CPI das sanguessugas

É quase certo que a CPI das sanguessugas, desejada por parlamentares oposicionistas e alguns situacionistas que conservam vergonha na cara, morra na casca. Os dirigentes do Senado e da Câmara já deixaram claro que a gaveta é o destino do requerimento pedindo a investigação parlamentar desse golpe, que muito se assemelha àquele dos Anões do Orçamento. Baixinhos que roubaram dinheiro do povo através da manipulação de verbas orçamentárias, enriquecendo a olhos vistos, e que não só não foram punidos como alguns deles até enfeitam o cenário do Legislativo, reeleitos que foram com o dinheiro surrupiado dos contribuintes.

O caso das sanguessugas é ainda mais repulsivo, pois o que se fez foi usar prerrogativas parlamentares para apresentar emendas orçamentárias liberando recursos para a compra de ambulâncias. Negócios superfaturados realizados em conluio com bandidos travestidos de empresários. E muitos usando seus cargos de servidores públicos estáveis ou de confiança. É mais repulsivo também porque todo o golpe foi montado sob o pretexto de comprar ambulâncias, veículos necessários ao socorro e transporte de doentes, o que não falta neste País. Num Brasil em que a saúde pública é tão precária e há tanta gente morrendo nas filas e corredores de hospitais e postos de saúde, quando não ao abandono, repugna ver que políticos montam uma quadrilha com particulares e funcionários públicos para explorar essas carências. E os doentes que se danem.

A decisão do comando do Congresso é lamentável. Argumentam que não há clima para a constituição da CPI das sanguessugas porque estamos em ano eleitoral, em fim de governo e, embora não digam, às vésperas da Copa. É uma desculpa inaceitável porque se trata de investigar membros do Congresso que às dezenas se envolveram nessa nojenta maracutaia. A CPI serviria para indigitá-los e puni-los politicamente. Serviria também -e isto é urgente e necessário -para higienizar o Congresso, que não pode se transformar num esconderijo de malfeitores protegidos pelas imunidades parlamentares, pelos interesses eleitorais e até pelo desejo de acompanhar a Copa.

O PPS, PV e PSOL, três partidos pequenos mas ainda éticos, já anunciaram que vão acionar a Justiça para garantir a constituição da CPI das sanguessugas. É o caminho, embora não existam nos meios e instituições políticos regras cogentes que sejam obrigatórias. Pode até ser que a Justiça imponha a constituição da CPI, mas o mais provável é que de novo se fale em independência dos Poderes e se argumente que não deve haver interferência do Judiciário no Legislativo. E por aí ficam impunes as sanguessugas da gangue das ambulâncias. Felizmente, o Ministério Público fará sua parte e resta uma tênue esperança de que os bandidos sejam condenados.

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