Coritiba cede o empate no final

Coritiba e São Caetano empataram em 1 a 1, ontem no Anacleto Campanella, e adiaram para a última rodada o futuro no Brasileiro de 2006. O Coritiba vencia o jogo até 43? do 2.º tempo, e fugia do grupo dos quatro times que caem para a Segunda Divisão. Ricardinho abriu o placar, aos 11? da etapa final. Mas um vacilo da zaga penalizou a equipe do técnico Márcio Araújo. Claudecir empatou para o time paulista.

No primeiro tempo, muitas faltas foram cometidas pelas duas equipes no meio-de-campo, mas com poucas chances reais de gol. Porém o Coritiba se mostrava mais disposto a alterar o placar da partida. Esforçado no irregular gramado do Anacleto Campanella, o Alviverde foi audacioso para chegar ao gol de Sílvio Luís.

O meia Caio e o lateral-esquerdo Ricardinho buscavam, constantemente, arremates de fora da área. Numa destas jogadas o Coxa até chegou a marcar. Aos 29? Caio bateu de fora da área. A bola tinha endereço certo, quando o goleiro do São Caetano pulou e espalmou dando rebote. Renaldo, de cabeça, empurrou para a rede. Mas o árbitro Leonardo Gaciba atendeu ao assistente e marcou impedimento.

O Azulão também se mostrava pouco eficiente nas jogadas de ataque, só conseguindo chegar ao gol de Douglas em chutes de fora da área.

Para o 2.º tempo os dois times voltaram modificados. O técnico Cuca tirou o desaparecido Dimba para colocar o atacante Somália. Do lado do Coxa, Márcio Araújo substituiu Reginaldo Nascimento, que já havia levado cartão amarelo e sentiu uma pancada no pé, para colocar James.

O Coritiba ficou mais aceso, marcando bem na defesa e meio. Mas o ataque continuava devendo. Porém, coube a Ricardinho ser premiado pelo esforço. Aos 11? o lateral-esquerdo iniciou a jogada do gol, tocando para Caio que de calcanhar devolveu. O lateral avançou, quase foi atrapalhado por Alcimar, e, após fazer um giro em si mesmo, meteu um chute indefensável de fora da área, vencendo Sílvio Luís. Era o gol que poderia dar mais alívio à torcida alviverde.

O São Caetano partiu para o desespero. Aos 32? o primeiro susto do Azulão. Triguinho cruzou para Márcio Richards acertar uma cabeçada na trave.

O Coritiba parecia que tinha a partida nas mãos. Ricardinho quase resolve de vez o placar ao bater falta e ver Sílvio Luís mostrar agilidade e mandar a escanteio.

Caminhando para o fim favorável, um vacilo da zaga custou, talvez, a permanência na Série A. Aos 43, Paulo Miranda tocou para a área, o experiente Claudecir aproveitou para dominar e bater de perna esquerda para o gol. Douglas nada pôde fazer. O árbitro ainda deu mais três minutos de acréscimo, mas aí já era tarde.

Depois do jogo, poucos sabiam que ainda há chances

São Caetano do Sul (SP) – O sofrimento ficou adiado. E ficou maior ainda. Faltando apenas uma rodada para o final do Campeonato Brasileiro, o Coritiba não depende mais de si para fugir do rebaixamento para a segunda divisão. O empate em 1 x 1 com o São Caetano, ontem, no Anacleto Campanella, deixa o Coxa em situação delicadíssima, precisando contar ou com a derrota do Azulão para o Cruzeiro ou da Ponte Preta para o Brasiliense. E mesmo assim depende dos critérios.

O gol de Claudecir, no final do jogo, deixou os jogadores do Coxa desnorteados. Mesmo com a hipótese real de ficar na Série A mantida, alguns já pensaram que o time tinha sido rebaixado. ?Nem sei mais como ficam as coisas?, confessou o zagueiro Anderson, antes de ser alertado que o Cori, apesar de tudo, está vivo. ?Mas nós não podíamos errar como erramos na última jogada, deixando um jogador técnico como o Claudecir aparecer livre na área?, lamentou o zagueiro.

Foi o único erro visível alviverde na partida de ontem, a melhor desde que Márcio Araújo assumiu o Coritiba. E esta situação – a consciência de que poderia sair do ABC com uma vitória – deixou os alviverdes mais preocupados que nunca.

?É ruim terminar o jogo assim, sabendo que fomos melhores o tempo inteiro?, reclamou, bastante chateado, o meia Luís Carlos Capixaba.

