Cultura de guerra na paz

Discute-se muito a cultura da paz em tempos de guerra. Trata-se, no entanto, de reflexão ilusória, porque faz parte da humanidade a cultura da guerra, mesmo durante a paz. Organizações não-governamentais, universidades, instituições religiosas, governos e indivíduos se empenham há mais de duas décadas à procura de caminhos para a paz. Entre estes, destaca-se o francês Jacques Delors.

Ex-ministro da Economia da França, Delors organizou a criação do Mercado Comum Europeu, preparando terreno para a União Européia. Referendado pelo Vaticano, ao qual se mantém fiel, Delors secretaria a Unesco, coordenando vários cursos na condução de nações inteiras pelo caminho da cultura da paz e de um amálgama político, econômico, social e religioso. Seus projetos são desenvolvidos pelo Centro Europeu de Informação Jacques Delors em quase todos os países-membros da União. E uma das máximas do Centro se refere a participação global das nações na proteção à natureza. 

Como a mídia pode estimular a cultura da paz se as decisões dos blocos hegemônicos são unilaterais, contrariando o princípio de soberania dos povos? De que forma a cultura da paz se introduzirá na educação formativa dos cidadãos do País, se este corre o risco de uma provável invasão e divisão por causa das riquezas naturais, como a água, por exemplo? 

Receber, conservar, repartir e continuar o ciclo de reprodução é um aspecto. Receber, conservar e repartir pela força ou por decisões alheias à vontade transcende aos princípios da cultura da paz. 

Transportando essa preocupação para o jornalismo ao analisar seu papel social, percebe-se claramente a tendência da imprensa na direção oposta à cultura da paz. O gosto pelo escândalo, pela fofoca, a denúncia evasiva, o tiroteio de palavras, o prazer nas tragédias humanas, a exaltação de conflitos, alimentam as redações das empresas de comunicação. Sem esse combustível não há leitores, ouvintes ou telespectadores.

O prazer pela catástrofe transforma a mídia em aliada da guerra, seja ela urbana, civil ou entre nações. A semente da cultura da paz depende de conscientização pessoal e não da imposição de valores. A paz jamais será resultado do coletivo para o individual, mas o despertar do pensamento unitário para o coletivo.

Ruben Holdorf é
Jornalista, professor do Unasp e mestrando em Educação.
E-mail: dargan_holdorf@hotmail.com

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