Clássico de Curitiba

De parque temático a centro de festivais: Shopping Estação reúne lojas, museu e lazer

Imagem mostra detalhes do Shopping Estação, um dos mais antiggos de Curitiba.
Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná.

A infância de muitos curitibanos nascidos nos anos 1990 guarda uma memória em comum: o parque de diversões temático da Turma da Mônica, instalado dentro do Shopping Estação. Inaugurado em 1998, o playground foi uma das principais atrações nos primeiros meses de funcionamento do então recém-lançado centro comercial.

“Eram três setores diferentes: Mundo Divertido, Mundo Curioso e Mundo dos Quadrinhos. Atrações como Laboratório do Franjinha, Teatro, Cinema 3D, Trem do Penadinho e Brinquedão, com um circuito de atividades, faziam parte do espaço. As casinhas da Rua do Limoeiro faziam parte de cenografia. A lanchonete levava o nome da Magali, destacando a imersão que o parque criava na turminha dos gibis”, relembra o superintendente do Shopping Estação, Rafael Fiedler.

Imagem mostra o antigo Parque da Mônica, no Estação.
O Parque da Mônica foi uma das principais atrações nos primeiros meses de funcionamento do então recém-lançado centro comercial. Foto: Divulgação/Shopping Estação.

Para construir o playground com 20 atrações, o investimento foi de R$ 6 milhões. Mais de 500 mil pessoas visitaram o local em dois anos. O parque foi encerrado em outubro de 2000, durante a primeira remodelação do shopping. Naquela época, o local se chamava Estação Plaza Show e tinha foco no lazer. Durante o dia, a programação era voltada para crianças e adolescentes. 

À noite, a partir das 18h, era a vez do público adulto, que ia para os shows e apresentações diárias no espaço. O palco do centro de festivais recebeu nomes como Rita Lee, Manolo Otero, The Platters, Engenheiros do Hawaii e Cauby Peixoto. Também havia pista de dança ao ar livre, boliche e fliperama.

Para entrar no centro de festivais e aproveitar a programação, era cobrada uma taxa. De segunda a sexta, o valor era de R$ 3 após as 18h. Nos fins de semana e feriados, a cobrança começava às 11h. O valor podia ser abatido no ingresso do cinema.

Além do playground e dos shows, o Estação também foi pioneiro ao trazer dez salas de cinema multiplex, que permitia a exibição de vários filmes simultaneamente. Cada uma custou cerca de 500 mil dólares. Já no primeiro mês, quase 60 mil pessoas assistiram a estreias como “Titanic”, “O Chacal” e “O Advogado do Diabo”.

Atualmente o Shopping Estação é um dos símbolos da cidade. Fica na rota de ônibus da Linha Turismo, além dos clássicos biarticulados que param nas estações-tubo. Além dessas, o shopping também conta com um ponto de parada para situações ocasionais.

No topo do prédio, acima do décimo andar, o heliponto é usado no transporte de órgãos para transplante. O processo é urgente e precisa ser feito em até quatro horas após a constatação da morte encefálica. Com acesso rápido às principais vias da cidade, o heliponto facilita a chegada aos hospitais Cajuru e Santa Casa.

Décimo andar tem um heliponto é usado no transporte de órgãos para transplante. Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná.

Redenção ao shopping tradicional

Na década em que Curitiba foi considerada a “capital dos shoppings”, o Estação entrou na lista dos cinco maiores shoppings da cidade. Em 1997, havia um shopping para cada 404 mil habitantes na cidade, segundo a Associação Brasileira de Shoppings Centers (Abresce). A média era melhor que em São Paulo, onde o índice era de um shopping por 753 mil pessoas.

Mesmo assim, o Estação enfrentou desafios para se estabelecer. Em 1998, em meio à crise do câmbio fixo, o país passou por instabilidades econômicas. Trinta das 130 lojas do shopping fecharam. Uma das soluções foi a suspensão da taxa para os shows. O resultado foi imediato: em dezembro de 1999, o público saltou de 326 mil para 483 mil pessoas.

Desde 1997 até 2025,o shopping passou por quatro administrações. Em 2000, o espaço foi adquirido pelo Grupo K&G, responsável pelo Boticário e pelo PolloShop. A administração rebatizou o centro comercial como “PolloShop Estação” por dois anos.

“Em 2002, se tornou Shopping Estação após reforma que implantou lojas âncora, como a Renner e a Riachuelo, e novos pavimentos. Em 2004, foi inaugurado o centro de convenções. Em 2007, a BRMalls assumiu a administração até 2023 e investiu em mix de compras mais forte, sem abandonar o entretenimento. Atualmente, a gestão é feita pelo Grupo Tacla Shopping”, explica o superintendente. 

Na primeira grande reforma, a pista de dança foi coberta por uma estrutura de vidro, considerada a maior do país. Foram adicionados 2.600 m² à área original. Em 2004, o nome mudou de novo: Estação Embratel 21 Convention Center. As reformas mais recentes foram as pinturas da fachada, feitas em 2009 e 2024.

Clássicos que permanecem

Desde os primeiros anos, algumas lojas ainda seguem firmes. Ao contrário de outros grandes shoppings de Curitiba, a praça de alimentação sempre esteve no primeiro piso. Basta caminhar por uma das entradas em direção ao centro do shopping para escolher o cardápio do dia, sem a necessidade de subir escadas rolantes ou elevadores. Uma das entradas já leva direto ao centro do shopping, onde estão os restaurantes. Entre eles, o tradicional Bier Hoff, comandado desde 2002 por Jacir Cavalheiro.

