Cotriguaçu ?batiza? farelo e é denunciada pela APPA

Na última sexta-feira, caminhões carregados com 4.197 toneladas de farelo de soja, que tinham como destino o terminal da empresa Cotriguaçu, instalado no Porto de Paranaguá, estavam com teor de proteína abaixo do padrão de exportação. A fraude foi comprovada por técnicos da Empresa de Classificação do Paraná (Claspar) no Pátio de Triagem do porto. Assim que a falha foi verificada, eles imediatamente comunicaram a administração do porto que determinou a paralisação da descarga no armazém, mas a operação teve continuidade e a armazenagem de mais de 4 mil toneladas foi efetivada.

Segundo o Superintendente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (APPA), Eduardo Requião, a mistura de farelo e de soja de baixo teor protéico com produtos de boa qualidade – processo conhecido como “batismo” – existe na comunidade portuária há muito tempo, o que é considerado pelo dirigente como uma ação criminosa. “Este ato praticado no terminal da Cotriguaçu coloca em risco a credibilidade dos produtores paranaenses, do Porto de Paranaguá e da economia do Estado”, disse o superintendente da APPA. Esta situação pode comprometer a qualidade de todo o pool do Corredor de Exportação. Vamos responsabilizar a empresa pelo prejuízo econômico e financeiro que isto possa gerar no sistema público e privado”, disse o superintendente da APPA.

De acordo com o diretor técnico da APPA, Ogarito Linhares, ao receber o farelo “batizado” nos graneleiros da Cotriguaçu, o produto de baixa qualidade perde-se entre os de valor protéico que atendem os padrões internacionais, o que não diminui a responsabilidade sobre a qualidade do que é exportado pelo Porto de Paranaguá. Segundo Linhares, a solicitação dos caminhões para descarga nos armazéns foi executada por ordem da própria Cotriguaçu, desrespeitando uma ordem da Claspar e da APPA. “Convocar para descarregar caminhões carregados com farelo fora do padrão caracteriza má-fé do gerenciamento da unidade local”, disse Linhares.

Atualmente 58 caminhões da empresa Imcopa carregados com farelo de soja e outros 4 da empresa Sperafico/Clevelândia que deveriam descarregar no terminal da Cotriguaçu permanecem retidos no Pátio de Triagem, sendo analisados. Na semana passada, 12 vagões carregados com soja em grão não puderam descarregar no Porto de Paranaguá e foram devolvidos a Londrina. Segundo a Claspar, a carga continha impurezas.

Medidas

Por conta das irregularidades apontadas pela Claspar e admitidas em laudo realizado pela Control Union Ltda., empresa controladora contratada pela Cotriguaçu, a tendência é que a APPA, através da sua Procuradoria Jurídica, encaminhe denúncia ao Ministério Público, sobre o crime contra a ordem pública e a economia popular. Segundo o procurador jurídico da APPA, Alaor Ribeiro dos Reis, existem atualmente junto a organismos internacionais diversos questionamentos quanto ao peso da soja exportada pelos portos brasileiros, principalmente para o mercado chinês. “Nossa preocupação é manter a credibilidade. No ano passado, problemas sobre a falta de carga para a China já haviam sido levantados e agora é a qualidade do que se exporta”, disse Reis.

Em razão das medidas mais eficazes adotadas neste ano, analistas de qualidade afirmam que os produtos exportados por Paranaguá atendem às exigências do comércio internacional, incluindo o mercado consumidor de soja.

Enquanto a ação judicial não é executada, a APPA em conjunto com a Claspar irá realizar fiscalizações mais rigorosas. O objetivo, segundo Eduardo Requião, é evitar que o Paraná seja questionado sobre sua produção e escoamento. “O rigor da fiscalização foi a fórmula encontrada para evitar que o Paraná continue difamado pela prática imoral de administrações privadas que colocam em risco a produção do Estado em nome de ações ilícitas”, declarou o superintendente. Para garantir a credibilidade, todos os embarques de farelo realizados pela Cotriguaçu passarão por uma verificação por amostragem, conforme determinação da administração portuária.

Presidente diz cumprir norma

O presidente da Cotriguaçu, Valter Pitol, garantiu ontem que estará hoje no Porto de Paranaguá, para se encontrar com o superintendente Eduardo Requião. Ele nega que a Cotriguaçu faça mistura de produtos, adiantando que a cooperativa é apenas prestadora de serviços. “Recebemos o produto, guardamos em nossos silos e embarcamos. Não fazemos qualquer mistura”, disse.

Pitol garante que a cooperativa trabalha dentro das normas estabelecidas pelo porto. “Somos parceiros há muitos anos e queremos continuar essa parceria”, garantiu o presidente. Segundo ele, se houve algum erro, “vamos conversar para corrigir”.

O dirigente cooperativista informou, ainda, que o terminal da Cotriguaçu continua operando normalmente. A cooperativa embarca, anualmente, através do Porto de Paranaguá, cerca de 2,5 milhões de toneladas de vários produtos. “Até agora tivemos poucos problemas e queremos que tudo fique resolvido”, disse Valter Pitol.

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