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Cavalos que produzem soro contra aranha-marrom são roubados na Grande Curitiba

Fá Sintonia foi um dos equinos levados do CPPI. Foto: Divulgação/Centro de Produção e Pesquisa de Imunobiológicos
Fá Sintonia foi um dos equinos levados do CPPI. Foto: Divulgação/Centro de Produção e Pesquisa de Imunobiológicos

Dois cavalos utilizados no processo de produção de soro contra o veneno da aranha-marrom foram roubados do Centro de Produção e Pesquisa de Imunobiológicos (CPPI), da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), na última terça-feira (17). A unidade fica em Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba, e abrigava 72 equinos produtores do antídoto – agora são 70.

Para ajudar a salvar vidas humanas, o estado gasta por mês merca de R$ 10 mil por cavalo do CPPI não só com alimentação, mas também com insumos utilizados na produção do soro. Entretanto, o impacto é muito mais do que financeiro: a partir do plasma do sangue dos dois cavalos são produzidas 1, 2 mil ampolas de soro por ano, capazes de atender 120 pacientes.

A Sesa informa que os cavalos roubados são crioulos mestiços. Um deles é uma fêmea branca e outro, um macho mesclado nas cores marrom e branco. A fêmea tem 20 anos e atende pelo nome de Fá Sinfonia. O macho, chamado de Pé de Pano, tem 17 anos. Conforme a Sesa, ambos têm microchip de identificação implantados no pescoço e são mansos.

Foto: Jonathan Campos/Arquivo/Gazeta do Povo
Foto: Jonathan Campos/Arquivo/Gazeta do Povo

Segundo o médico veterinário João Carlos Minozzo, chefe da Divisão de Pesquisa do CPPI, os dois animais integram a cavalaria do centro há mais de dez anos e, assim como todos os cavalos da unidade, cada um deles produz a cada ano uma média de 60 litros de plasma – a parte líquida do sangue utilizada na fabricação do soro. Cada litro de plasma, por sua vez, é capaz de produzir em torno de dez ampolas de 5 ml do produto final.

Embora o tratamento prescrito pelos médicos varie conforme a gravidade da lesão, o tratamento usual se completa com a aplicação de dez ampolas. “A gente prepara um animal desse durante muito tempo até chegar à fase de produção. Não é um simples cavalo. Há todo um investimento feito pelo estado, os cuidados, as imunizações, a assistência veterinária. Ele não é um cavalo para qualquer trabalho”, explica o veterinário.

A preocupação de Minozzo agora é de que o casal de equinos seja submetido a tarefas pesadas, o que pode comprometer a serventia deles para a fabricação do antídoto. Além de uma alimentação específica, os cavalos do CPPI são diariamente supervisionados por especialistas. O custo de manutenção de cada um dos cavalos é em torno de R$ 10 mil por ano. “A pessoa que fez isso não tem noção da gravidade. Existe uma perda econômica, mas o mais preocupante são os cuidados que esses animais devem ter”, ressalta Minozzo.

Fá Sinfonia e Pé de Pano foram levados do CCPI entre 17h e 18h da última terça. Assim como os demais equinos da unidade, eles estavam em um pátio próximo às instalações do Centro, que tem vigia 24 horas. Até a manhã desta quinta-feira (19), não havia nenhuma informação sobre suspeitos, nem dos possíveis paradeiros dos cavalos. A Polícia Civil de Piraquara investiga o crime. Quem tiver informações dos cavalos, pode ligar para o CPPI no telefone 3673-8800.

Referência

Soro produzido com o plasma dos animais do CPPI. Foto: Divulgação/Sesa
Soro produzido com o plasma dos animais do CPPI. Foto: Divulgação/Sesa

O CPPI é referência nacional na produção do soro antiloxoscélico, contra a picada de aranha-marrom. Os ataques provocados por este tipo de aracnídeo são muito comuns na região Sul do país, daí a importância de conseguir recuperar Fá Sinfonia e Pé-de-Pano.

Dados da Sesa indicam que em 2018 já foram 4.889 casos de incidente com aranhas (de todas as espécies) no estado, dos quais 1.570 foram na região metropolitana. Durante todo o ano passado, foram 4.133 no Paraná e 2.196 na RMC.

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