Mas as contas ainda deixam o time vivo. Com 46 pontos, permanecendo na 19.ª posição, o Coritiba perdeu ontem a chance de depender apenas de si na última rodada – além disso, a vitória do Figueirense tirou os catarinenses do risco, rebaixou Atlético-MG, Paysandu e Brasiliense, e deixou Coxa, Ponte e São Caetano ameaçados.

Para ficar na Série A, o Cori precisa vencer o Internacional e torcer por uma derrota da Ponte Preta ou do São Caetano. No caso da Ponte, bastam resultados simples – fazendo 1×0 no Inter e a Macaca derrotada pelo mesmo placar, o Coxa está salvo. Se o time de Campinas empatar, o Cori não o alcança mais, pelo maior número de vitórias do rival.

A situação envolvendo o São Caetano é mais complexa. O Cori precisa fazer saldo (dois gols a mais que o Inter) para então torcer por uma derrota simples do Azulão. No caso de uma vitória do Coxa por apenas um gol de diferença sobre o Colorado, ou o Cori espera por um triunfo retumbante da Raposa ou, no caso de uma derrota paulista por 1×0, de ficar esperando pelos critérios – a definição ficaria para o saldo de gols ou o número de gols a favor. No confronto direto, a vantagem é do Azulão, que marcou dois gols fora contra um gol alviverde.

Pastor faz visita ao elenco

São Caetano do Sul (SP) – A delegação do Coritiba teve horas tranqüilas antes do jogo com o São Caetano. Depois do atraso no vôo que levou o grupo até São Paulo, jogadores, comissão técnica e dirigentes ficaram ?isolados? em um hotel na área nobre de Santo André, cerca de sete quilômetros do Estádio Anacleto Campanella, sem contatos telefônicos ou visitas – só foi autorizada a entrada de um pastor evangélico convidado por Anderson e que conversou longo tempo com o técnico Márcio Araújo.

Foi a única manifestação visível vista em Santo André. Os jogadores pouco saíram dos quartos, preferindo até mesmo abdicar do café da manhã. O grupo todo só se reuniu no jantar de sábado e no almoço de ontem, além da preleção do técnico Márcio Araújo. A diretoria também pouco falou – estavam presentes o presidente Giovani Gionédis, o vice André Ribeiro e o secretário Luís Henrique Barbosa Jorge.

Gionédis deu entrevista à rádio Banda B ainda no sábado, e reclamou da organização de uma chapa oposicionista para a eleição da próxima segunda-feira. ?Acho que isto é oportunismo, pois se o Coritiba estivesse em décimo lugar ninguém faria nada?, atirou. Os membros da oposição, que lança oficialmente a chapa hoje, afirmaram que a informação ?vazou? de dentro do clube.

Torcida dá todo o apoio necessário

São Caetano do Sul – Noventa minutos que duraram uma eternidade. E instantes que pareciam não passar. Foi assim que jogadores, dirigentes, torcedores e técnicos de Coritiba e São Caetano passaram do apito inicial de Leonardo Gaciba da Silva ao fim da partida. Foi um jogo extremamente tenso, que terminou em um empate, o qual deu força ao Azulão e complicou a vida do Coxa.

E levou às lágrimas muitas das quase duas mil pessoas que vieram apoiar o time no ABC.

Elas merecem um capítulo à parte. Sem problemas, os mais de 25 ônibus que deixaram Curitiba na manhã de ontem chegaram a São Caetano do Sul para acompanhar a partida. Eram coxas de todo jeito – torcedores organizados, grupos reunidos pela internet, gente que alugou vans para viajar, alguns usando os próprios carros ou indo de avião e mesmo coxas moradores da Grande São Paulo. Eles empurraram a equipe por todo o tempo, e só desabaram mesmo após o gol de Claudecir. Muitos choraram ao enrolar as bandeiras e preparar a volta para casa.

Enquanto isto, o técnico Cuca passava pela provação de enfrentar o clube que treinara até o mês passado. A recepção dos jogadores do Coritiba não foi das mais calorosas, fruto da rivalidade da semana e da troca de farpas pela imprensa. O mais receptivo ao ex-técnico alviverde foi o colega Márcio Araújo.

Por sinal, o São Caetano esperava uma guerra no Anacleto Campanella. Duas horas antes do início do jogo, o responsável pela instalação das linhas telefônicas para a imprensa paranaense informou que os jornalistas teriam que ficar em outra posição. Motivo: segundo os paulistas, houvera maus-tratos por parte do Coxa no Couto Pereira e haveria o risco de represálias. ?Não sei por que se falou em guerra?, afirmou o técnico alviverde Márcio Araújo.

