Construção civil espera recuperação só em 2005

Ainda é cedo para dizer que a indústria da construção civil caminha para uma recuperação sustentável. Esta é a avaliação de entidades representativas do setor, em relação aos indícios de retomada do crescimento da cadeia produtiva a partir do desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) nos primeiros meses do ano. Segundo dados extraídos da pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB cresceu 5,7% e 4,2%, respectivamente, no 2º trimestre e no 1º semestre de 2004, em comparação a períodos idênticos do ano passado. Por segmento, a construção civil acompanhou a alta, com variação positiva de 6,7% no 2º trimestre e, embora mais modesta, de 2% nos primeiros seis meses do ano.

Na comparação de longo prazo, contudo, o setor é o que registra o pior desempenho. No acumulado dos últimos quatro trimestres em relação aos quatro trimestres imediatamente anteriores, a queda é de 4,9%. Nos setores de comunicações e comércio, por exemplo, as quedas são menos expressivas, com variação negativa de 1,7% e 0,5%, respectivamente.

Para o vice-presidente de Economia do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP), Eduardo Zaidan, o crescimento no primeiro semestre ocorre sobre uma base muito fraca, já que 2003 foi um dos piores desempenhos do setor, com queda de 8,6% na atividade. “A indústria da construção civil está reagindo, mas muito lentamente. O setor só cresce se os demais segmentos fazem investimentos em expansão”, avalia Zaidan. O executivo calcula que para cada R$ 100 investidos em qualquer setor da economia brasileira, entre 60% e 70% passam pela construção civil.

Após a divulgação do desempenho do PIB, a entidade deve rever, talvez para cima, o crescimento do setor, estimado em 3 7% no fechamento de 2004.

Infra-estrutura – Para a Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas (Apeop), o setor só vai experimentar um crescimento mais significativo se o governo federal acelerar a liberação de recursos do orçamento previsto para 2004, de R$ 7,7 bilhões para infra-estrutura, e a aprovação de marcos regulatórios para atrair investimentos de empresas privadas.

Segundo o diretor-executivo da Apeop, Carlos Eduardo Lima Jorge, até a primeira semana de agosto, o governo só repassou R$ 1,1 bilhão do orçamento previsto para infra-estrutura. “Por ora, o crescimento é mais expressivo nos setores voltados para exportação, que melhoram os índices da construção quando promovem expansão de fábricas. Mas o comprometimento com as metas do orçamento poderia estimular ainda mais o setor, já que o Brasil precisa de investimentos em infra-estrutura”, avalia o executivo.

Lima Jorge ainda destaca a necessidade de o governo promover as condições para a implementação da Lei das Parcerias Público-Privadas (PPPs), como incentivo ao desenvolvimento do País.

Fotografia do setor – A indústria do cimento, um dos principais retratos do desempenho da indústria da construção civil, avalia que o crescimento será uma realidade somente no próximo ano. O secretário executivo do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC), José Otávio Carvalho, mantém a expectativa de que o consumo do produto seja de 34 milhões de toneladas em 2004, semelhante ao volume comercializado no ano passado.

“O consumo de cimento está muito ligado à renda do trabalhador. Enquanto a renda permanece baixa, o consumo não cresce”, compara Carvalho, lembrando que mais de 40% da produção de cimento no país é consumido pelos pequenos construtores e pedreiros. Outros 40% são utilizados para a construção de edificações (habitacionais, industriais e comerciais), enquanto o restante é dirigido às obras de infra-estrutura.

Para ele, “ainda não houve recuperação do setor, o mercado só parou de piorar”. Dados do SNIC mostram que o consumo de cimento o Brasil, atualmente, está nos mesmos níveis de 1995 e 1996. O melhor desempenho do setor foi em 1999, quando as empresas comercializaram 40 milhões de toneladas.

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