Patrimônio

Assim como o Museu Nacional, museus de Curitiba também têm dificuldades de manutenção

Museu Paranaense é uma das instituições com sistema

O incêndio de grandes proporções que destruiu o Museu Nacional, na Zona Norte do Rio de Janeiro, na noite do último domingo (2),  colocou o país em alerta para o problema da má conservação de seus museus. Em Curitiba, por exemplo, seis museus estão com regularização pendente no Corpo de Bombeiros. E esses são os que estão em “vantagem”, já que parte dos demais, enquanto isso, nem sequer pediram a vistoria — o que sugere situação ainda mais crítica.

Segundo a corporação, entre os problemas mais comuns nessas seis instituições avaliadas encontram-se a falta de um plano atualizado de segurança contra incêndio, o que inclui desde a sinalização de saídas de emergência até a localização de extintores e hidrantes. “ Não quer dizer que o local esteja inseguro, mas que precisa corrigir alguns detalhes para estar 100% de acordo com as exigências”, informou o major Leonardo Mendes, do Corpo de Bombeiros.

Mesmo assim, de acordo com ele, os que passaram pela vistoria já estão um passo à frente de outras instituições de Curitiba que nem sequer solicitaram a regularização. “Nossa preocupação maior é com alguns museus da cidade que não nos procuraram porque nós não sabemos como são as condições deles”, explica. A corporação não passou o número de museus regularizados na cidade e nem a lista completa de pendências.

Segundo Renato Carneiro, responsável pela Coordenação do Sistema Estadual de Museus (Cosem) da Secretaria da Cultura do Estado do Paraná (Seec), as instituições de responsabilidade do estado fazem o possível para realizar manutenções frequentes nos prédios e conservar seus acervos — mas nem sempre têm um retorno do Corpo de Bombeiros. “No caso do Museu Paranaense, por exemplo, nós cumprimos todas as exigências, mas os bombeiros nunca voltaram para ver. Já o Museu de Arte Contemporânea do Paraná (MAC) e o Museu Alfredo Andersen (MAA) estão em processo de restauro e serão postos em conformidade com as normas técnicas”, adiantou.

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Complicadores

No entanto, Carneiro confirma que nem sempre há verba suficiente para a manutenção frequente dos museus. “Os recursos destinados à cultura são muito inferiores àqueles destinados aos outros setores e a manutenção diária acaba não se dando como deveria ser”, destaca.

Ele explica ainda que alguns prédios dos museus do estado são tombados como patrimônio histórico, o que dificulta ainda mais as ações preventivas. “Esses prédios têm uma série de normas que precisam ser seguidas em qualquer serviço de manutenção. Isso torna o trabalho mais caro e os recursos nunca são condizentes com essa necessidade porque o Estado não tem esses valores”, explica.

Mesmo assim, o responsável pela Cosem informa que as instituições têm recebido melhorias e que vários museus da cidade passaram por reformas recentes com manutenção da rede elétrica e, principalmente, correção de infiltrações que geravam mofo e colocavam em risco seus acervos. Segundo a Seec, entre os meses de janeiro e agosto de 2018, foram investidos R$ 7,7 milhões nos museus de responsabilidade da secretaria — o Museu da Imagem e do Som do Paraná (MIS-PR), Museu Alfredo Andersen (MAA), Museu de Arte Contemporânea (MAC), Museu Oscar Niemeyer (MON) e Museu Paranaense. A instituição ainda dá apoio ao Museu do Expedicionário, administrado pela Legião Paranaense do Expedicionário.

Situação dos museus

Museu Oscar Niemeyer

Procurada pela reportagem, a direção do museu não quis se pronunciar a respeito da manutenção do prédio. De acordo com a Seec, entre janeiro e agosto de 2018, foram repassados R$ 5,194 milhões para custeio de despesas.O museu foi inaugurado em 2002 e possui 12 salas de exposição que realizam mais de 20 mostras anualmente e recebem, juntas, um público superior a 300 mil visitantes.

Museu Paranaense

Um dos museus que está passando por melhorias é o Museu Paranaense, localizado no bairro São Francisco. Com um acervo de 500 mil peças, ele sofreu com diversas falhas de impermeabilização e problemas de estrutura até o primeiro semestre deste ano, quando as obras começaram. O restauro começou no final de 2017 e também atendeu solicitações do Corpo de Bombeiros como troca do piso e manutenção das mangueiras de incêndio. Recebeu R$ 1,362 milhão do governo estadual em 2018. No entanto, o coordenador do Cosem, Renato Carneiro, alerta que o sistema contra incêndios é antigo e que a administração do museu gostaria de automatizá-lo. “Há cinco anos estamos tentando isso, mas não há recursos financeiros”, disse o diretor, que tenta anualmente angariar fundos pela Lei Rouanet, na qual as empresas recebem incentivos fiscais para investir em cultura. “Todo ano fazemos projetos, mas ainda não conseguimos”, lamentou. O museu possui um acervo de 500 mil peças e tem 141 anos de existência, ocupando a terceira posição entre os museus mais antigos do país em funcionamento. “Agora, com o incêndio no Museu Nacional, infelizmente passamos para a segunda posição”.

