Crescimento de 3,5%

O Brasil deve crescer neste ano 3,5% no seu Produto Interno Bruto, ou seja, na soma de tudo o que produz. A previsão é do Fundo Monetário Internacional e bate com as previsões da maioria das autoridades brasileiras. Se considerarmos que no ano passado crescemos como rabo de cavalo, pra baixo, a notícia é de bater palmas. O Fundo prevê ainda que no ano que vem o crescimento do nosso País será da mesma ordem. Palmas aqui, palmadas ali, pois é evidente que esse índice de crescimento, para um país de economia deprimida, com recorde de desemprego, juros altíssimos, inflação teimosa, se bem que relativamente domada, e que mantém um terço de sua população abaixo do nível de miséria, é muito pequeno. Considere-se ainda que todos os dias nascem brasileiros. E nascem mais do que morrem. São mais bocas para comer, mais gente para ser sustentada e, portanto, esse crescimento vegetativo deveria ser muito maior.

“Na América Latina, embora o crescimento do PIB, principalmente no Brasil, tenha sido fraco em 2003, a recuperação econômica deve se consolidar em 2004, sustentada pelo aumento da demanda doméstica, aumento nos preços de commodities e a recuperação da economia mundial”, escrevem, em seu relatório, os técnicos do FMI. Essa análise é indulgente, mas vamos torcer para que se concretize. Há de se ter espírito crítico, o que talvez tenha faltado aos técnicos do FMI, mesmo porque vêem as coisas como tecnocratas e de longe do país analisado, o Brasil.

Quando falam em recuperação econômica sustentada pelo aumento da demanda, não sabem ou não querem ver que no Brasil de hoje os salários estão sendo deprimidos, perdendo seu poder de compra. O mínimo é microscópico e os impostos gigantescos, talvez a maior carga tributária do mundo. Isso significa menos dinheiro no bolso do povo e das empresas e mais dinheiro nos cofres do governo. Como conseguir o aumento da demanda previsto pelos técnicos do FMI?

A notícia alvissareira de um crescimento econômico de 3,5% em relação ao PIB, neste e no ano que vem, deve ser considerada também em cotejo com o desempenho de outras economias. O Fundo projeta para este ano um crescimento para o mundo da ordem de 4,6%. Bem maior que o do Brasil.

A economia norte-americana, que lidera a recuperação da economia mundial, também deverá crescer 4,6%. Maior que a do Brasil. A projeção para o nosso País é inferior à da Argentina, que se prevê crescerá 5,5%; que a do Chile, que deverá crescer 4,6%; que a do Uruguai, com 7%; que a da Bolívia, que é de 3,6%, e até do Suriname, que deverá crescer 5,1%. Nosso crescimento, de acordo com esse estudo, será também inferior ao dos países emergentes da região andina, como Colômbia, Equador, Peru e ao índice de crescimento da Venezuela, estimado em nada menos que 8,8%.

Em termos de América do Sul, o Brasil só ganha do Paraguai, cujo aumento do PIB deverá ficar em 2,7% e da Guiana, com 2%. Cresceremos menos que a Índia, para a qual se prevê 6,8% e a China, com nada menos que 8,5%.

O relatório insiste na consolidação do nosso crescimento, elogiando a política fiscal brasileira que tem ajudado a aliviar as preocupações de estabilidade da dinâmica da dívida do setor público. Mas aponta o endividamento brasileiro, que é de cerca de 80% do PIB, em termos brutos, como significativa vulnerabilidade do País. Em suma, vamos menos mal, mas ainda muito mal e não é hora de bater palmas para o espetáculo do crescimento. É um espetáculo de segunda categoria.

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