É possível, quase provável, que o presidente Lula retire o apoio que vem dando ao senador Renan Calheiros, objeto de nada menos que cinco representações por atos que ferem a ética parlamentar e diplomas legais cíveis e criminais. Até agora o senador alagoano tem conseguido manter-se na presidência do Senado, sem descer do seu trono e muito menos ser cassado, porque tem o apoio da base governista, da qual o seu partido, o PMDB, é a agremiação majoritária. Mas as posições de Renan têm sido tão constrangedoras e vêm depondo a tal ponto contra o conceito do Senado que até mesmo peemedebistas e petistas já pedem que ele se afaste do cargo. Senão, o ambiente contra ele formado na câmara alta pode levar à rejeição da CPMF. Esta contribuição, chamada de imposto do cheque e que é hoje a ambição primeira de Lula, renderá para o governo, só neste ano, 40 bilhões de reais. E a situação acaba de conseguir, numa longa sessão da Câmara, a aprovação da prorrogação do que deveria ser provisório para até o final do governo Lula.
Na Câmara, a oposição à CPMF não resistiu ao situacionismo, que está armado da caneta e de cargos e ?convenceu? a maioria a prorrogar esse furto do dinheiro do povo e das empresas. Furto que se faz de forma homeopática, mas continuamente e em todas as operações que envolvam movimentação financeira. O resultado disso é enorme sobeja para despertar a gula do governo, que baba diante da perspectiva de tanto dinheiro continuar entrando no Tesouro.
Derrotada na Câmara, a oposição à CPMF poderá ganhar no Senado, onde o governo conta com maioria apenas eventual. E há um enorme desgaste das forças situacionistas diante da questão Renan Calheiros. Ele conseguiu que petistas e peemedebistas se voltassem contra ele. Seus pecados são muitos e não se limitam aos descritos nas cinco denúncias, a última apresentada agora e que o acusa de mandar vigiar senadores da oposição para buscar alguma coisa contra eles que sirva para chantagens na hora da votação de seus processos. Conseguiu mais inimizades ainda ao manipular, do alto de sua presidência, para afastar os senadores Pedro Simon e Jarbas Vasconcellos da Comissão de Ética. Ambos são do PMDB e reservas morais da política brasileira. Eles foram retirados abruptamente da comissão e substituídos por nomes da chamada tropa de choque do presidente do Senado.
Esse ambiente de disputas, de verdadeira guerra entre Renan e um grande número de seus pares, já chegou a níveis de guerra política, com ofensas públicas e discussões de um nível abaixo do que seria de se desejar numa casa legislativa. Como o que se pretende é o afastamento de Renan da presidência do Senado enquanto processado, e isso só é possível se o próprio acusado assim decidir, pois foi eleito para aquelas funções, os que se opõem a ele já estabeleceram que se até o dia 2 de novembro próximo ele não descer do seu trono para submeter-se a julgamento sem advogar e manipular em causa própria, haverá obstrução total no Congresso. Então, a votação da prorrogação do imposto do cheque já estará no Senado para votação e será muito mais difícil para o governo conseguir a maioria de que necessita para aprovação. Os que apóiam Renan têm como razões o espírito de corpo, a fidelidade partidária e a unidade do bloco governista que o apóia, tendo por detrás o presidente Lula. Quanto à CPMF, são em geral a favor porque Lula exige. Mas esse apoio pode vir a faltar pela fragilidade da bancada situacionista no Senado e os desgastes que sofre na defesa do indefensável Renan Calheiros. O resultado seria Renan vitorioso na marra, mas a CPMF caindo porque não tem o apoio do povo. Só o de Lula e suas bases.
Assim, com quem ficaria Lula: com Renan ou com a CPMF, que vale R$ 40 bilhões só neste ano? Há quem aposte que rifará Renan e abocanhará o dinheiro.