Nenhuma política de combate à corrupção conseguirá ter sucesso se não existirem mecanismos que permitam a recuperação do dinheiro desviado dos cofres públicos. O alerta é dos principais órgãos internacionais da Organização das Nações Unidas (ONU) e da União Européia (UE), que nos últimos anos têm desenvolvido uma série de leis e tratados sobre o combate à corrupção.

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?Se não há uma restituição devida do dinheiro desviado, o combate à corrupção não é eficaz?, alerta Michael Levi, um dos principais especialistas em criminologia na Europa e professor da Universidade de Cardiff. Segundo ele, essa seria a única forma de dissuadir os corruptos de continuar sugando a máquina estatal.

Para Levi, um dos fatores que estaria prejudicando o Brasil na recuperação de ativos pode ser o próprio Poder Judiciário, que levaria anos para chegar ao fim de um processo e uma condenação definitiva dos acusados. ?O Judiciário precisa mudar a forma de combater o problema e isso somente ocorrerá com um treinamento de juízes e procuradores para que saibam o que fazer ao se deparar com casos de corrupção?, explicou o especialista.

Exigência

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Países como a Suíça ou Liechtenstein apenas aceitam devolver os recursos que estão em seus bancos quando o suspeito de ter cometido um ato de corrupção foi julgado e condenado em última instância em seu país de origem. No caso do Brasil, esses processos podem levar anos. Portanto, a devolução dos recursos também se arrasta.

Em 2003, o Brasil chegou a assinar um acordo de cooperação com a Suíça para facilitar a troca de documentos sobre crimes como lavagem de dinheiro e desvio de fundos públicos. O objetivo era exatamente facilitar o trâmite de investigações que ocorressem no Brasil contra pessoas que tivessem desviado seus recursos para os bancos suíços. Mas até hoje o entendimento não foi ratificado pelos Congressos. Por isso, até agora não pôde ser utilizado.

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Funcionários do Departamento de Justiça de Genebra destacam que vários procuradores brasileiros passaram pela cidade nos últimos anos em busca de recursos de políticos como o ex-prefeito Paulo Maluf. ?O que os brasileiros precisam entender é que somente podemos devolver recursos congelados se o suspeito foi condenado definitivamente no país. Não existe outro meio para a obtenção dos recursos, por mais que tenhamos simpatia por uma causa?, explicou um funcionário suíço, que pediu para não ser identificado.