Inédito

Desemprego encolhe número de usuários de planos de saúde

Corretor de imóveis por mais de 25 anos em Curitiba, Tulio Lucio Cabral Neto tinha vários benefícios, dentre eles o plano de saúde. Desempregado há quase dois anos, ele precisou mudar a rotina e adequar a família à nova realidade financeira. ‘Contamos com um plano empresarial por vários anos, mas perdi o benefício depois que perdi o emprego. Desde então trabalho como autônomo. Como os planos de saúde estão caros, contratar um foge do meu orçamento‘. Quando precisa de atendimento médico, agora a família recorre ao SUS.

Desempregado há quase um ano, o estudante Fábio Carvalho revela que ainda não conseguiu quitar as dívidas. ‘Cortei todas as despesas supérfluas e por achar que os planos de saúde estão muito caros, achei melhor ficar com o SUS enquanto não arrumo um emprego‘.

Desempregado, Fábio Carvalho optou pelo SUS.

Os casos de Tulio e Fábio se multiplicam numa escala nunca vista. Com o agravamento da crise econômica e a grande quantidade de demissões, pela primeira vez em dez anos os planos de saúde registraram queda no número de beneficiários. Segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), em 2015 foram canceladas 766 mil assinaturas de serviços de assistência médica particular, uma retração de 1,5% na comparação com 2014. Somente em Curitiba, as operadoras perderam 17 mil usuários, o que corresponde a um recuo de 1,82%.

Na comparação entre dezembro de 2014 e 2015, em todo o Brasil houve diminuição de 400 mil beneficiários nos planos coletivos empresariais, 200 mil nos coletivos por adesão e 100 mil nos individuais ou familiares. Curitiba teve acréscimo de 3 mil usuários nos planos individuais ou familiares, mas reduções de 8 mil pessoas nos empresariais e de 12 mil nos coletivos por adesão.

Para a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), os principais motivos desta debandada são o cenário econômico e a taxa de desemprego. No ano passado foram fechadas 1,542 milhão de vagas com carteira assinada no Brasil. A entidade que representa as operadoras aposta em planos básicos para recuperar a fatia perdida no mercado.

Triplo da inflação

Nos últimos três anos, os planos de saúde aumentaram 36,2%, de acordo com os limites máximos de reajustes autorizados pela ANS para os planos individuais e familiares – mais que o triplo da inflação acumulada pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) em 2015, de 10,67%. Planos coletivos por adesão, contratados por associação de classe ou sindicato, que não são regulados pela ANS, tiveram altas de até 40%.

Um estudo da Mercer Marsh Benefícios revela que em 2015 as empresas tiveram um aumento médio de 14,8% nos custos de plano de saúde para funcionários, em relação a 2014. De acordo com o levantamento, o desembolso médio por trabalhador passou de R$ 196,17 para R$ 225,23 e as despesas com planos de saúde subiram para 11,54% da folha de pagamentos – ante 10,38% em 2012.

Laura Hoffmann conta com o apoio do filho
para pagar o plano de saúde.
Foto: Giuliano Gomes.

Apesar do ,peso no bolso, quem consegue pagar comemora os benefícios. A aposentada Laura Hoffmann Stamula, 75, conta que optou pelo plano de saúde devido à demanda de exames, consultas e internações que precisou fazer nos últimos anos. ‘Meu filho paga a mensalidade e graças a isso tenho melhor qualidade de vida, pois como está tudo incluso, posso fazer fisioterapia, tenho acompanhamento com uma nutricionista e não tenho gasto com o hospital‘.

Crise

O cenário recessivo não afeta apenas quem tem plano de saúde. Com o ajuste no orçamento da União, o Ministério da Saúde sofreu o segundo maior corte entre as pastas e em 2016 deverá ter R$ 2,5 bilhões a menos. A professora aposentada Lídia Granville teme que as medidas do governo afetem a qualidade do serviço. ‘O SUS não é de graça, nós pagamos a vida inteira e é mais do que correto que tenhamos todo o atendimento mediante os impostos arrecadados que, teoricamente, deveriam ir para a saúde‘, diz.

Na bronca

Alvos constantes de reclamações, os planos de saúde estão entre as maiores queixas dos usuários no Procon que, somente em 2015, teve 323 reclamações em Curitiba e região. No primeiro trimestre deste ano o órgão recebeu 73 queixas, principalmente por: não cumprimento da oferta, negativa de cobertura e período de carência muito longo.

A ANS recomenda que o cliente deve observar no contrato a área geográfica de cobertura do plano, pois ela pode ser: nacional, estadual, grupo de estados, municípios e grupo de municípios. Verifique que nem todos os planos têm direito à internação hospitalar. Os planos que dão direito à internação são os de tipo hospitalar com obstetrícia (pré-natal, parto e pós-parto), hospitalar sem obstetrícia ou plano referência.