensinar sobre respeito, escolhas e autocuidado, e tudo começa nas conversas do dia a dia. Mesmo na infância, algumas relações já podem apresentar comportamentos de exclusão, imposição ou controle.
Na adolescência, o desejo de pertencimento cresce. “Por isso, é essencial que o grupo traga apoio e segurança, e não pressão ou julgamento”, aponta Marcela Jardim. Mesmo que certas atitudes pareçam brincadeiras, é importante que os adultos estejam atentos e conversem sobre como a criança se sente ao brincar, se está confortável, se tem liberdade para escolher e se sente respeitada.
Uma boa comunicação familiar ajuda a criança a compreender que amizade envolve respeito, espaço e afeto. Perguntar sobre o dia, com quem brincou e como se sentiu é uma forma de acessar o mundo emocional dela e orientá-la com leveza. “Na adolescência, isso se torna ainda mais importante. O jovem precisa de um espaço seguro para dividir situações difíceis, pedir ajuda ou simplesmente ser escutado”, completa.
Melhores caminhos para conhecer novos amigos
Atualmente, redes sociais, chats e jogos online são formas comuns de conhecer novas pessoas. Mas, segundo o psiquiatra Higor Caldato, nem sempre são as mais saudáveis. “No mundo moderno, a globalização vem tomando conta das nossas vidas e com isso as interações se tornam cada vez mais virtuais”, afirma.
Ele defende os encontros presenciais, como festas, feiras, restaurantes, como os espaços ideais para fortalecer vínculos reais. A psicanalista acrescenta que atividades físicas com amigos também são excelentes: um motiva o outro, o momento se torna mais leve e a amizade se fortalece.
Nas práticas em grupo, como esportes ou treinos, crianças e adolescentes se sentem mais acolhidos, desenvolvem hábitos saudáveis e aprendem a lidar com desafios. Além disso, essas experiências incentivam a cooperação, o respeito às diferenças e a construção de metas coletivas.
