Confusão faz preço do hidratado ficar acima do anidro

São Paulo – A falta de álcool nos estoques das usinas para abastecer o mercado durante a entressafra de cana provocou uma situação inédita no mercado de combustíveis: o preço do álcool hidratado, combustível que tem na composição até 7,4% de água e é utilizado pelos veículos com motor a álcool, superou o do álcool anidro, que é misturado á gasolina. A situação é apontada por especialistas como indicativo da confusão que instalou-se no mercado de álcool no País.

Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Cepea/Esalq), o álcool anidro – usado como aditivo na gasolina – foi negociado por R$ 1,1493 o litro (valor sem impostos), uma alta de 7% em relação a semana anterior. O álcool hidratado foi vendido por R$ 1,1530 o litro, elevação de 7,5% em uma semana.

A conseqüência desta distorção deverá ser sentida com mais intensidade nos próximos dias pelos consumidores. A forte alta no preço do álcool hidratado continuará a ser integralmente repassada aos consumidores. A Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis) – entidade que representa os revendedores – espera para quarta-feira (1) reajuste de até R$ 0,17 por litro de álcool hidratado.

"As distribuidoras estão informando aos postos que deverão repassar um aumento de R$ 0,17 por litro de álcool nos próximos dias. Não vai faltar álcool, vai faltar comprador para o álcool" ironizou Gil Siuffo, presidente da Fecombustíveis. Este poderá ser o maior reajuste no combustível desde que a União da Agroindústria Canavieira (Unica) comunicou ao governo que o acordo selado no início de janeiro não havia mais condições de ser cumprido.

O Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom) criticou a forte elevação dos preços do álcool. Alísio Vaz, vice-presidente executivo do Sindicom, afirmou que, em algumas usinas, as distribuidoras compraram álcool a valores acima de R$ 1,15 por litro, em alguns casos a R$ 1,20.

Os donos de postos informaram que não irão amortecer nenhum aumento do álcool. Todo o reajuste será integralmente repassado na venda ao consumidor. O presidente da Fecombustíveis alega que o setor não tem margem de lucro suficiente para segurar reajustes transferidos pelas distribuidoras. "A margem de lucro obtida pelos postos na venda de álcool é metade daquela obtida com a gasolina", afirma.

Contenção 

O aumento da semana passada deu-se ao mesmo tempo em que o governo anunciou a redução de 25% para 20% da mistura de álcool anidro na gasolina a fim de conter o consumo e a conseqüente alta do preço do álcool nas bombas. Mas os efeitos da medida ainda não puderam ser sentidos, de acordo com a pesquisadora Heloisa Lee Burnquist, do Cepea. "Os reflexos serão sentidos talvez a partir da próxima semana, pois a medida começa a valer a partir de 1º de março", avalia.

A pesquisadora disse que a alta se deve, entre outros fatores, a uma demanda reprimida causada pelo acordo de preços entre usineiros e o governo. "Houve pressão de mercado durante os 40 dias do acordo e agora essa pressão acabou", explicou. Segundo ela, outra causa do aumento do preço do álcool nas destilarias foi uma corrida das distribuidoras às compras para fazer estoques para o mês de março, além da elevação da demanda no Carnaval.

Segundo Heloisa, embora a alta seja uma das mais elevadas da série semanal do Cepea na entressafra deste ano, o aumento de preços pode ter sua trajetória encerrada em breve. A antecipação da safra poderá, avalia a pesquisadora, servir para isto. A safra será aberta nesta quarta-feira.

Na opinião da pesquisadora, as informações sobre uma redução do volume de álcool entregue pelas distribuidoras ao varejo, foram pontuais, por isso, não há risco de desabastecimento. Para ela, a redução do índice de mistura serve muito mais garantir o abastecimento durante a entressafra do que evitar uma elevação de preços nas bombas. "Mas para que isto ocorra, o dono de carro flex tem de abastecer com gasolina. Ele tem de pensar que comprou um carro bicombustível e não um carro a álcool", ponderou.

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