Economia x saúde

Comércio de Curitiba teme “quebradeira geral” caso bandeira mude após alta da covid-19

No centro, a loja de chocolate está tomando os cuidados para evitar a contaminação. Foto: Lineu Filho/Tribuna do Paraná.

O comércio de Curitiba anda dividido quanto a um novo fechamento dos setores considerados não essenciais durante a pandemia de coronavírus (covid-19). A tensão no ar ocorre por causa do aumento do número de casos e a suspeita de uma possível determinação da prefeitura para troca da cor da bandeira de alerta para conter o contágio. Atualmente, pelo menos até a tarde desta sexta-feira, Curitiba segue em bandeira amarela, que significa uma restrição mais branda para todas as atividades.

Em caso de troca de bandeira para as cores laranja ou vermelha, áreas consideradas não essenciais poderiam fechar novamente. Curitiba passou de 8 mil casos ativos da doença na quinta-feira (19) e chegou a 1.602 mortes na cidade.

Para a o presidente da Associação Comercial do Paraná (ACP), Camilo Turmina, o comércio não tem nada a ver com esse novo aumento de casos. Um novo fechamento significaria uma quebradeira geral, por isso a ACP não deve orientar os comerciantes a fechar. “Somos totalmente contra fechar o comércio, especialmente o comércio não essencial, que não recuperou nem o número de pessoas que frequentava as lojas. Esse novo normal significa que as pessoas ficam o mínimo possível nas lojas. Elas compram e pesquisam pela internet e, quando muito, vão buscar as coisas”, disse o presidente.

Ainda de acordo com ele, a responsabilidade pelo atual aumento no número de casos é do poder público e do comportamento de parte das pessoas que continuam saindo de casa e se aglomerando em bares e restaurantes. “Há uma negligência do poder público em permitir que as pessoas se aglomerem. No comércio estamos fazendo o nosso papel, com controle do número de pessoas dentro das lojas e todos os cuidados sanitários. Nos shoppings, por exemplo, há um rigoroso controle. Mas isso não se vê em bares e restaurantes. Muitos ficam lotados, sem distanciamento e, em alguns bares, não há uso de máscaras. Os ônibus também ficam lotados e não se toma providências”, aponta Turmina.

“As pessoas estão abusando, indo em festas, viajando no feriado. A irresponsabilidade está aí”, diz Luiz Paulo Amaral, dono de uma loja de rodas no Centro.

Nas ruas do Centro de Curitiba, os comerciantes se dividem nas opiniões. Ao mesmo tempo em que se mostram preocupados com o aumento do número de casos, não acreditam que um fechamento das lojas iria resolver. “Se tiver que fechar, vamos fechar por causa da fiscalização. Não tem muito o que fazer. Mas só fechar o que não é essencial, acredito que não vai resolver. O problema não está no comércio, mas nas aglomerações. As pessoas estão abusando, indo em festas, viajando no feriado. A irresponsabilidade está aí”, diz Luiz Paulo Amaral, 32 anos, dono de uma loja de rodas para veículos, no Centro.

O empresário Ariel Calisto, 38 anos, dono de uma marca de chocolates com lojas pela cidade, uma delas no Centro, também não quer que feche. “Não apoio o fechamento. Estamos tomando os cuidados necessários. A gente e os outros comerciantes, de modo geral, já acostumou, já sabe lidar com a situação de restrição de número de pessoas e proteção com máscara, álcool em gel e luva”, defende Calisto. Ainda segundo ele, o período do Natal é fundamental para a retomada dos prejuízos acumulados lá no início da pandemia. “Nem sabemos se o Natal terá o movimento que esperamos, mas apostamos nisso. É um período importante. Ninguém se recuperou ainda e os empréstimos feitos lá no começo da pandemia já foram usados. Não é possível fechar agora”, reclama o empresário.

Já barbeiro e cabeleireiro Marcelo Pereira dos Santos, 49 anos, dono de um salão próximo da Praça Osório, diz que deveria fechar tudo por uma semana. O setor dele foi bastante afetado no início da pandemia, mesmo assim o empresário se preocupa com o contágio. “Mas teria que fechar tudo, geral, não adianta fechar só os salões de beleza e manter abertos os shoppings, bares, restaurantes, supermercados. Se for assim, fica tudo a mesma coisa e só prejudica alguns”, explica Santos. “Tem que ser lockdown de sete dias. Todo mundo em casa. Aí, eu não teria problema em fechar o meu salão por esse tempo”, finaliza.

Marcelo Pereira dos Santos se preocupa com o contágio diz que o comércio poderia fechar por uma semana. Foto: Lineu filho.

Promessa de Greca

Antes da eleição de 15 de novembro, o então candidato à reeleição em Curitiba, Rafael Greca (DEM), garantiu em sua rede social que não vai teria lockdown após as eleições. De acordo com o prefeito que viria a ser eleito em primeiro turno, o contágio é quem define as bandeiras da cidade. “Curitiba tem um sistema de média ponderada para avaliar a pandemia, que está controlada, estabilizada na bandeira amarela. Por isso eu peço, continue se cuidando, use máscara, lave bem as mãos, use álcool em gel e mantenha o distanciamento social”, disse.