“O Shopping Estação é parte da nossa história. Ao longo dos anos, construímos uma clientela fiel, criamos laços com outras operações e vimos gerações de clientes crescerem conosco. O ambiente seguro e a estrutura do Shopping nos permitem oferecer uma experiência completa aos nossos clientes. Além disso, a sinergia entre as operações e o apoio da administração sempre foram importantes para a nossa permanência”, conta o cervejeiro. 

Primeira estrutura do Bier Hoff no Estação. Imagem: Arquivo Pessoal.

A primeira unidade do restaurante ficava onde hoje está a Kalunga. Com o tempo e as mudanças, o restaurante passou a ocupar um espaço no Boulevard do shopping e o público ficou mais exigente. Por isso, além das cervejas artesanais, o cardápio passou a incluir pratos e petiscos especiais.

Rolê para todos os gostos

Quem veio antes: o ovo ou a galinha? O museu ou o shopping? A resposta é simples. Parte da estrutura do shopping vem da antiga estação ferroviária de Curitiba, ativa de 1885 a 1972. O museu foi inaugurado em 1982, mas fechou temporariamente para as obras do shopping. Reabriu em março de 1998. A estrutura de hoje é fruto de uma nova adaptação feita em 2004.

“O Museu Ferroviário de Curitiba foi criado a partir de um projeto nacional do Ministério dos Transportes, chamado ‘Preserve’, realizado no início dos anos 1980. Sua inauguração ocorreu em 1982 e nessa época, a Estação já não operava os trens regulares, mas mantinha os trajetos turísticos à Lapa e Antonina aos domingos. O shopping surgiu posteriormente, por meio de uma iniciativa privada, sendo inaugurado em 1997. Em 2004 o Museu passou por uma revitalização e foi reinaugurado com a nova expografia”, explica a museóloga do Museu Ferroviário Ana Caniatti

Junto com a Ponte Preta, a estação foi tombada pela Coordenadoria do Patrimônio Cultural do Estado do Paraná nos anos 1970. Desde então, só passaram por reformas e manutenções. Um dos itens mais curiosos e preservados pelo museu é o vagão que serviu como dormitório para o presidente Getúlio Vargas.

“Seguindo o estilo das estações italianas, a estação mantém a fachada histórica inclusive o relógio superior e um trem real exposto até hoje. O projeto de adaptação para shopping adotou uma abordagem de restauro conservador, mantendo fundações e paredes, e usando drywall nas novas paredes do museu. A cobertura de vidro foi mantida com filtro seletivo de iluminação natural”, explica o superintendente do shopping. 

Imagem mostra detalhes do Shopping Estação, um dos mais antiggos de Curitiba.
Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná.

O Museu Ferroviário foi o primeiro do Brasil dentro de um shopping. Para Ana, a união entre os dois espaços é uma parceria positiva. “Muitos frequentadores do shopping têm um carinho pelo museu e visitam com frequência”, diz.

Quem entra por acaso também se surpreende. “Quem imagina ir ao shopping e encontrar obras de artistas como Poty Lazzarotto e Alfredo Andersen? Ou ainda um acervo bibliográfico que vai desde a coleção do Correio dos Ferroviários até os livros de registros dos funcionários da antiga rede ferroviária?”, comenta Ana. Além das exposições, o acervo conta com uma biblioteca.

Passado e presente

A exposição começa no antigo guichê de vendas de passagens. As placas dividem a caminhada em duas áreas: primeira, do lado esquerdo, e segunda classe, do lado direito. Nesse espaço, toda a estrutura é original na estação antiga. Na fila da direita, o chão está desgastado devido ao grande fluxo de pessoas que passavam por ela, já que era uma categoria popular. 

“Na sequência, são apresentadas as salas com mobiliário da época, incluindo o escritório e a sala do telégrafo. A exposição segue abordando os ciclos de desenvolvimento econômico do estado, com destaque para a erva-mate e a madeira. Também há um espaço dedicado à Guerra do Contestado e à importância da construção social das comunidades formadas pelos funcionários da rede ferroviária”, lista Ana. 

Ao fim da exposição, um artefato desperta a atenção dos visitantes. O último item da exposição é uma cápsula do tempo, que data da inauguração do museu e é aberta uma vez a cada 50 anos. As relíquias guardadas já foram retiradas da caixa em 1935 e 1985. A próxima abertura está marcada para 2035. 

Cápsula do tempo da antiga estação ferroviária de Curitiba. Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná.

Até lá, o museu se moderniza aos poucos. Em breve, passará a oferecer visitas guiadas à reserva técnica, onde estão peças que não ficam expostas. O acervo também será digitalizado. “Essa iniciativa permitirá ao público conhecer os processos de conservação, catalogação e armazenamento do acervo”, explica Ana.

Manter o passado vivo também pode ser uma forma de olhar para o futuro. Um bom exemplo é o Expresso Estação, simulador instalado dentro de um vagão real. A atração reproduz a viagem de trem entre Curitiba e Paranaguá. “Ao promover o acesso à cultura e valorizar a história local, o museu reafirma seu compromisso com o passado e com o futuro”, completa a museóloga.

Já o shopping também busca novas atrações. Em junho, foi inaugurado o maior clube de pôquer do Sul do Brasil. O Live Poker Club tem 40 mesas e realiza dois torneios por dia, à tarde e à noite. O espaço também conta com bar e restaurante. As rodadas vão das 14h30 até as 6h da manhã, sem parar durante a madrugada. Para atender outro público, também será inaugurada, em breve, uma unidade da academia UPlay no estacionamento do shopping. 

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