Museu de Arqueologia e Etnografia da UFPR

A instituição – localizada em Paranaguá, no Litoral do estado – também foi procurada pela reportagem, mas preferiu não se pronunciar a respeito da manutenção do prédio. O local é coordenado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), funciona em um edifício datado do século 18 e possui 80 mil peças em seu acervo.

Museu de Arte Contemporânea do Paraná

O MAC apresenta problemas de infiltração, mofo e precisa de ampla manutenção. “Estamos sofrendo com as infiltrações há quase oito anos e tomando pequenas providências para conter o problema. Além disso, as manutenções no prédio têm sido esporádicas e não temos um sistema eletrônico contra incêndios”, disse a diretora do museu, Lenora Pedroso. Segundo ela, o que acalma a administração é saber que um processo de licitação já foi aberto para a restauração do prédio. “Nosso acervo composto por 1.800 obras de arte já foi transferido para o Museu Oscar Niemeyer, no Centro Cívico, e agora estamos preparando a mudança dos setores de trabalho e do nosso acervo de pesquisa, que é referência no estado”. O projeto de restauro começou a ser desenvolvido em 2016 e a previsão, segundo ela, é de que a obra comece até o início do ano que vem. “Será construído um prédio anexo, teremos acessibilidade com elevadores e toda parte elétrica deve ser reformada, já que esse é um problema comum em construções antigas”, informou Lenora. De acordo com a Coordenação do Sistema Estadual de Museus (Cosem), o valor total do restauro é de aproximadamente R$5,8 milhões.

Museu da Imagem e do Som do Paraná

O MIS recebeu R$ 325 do governo estadual em 2018. Em, 2016, o Palácio da Liberdade — sede original do museu — foi totalmente revitalizado. O investimento total nas obras de restauro, reforma e readequação foi de R$ 2,1 milhões, com recursos próprios da Seec. As obras incluíram o reforço das fundações do edifício, recuperação da cobertura, reforço em concreto para paredes externas e internas. A segunda etapa incluiu obras de recuperação de forros e pisos, pinturas murais, além de novas instalações elétricas, hidráulicas, lógicas e sanitárias. Os sistemas de segurança e monitoramento, adequação ao novo uso com salas de exposição e pequeno auditório e pintura total do edifício também fizeram parte desta etapa. Já em 2015 foi realizado todo o projeto de iluminação e adaptação dos espaços de trabalho, com pontos de internet, energia e telefone.

Museu do Expedicionário

Outro museu da capital paranaense que tem procurado se adequar às exigências do Corpo de Bombeiros é o do Expedicionário, que possui um acervo com 25 mil itens relacionados à Segunda Guerra Mundial no bairro Alto da XV. O local fechou para reforma no mês de julho e reabriu na primeira semana de agosto. De acordo com o coronel Said Zendim, diretor do museu, uma das mudanças realizadas durante a obra foi a revitalização do piso, que voltou a ser o de 1946 – de tacos de madeira. “Removemos os carpetes e deixamos o piso original, que é menos susceptível ao fogo. Também trocamos algumas cortinas por tapumes, e fizemos a manutenção das instalações elétrica e hidráulica do prédio”, enumerou. Além disso, ele adianta que nesta quarta-feira (5) será realizada a atualização dos sistemas de incêndio do museu. “Vamos instalar uma central com sensores em todas as salas”. Segundo ele, o objetivo é fazer com que qualquer sinal de fumaça ative o alarme para que seja possível conter rapidamente o foco de incêndio. Ainda de acordo com o coronel, as melhorias atenderam aos padrões exigidos para prédios tombados e foram realizadas com apoio dos setores público e privado. “Contamos com recursos das Forças Armadas, Secretaria de Cultura do Estado do Paraná, empresários e instituições locais”.

Museu Alfredo Andersen

Segundo Renato Carneiro Junior, coordenador do Sistema Estadual de Museus, problemas de manutenção também atingem o Museu Alfredo Andersen, localizado no Centro de Curitiba. Como o edifício remonta ao final do século 19, ele também sofre com pontos de infiltração, problemas na estrutura de madeira e necessidade de manutenção da rede elétrica. Por isso, as salas de exposição estão fechadas desde o dia 22 de agosto para reforma. Apenas as oficinas e o setor administrativo continuam funcionando. A obra, de acordo com o coordenador, deve ser entregue em novembro e custará R$ 700 mil. Os recursos são da iniciativa privada. De acordo com a Seec, também está em fase de licitação outro projeto de reforma e restauro da sede do MAA, edificação tombada pelo patrimônio histórico e cultural do estado do Paraná, que soma mais R$ 150 mil ao valor da obra. O museu foi criado por pessoas que conviveram com Alfredo Andersen e o admiravam. Essas pessoas criaram uma exposição de suas obras no prédio da Rua Mateus Leme, onde Andersen viveu e trabalhou como artista e educador. O edifício apresenta características do estilo neoclássico desenvolvido pelos imigrantes alemães que se fixaram em Curitiba.

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