Nova cracolândia?

Consumo de drogas no Centro de Curitiba incomoda moradores e comerciantes

Comerciantes e trabalhadores estão assustados com o consumo de drogas na esquina das avenidas Marechal Floriano Peixoto e Sete de Setembro, no Centro de Curitiba. O local fica ao lado de um shopping e de uma universidade e, segundo os denunciantes, chega a receber até 40 pessoas, as quais passam as noites embaixo de marquises. Quem trabalha na região conta que, além do consumo de entorpecentes no local, há também o medo das ameaças feitas por alguns integrantes desses grupos. Fezes, urina e brigas são outros problemas frequentes.

“Eles bebem, usam e abusam de drogas, brigam e ainda fazem as necessidades na rua. É praticamente uma ‘cracolândia’ aqui em Curitiba porque acontece de tudo ali”, afirmou um funcionário do shopping. O termo utilizado pelo funcionário faz referência ao bairro Santa Efigênia, em São Paulo, que ficou popularmente conhecido pelo intenso tráfico de entorpecentes, e se tornou alvo de programas do estado de São Paulo para controlar a situação. “Só que aqui em Curitiba o problema continua, e a população está se tornando refém”, criticou o funcionário.

Segundo o síndico de um dos edifícios comerciais localizados na região, o problema já foi transmitido à prefeitura de Curitiba e à polícia. “Todos os órgãos já foram acionados, mas não houve resultado”, afirmou. Diante disso, os comerciantes decidiram investir em mais iluminação, na tentativa de trazer mais segurança à região. No entanto, nada resolveu. “Talvez tenhamos que recorrer ao absurdo de cercar tudo com grade”, adiantou.

Enquanto isso não acontece, uma colaboradora, de 53 anos, que atua em uma empresa nas proximidades afirma que trabalha sempre com medo. “Quando chego, eles estão ali e não querem sair. No fim da tarde se aglomeram de novo e nos obrigam a fechar o comércio mais cedo”.

Outro trabalhador, de 68 anos, conta que algumas pessoas – sob efeito de drogas – também ameaçam quem se coloca contra o grupo. “Dizem que vão quebrar vidros das lojas e que têm uma faca na bolsa pra usar contra nós. Não sabemos o que fazer”, lamentou.

Apesar do problema relatado à reportagem, a Polícia Militar informou não possuir dados referentes aos atendimentos na região. Por isso, não confirmou se há registros de consumo ou tráfico de drogas, e de perturbação de sossego na área citada. No entanto, a pedido da reportagem, a assessoria de imprensa da PM disse que irá realizar esse levantamento e deve divulgá-lo nos próximos dias.

A orientação da PM é de que, caso a pessoa se depare com situações como essas relatadas na matéria, a corporação deve ser acionada pelo telefone 190.

Problema social

De acordo com a Fundação de Ação Social (FAS) da prefeitura de Curitiba, entre os dias 1.º de dezembro de 2017 e 5 de janeiro de 2018, foram feitas 13 solicitações sobre moradores de rua na região do shopping por meio da Central 156. Dessas, sete terminaram com os indivíduos abordados e encaminhados à rede de acolhimento do município.

No entanto, em cinco casos ninguém foi encontrado nos locais descritos e em um deles – que citava uma grande aglomeração de pessoas ao lado do shopping – os indivíduos recusaram atendimento pela equipe da FAS.

Ainda segundo o órgão, isso acontece porque a equipe do Centro de Abordagem 24 horas da fundação não pode obrigar ninguém a deixar as ruas. “A equipe apenas irá informar, orientar e ofertar às pessoas em situação de rua o atendimento na rede de serviços do município”.

A reportagem esteve no local na noite desta segunda-feira (8) e encontrou um grupo de aproximadamente dez pessoas dormindo na região, mas não havia consumo de drogas.