Contra o desemprego

Por mais boa vontade que se tenha em relação ao atual governo federal, em especial porque encimado por um grande líder popular como Lula, é inevitável achar que, no que até agora tem feito, há mais barulho e fumaça que fogo. Surgem idéias e promessas em eloqüentes discursos, sempre dando a impressão de que se descobriu o caminho das pedras, mas na prática a coisa fica na mesma, ou se modifica tão pouco que as alterações, na difícil situação em que o País vive, são imperceptíveis.

É difícil fazer um “ranking” adequado de problemas e impossível um de soluções.

Mas se tentarmos a primeira e complicada empreitada, surgirá o desemprego como a angústia maior a ser equacionada e resolvida em larga escala e não aqui e ali, de forma homeopática, pois o problema já atinge mais de 20% da força de trabalho nos grandes centros, bate recordes e torna a situação social insuportável. E falta o analgésico que seria o seguro-desemprego, pois a verba para essa assistência insuficiente e temporária já acabou, por excesso de clientela.

No dia 1.º de Maio, Dia do Trabalho, deveria ter sido lançado o programa Primeiro Emprego. Foi adiado para 1.º de julho. Esse adiamento teve como motivo o medo do governo de cometer os mesmos erros que ocorreram no lançamento do ruidoso Fome Zero, que por enquanto está em muito mais do que zero, é confuso, tem carência de recursos, falhas gerenciais e ainda não mobilizou a nação brasileira.

A meta do Primeiro Emprego é criar 260 mil empregos em 12 meses, consumindo cerca de R$ 350 milhões. Acontece que para esse programa o governo só dispõe de R$ 140 milhões, o que faz desconfiar que será novamente muito barulho, muita fumaça e pouco fogo. A idéia não é má. Aliás é excelente, considerando-se que o jovem brasileiro tem uma dificuldade imensa – quase impossibilidade – de conseguir o primeiro emprego. A oportunidade é que é discutível e, aí, as lideranças sindicais advertem e buscam medidas cautelares. Acontece que tem muito pai de família com dependentes desempregados. Se ingressarem agora no mercado de trabalho, os candidatos ao primeiro emprego poderão tomar o lugar dos que estão desesperadamente à procura do posto de trabalho já engolido pela recessão. Resolvem-se os problemas de alguns jovens e aumenta-se o problema de milhares de trabalhadores já calejados.

Depois que o Primeiro Emprego sair do papel, o governo pensa em frentes sociais de trabalho. O projeto está sendo burilado no Ministério do Trabalho e será apresentado em meados de novembro ao presidente Lula. Os postos serão abertos em atividades de infra-estrutura, saúde, construção civil e educação. Tudo está ainda em cogitações. Não há números e, com certeza, muito menos verbas.

A impressão que se tinha do muito barulho e poucos resultados, reforça-se com esses dois programas. O do Primeiro Emprego, em princípio, não precisa ser emergencial, pois ideal que fosse permanente, pois sempre teremos jovens à procura de seu primeiro emprego. O segundo, a experiência nos demonstrou que sempre foi algo como improvisações, quebra-galhos. Nada de trabalho permanente, que dá estabilidade e é o ideal para o trabalhador e o País.

Esses programas, experimentados geralmente no Nordeste, nos períodos de seca, sempre foram objeto de exploração eleitoral. Atrativos para arrebanhar votos. E não nos esqueçamos que, no ano que vem, teremos eleições municipais e uma busca desesperada por correligionários de carteirinha.

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