Fim de uma era

Crise do coronavírus fecha Buffet Ilha do Mehl após 8 mil casamentos em 43 anos

Buffet Ilha do Mehl fecha as portas após 43 anos. Foto: Jorge Woll / Gazeta do Povo / Arquivo

Após 43 anos de história, o Buffet Ilha do Mehl, a mais tradicional casa de eventos de Curitiba, fechou suas portas, como consequência direta da crise provocada pelo novo coronavírus. Sem realizar eventos desde março, o custo mensal de manutenção em torno de R$ 50 mil ficou impraticável. Com o encerramento das atividades, os dez funcionários que ainda eram mantidos foram desligados.

O anúncio do encerramento das atividades foi feito pelo proprietário do buffet, o empresário João Jacob Mehl, na noite de segunda-feira (15), pelo Instagram.
“Este é o momento mais triste da minha vida, fechar a fábrica de sonhos, encerrar as atividades do Buffet Ilha do Mehl. Foram anos maravilhosos, ao tempo que conquistamos grandes amigos. Realizamos festas inesquecíveis, estivemos ao lado das alegrias de muitas famílias. 43 anos, uma vida, uma geração que se esvai numa pandemia insuportável. Obrigado a todos que participaram desta história”, dizia a mensagem.

Tão logo o post entrou no ar, o telefone de Jacob Mehl não parou mais. “Muitas pessoas se solidarizaram, especialmente pessoas que celebraram momentos importantes no buffet. Ontem recebi mensagem da primeira noiva que casou no Ilha do Mehl e da mãe da debutante que fez a última festa, no dia 7 de março”, disse, emocionado.

Aliás, como não poderia deixar de ser, a despedida do lugar idealizado e construído pelo empresário, e que marcou a vida e os momentos especiais de tanta gente, vem com muita emoção. “Foram muitos momentos especiais. Marcamos a vida das pessoas. Casei quatro das minhas cinco filhas no buffet. Uma festa, como um casamento, é um sonho, se contrói um castelo”, compara. ao todo foram mais de 8 mil casamentos feitos no Buffet Ilha do Mehl em 42 anos.

Com o encerramento das atividades, a fábrica de sonhos deixa de funcionar. “Há três anos já vínhamos trabalhando sem muita margem devido a uma grande reforma que havíamos feito. Ninguém imaginava uma situação como a que estamos vivendo”, explica Jocob Mehl.

O espaço físico, que pertence a Jacob Mehl, está em negociação e um dos possíveis compradores é alguém do ramo. “Vamos esperar. Mas mesmo que aconteça, não haverá outro buffet com o nome Ilha do Mehl”.

História

A história do buffet Ilha do Mehl, que faz referência à atração turística do litoral paranaense e ao sobrenome de seu idealizador, começou em 1977. À época, a maioria das celebrações de grande porte, como casamentos, eram restritas aos salões do clubes mais tradicionais da cidade.

Foi o Ilha do Mehl, no bairro Mercês, um dos precursores no segmento de buffets exclusivo para eventos. Ao longo dos 43 anos de história, a casa de eventos realizou quase 10 mil festas, a maioria delas, casamentos. E não apenas em Curitiba: foram 150 eventos por todo o Paraná, Santa Catarina e Rio grande do Sul.

Joáo Mehl e a filha Luiza no Ilha do Mehl em 2017: buffet fecha após 43 anos. Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo / Arquivo

A trajetória foi marcada pela evolução gastronômica. Lá atrás, nos anos 70, a moda era servir carnes inteiras. “Colocávamos às mesa perus à Califórnia inteiros, leitões com maçã na boca e até carneiros. Fazia parte da decoração dos eventos”, relembra. Neste tipo de serviço, um funcionário ajudava os convidados a se servirem.

Depois, conta Jacob Mehl, as adaptações foram sendo feitas. “O mignon virou atração e hoje era difícil fazer uma festa sem este preparo”, diz. Outra curiosidade foram as massas, que no início dos trabalhos eram impensáveis para celebrações refinadas, mas que atualmente, eram uma das maiores atrações. “Preparos como conchiglioni e rondelli conquistaram o curitibano e faziam sucesso”.

Nos últimos anos, o buffet também se adaptou aos fingers foods, que tomou o lugar dos canapés, populares quando tudo começou.

“A gente sempre fez tudo pensando em tornar as celebrações especiais, com muito perfeccionismo em tudo que fazíamos. Vai ficar na memória”, diz Jacob Mehl.


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