Durante o jogo, Cuca e Márcio fizeram um duelo de gestos e orientações. O treinador do Azulão chegou a tirar a jaqueta por conta do calor, enquanto o coxa-branca se mantinha com a blusa para o frio – ventava muito em São Caetano. Contrastando com a quase serenidade de Araújo, estavam os reservas do Cori e os diretores das duas equipes, evidentemente tensos e preocupados. Alguns dirigentes paulistas, que estavam ao lado da imprensa paranaense, chutavam o camarote a cada gol ou passe errado pelos donos da casa.

A aflição da torcida local só aumentou com o gol de Ricardinho – que fez os coxas, que já cantavam mais alto, dominarem de vez o Anacleto Campanella. O controle do Coritiba era tático, técnico e moral, mas Claudecir fez toda a vantagem coxa, que estava saindo da zona de rebaixamento, virar pó a cinco minutos do final da partida. Para a torcida, o choro era inevitável.

Empate foi um baque para elenco

São Caetano do Sul – O técnico Márcio Araújo não conseguiu esconder a preocupação. Mesmo otimista, o treinador do Coritiba está tenso, precisando também reunir forças para reerguer a moral dos jogadores para a última rodada do Brasileiro. O primeiro passo do técnico será lembrar ao grupo que a atuação contra o São Caetano foi uma das melhores da equipe na temporada. E que é possível vencer o Internacional e fugir do fantasma do rebaixamento.

Márcio quis, antes de tudo, parabenizar a torcida alviverde. ?Quem não conhece de futebol poderia pensar que o dono da casa era o Coritiba, e não o São Caetano. Foi uma festa linda, eles mereciam que a gente vencesse?, lamentou o treinador, que garantia estar com o mesmo pensamento dos torcedores. ?Eles estão tão tristes quanto a gente. É claro que passar por esta situação deixa todos chateados, e eles não poderiam passar por isto depois de viajarem tanto até chegar aqui?, completou.

A tristeza do técnico era a mesma dos jogadores – que deixaram o Anacleto Campanella bastante abatidos. ?Eles precisam saber que ainda temos uma rodada, que ainda temos oportunidade de buscar a nossa recuperação, terminando o Brasileiro ainda na primeira divisão. Enquanto tivermos oportunidades, vamos continuar lutando. Mesmo que elas fossem menores que 1%?, comentou.

Márcio gostou do rendimento do time na partida. ?Jogamos muito bem, conseguimos dominar o jogo. Fomos corajosos, usamos da estratégia treinada durante a semana e fomos melhores durante os noventa minutos?, analisou o treinador coxa, que não reclamou da sorte por causa do empate nos minutos finais. ?Isto acontece. O Milan, que é um time milionário, estava ganhando por 3×0 e acabou deixando o Liverpool empatar e conquistar a Liga dos Campeões?, relembrou.

Sem ?mala?

Outro exemplo adotado pelo técnico já tinha sido usado na preleção. ?Quem podia imaginar que o Grêmio conseguiria vencer o Náutico com quatro jogadores a menos e com um pênalti contra. Então temos a obrigação de vencer, de qualquer maneira?, reiterou Márcio Araújo. Mesma posição do presidente Giovani Gionédis, que disse que não fará propostas financeiras para que Brasiliense e Cruzeiro vençam nos jogos de domingo. ?Eu sempre pensei na moralização do futebol brasileiro e agora não será diferente. Por isso, não tenho o menor interesse em pagar bichos para outra equipe.?

CAMPEONATO BRASILEIRO
41.ª Rodada
Súmula
Local: Estádio Anacleto Campanella, em São Caetano do Sul
Renda e público: não divulgados.
Árbitro: Leonardo Gaciba da Silva (RS)
Assistentes: José Otávio Dias Bittencourt (RS) e José Antônio Chaves Franco Filho (RS)
Gols: Ricardinho, aos 11 minutos; e Claudecir(SC), 43? do 2º tempo.
Cartões amarelos: Jackson e Reginaldo (Coritiba); Alessandro e Paulo Miranda (São Caetano).

SÃO CAETANO 1 X 1 CORITIBA

São Caetano
Sílvio Luiz;  Neto (Claudecir), Gustavo, Alessandro (Lúcio Flávio) e Triguinho; Raulen, Paulo Miranda (Claudecir), Thiago e Márcio Richards; Edílson e Dimba (Somália). Técnico: Cuca.

Coritiba
Douglas; Flávio, Reginaldo Nascimento (James) e Anderson; Jackson (Wagner), Peruíbe, Capixaba, Caio e Ricardinho; Renaldo (Marcelo Peabiru) e Alcimar. Técnico: Márcio Araújo.

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