Crime organizado ou autoridades desorganizadas?

Chegam a ser cômicas as atitudes tomadas por representantes do povo nas questões relacionadas à segurança pública. Tantas são as palermices e comentários de quem nada entende que acabei por concluir que não existe no Brasil o chamado crime organizado, pois se existisse seria um fenômeno, enfim teríamos alguma coisa organizada neste País. Ninguém leva a sério a questão da segurança pública, a não ser quando o sistema de travamento do carro blindado de algum rico não funciona a contento e o tal é seqüestrado. Para demonstrar que não estou exagerando, basta ver que em 1993, quando policiais militares mataram 22 moradores da favela de Vigário Geral, no Rio de Janeiro, em vingança à morte de 4 outros policiais, as autoridades repetiram o sonoro coro pós-tragédia: “Vamos investir na Polícia, exigindo maior nível de escolaridade, aumentando os salários e expulsando os corruptos”. Hoje, dez anos depois, vejam que maravilha está o Rio, continua “lindo” e… extremamente violento. O Exército saiu às ruas e deu sua triste contribuição, matou um desavisado professor que não parou em uma barreira militar, como se no Rio fosse fácil distinguir o que é uma barreira policial e o que é um cerco de traficantes. Com as tropas federais nas ruas o índice de criminalidade não diminuiu, e as autoridades estaduais constataram o que já deviam saber: que a atividade policial é extremamente complexa e deve ser levada a efeito por homens treinados especificamente para tal mister, não se poderá substituí-los por outra força.

Além de que, imaginem a vexatória situação a que o Exército estaria exposto, caso os traficantes adotassem o sistema de matar três recrutas das Forças Armadas para cada traficante preso ou morto em ações que contassem com a participação de forças federais. É uma hipótese, mas não é improvável, tendo em vista que recrutas normalmente andam fardados e desarmados, somado ao fato de que grande parte deles reside na periferia ou nos morros, o que os torna alvos fáceis. Assim, para a sociedade, em que pese o caos atual, é preferível que os militares permaneçam cuidando da Selva amazônica, desfilando no dia 7 de setembro e treinando para uma guerra que nunca virá, pois pelo menos seremos poupados de vê-los em futuro próximo aquartelados e envergonhados tentando explicar as razões de seu fracasso. Policial é policial, capacitado profissionalmente para o exercício dessa perigosa e intrincada missão, e se morre no cumprimento do dever já sabia, ou devia saber de antemão da existência desse risco.

A governadora Rosinha Matheus e outros que abandonem o surrado discurso de que por força da Lei de Responsabilidade Fiscal não pode realizar investimentos na área de segurança pública, e que tratem de combater duramente a corrupção, o que com certeza, permitirá a contratação de mais policiais, pois do contrário todos os outros governadores incompetentes adotarão o mesmo procedimento. Afinal entre contratar mais policiais e investir na segurança, é mais cômodo e menos oneroso solicitar tropas federais. É lamentável que a Lei de Responsabilidade Fiscal tenha dificultado investimentos em educação, saúde e segurança, mas tenha sido ineficiente para dificultar os estratosféricos ganhos dos corruptos.

Analisando friamente a questão, concluo que não é o crime no Brasil que seja tão organizado, são as autoridades constituídas que não se organizam.

Cláudio Marques da Silva

é delegado de polícia regional titular da Delegacia Regional de Paranacity/PR.

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