Crescimento com justiça social

A economia brasileira demonstrou notável vocação de crescimento na maior parte do século XX. Entre 1950 e 1980, o Brasil experimentou uma expansão acelerada da economia e do emprego. Tal crescimento, porém, não foi acompanhado de políticas públicas abrangentes e eficazes destinadas a reduzir a pobreza e melhorar a distribuição de renda.

Nos anos 80, o Brasil não conheceu nem uma coisa nem outra: nem crescimento sustentado, nem políticas de redução da desigualdade. Ao contrário, passou a enfrentar uma inflação cada vez mais acelerada.

A partir do Plano Real, enquanto avançava em direção a uma vitória definitiva contra o fantasma da hiperinflação, o governo do presidente Fernando Henrique comandou ações destinadas a transformar não apenas a estrutura produtiva, mas também a estrutura social do país. Em um período relativamente curto, implantou políticas sociais adequadas, com boas iniciativas nos campos da educação, da saúde, da reforma agrária e da transferência direta de renda, entre outros. Isso se deu, porém, em um contexto de crescimento ainda aquém do desejável, o que se refletiu na lenta expansão do emprego.

O País tem agora a oportunidade rara de combinar crescimento sustentado e promoção de políticas públicas de ataque à pobreza e à desigualdade. Estou convencido de que, com determinação e persistência e tendo um rumo claro, podereremos colher os frutos do esforço feito nos últimos anos. Como resultado da seqüência de transformações econômicas e sociais desse período, o País está diante de uma oportunidade histórica para abrir um círculo virtuoso de crescimento econômico e justiça social. Esta oportunidade não deve ser desperdiçada!

A estabilidade é uma condição necessária para o crescimento, embora não suficiente. É preciso, portanto, como ponto-de-partida, manter o seguinte tripé da política econômica: o regime de livre flutuação cambial, o regime monetário baseado nas metas de inflação e, sobretudo, o novo regime fiscal marcado pela transparência e responsabilidade.

A retomada da vocação brasileira para o crescimento requer um amplo plano de ação, cujos detalhes transcenderiam os objetivos neste limitado espaço: a redução do déficit em conta-corrente; a reforma tributária focada na melhoria da competitividade; o aumento dos investimentos em infra-estrutura, e a melhoria da oferta e das condições de financiamento.

Só assim retomaremos a trilha do crescimento, que não queremos que seja o mesmo do passado. Queremos um crescimento sustentado, que reduza a pobreza e a desigualdade. Que não exija ordem apenas da maioria e distribua o progresso somente para poucos.

Nosso compromisso é com a mudança, mas segura e bem feita. Porque o Brasil quer mais e quer assim.

José Serra

é senador (SP), ex-ministro de Saúde e candidato à Presidência da República (PSDB-PMDB).

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