Comissão de frente da Unidos da Tijuca dá show

Valeu a pena esperar pela revelação de todos os mistérios da Unidos da Tijuca, muito bem guardados pelo carnavalesco Paulo Barros. Com o enredo “É segredo!”, a escola, a terceira da primeira noite, fez um desfile de campeã, que arrebatou o público da Sapucaí. Um samba de refrão fácil, carros alegóricos caprichados, fantasias inspiradas e uma comissão de frente surpreendente conquistaram todos os setores, algo que os dois desfiles anteriores, da União da Ilha e da Imperatriz, nem chegaram perto de fazer.

Criticado em carnavais passados por suas ideias pouco ortodoxas (ele já chegou a colocar uma bateria inteira sobre um carro alegórico), Barros, o carnavalesco que a Tijuca revelou em 2004, cujas marcas são a criatividade e a ousadia, acertou a mão: criou fantasias originais e bem acabadas, como as dos coelhos que saíam de cartolas, a do Triângulo das Bermudas, com bermudas penduradas, e a das baianas, alusivas aos Jardins Suspensos da Babilônia. O azul e o amarelo do pavilhão tijucano tiveram destaque absolutos, algo bonito de se ver na Sapucaí de todas as cores.

Os carros alegóricos deram show, a começar pelo abre-alas, que simbolizava a Biblioteca da Alexandria, no Egito, destruída num incêndio. Boa parte do conhecimento do mundo antigo teria se extinguido ali. O fogo cenográfico, com tirinhas de papel dourado e muita fumaça, era bem convincente. Outro mistério levado à Sapucaí foi o dos Jardins Suspensos, que se materializaram num carro com cinco mil plantas naturais, que haviam sido cuidadosamente cuidadas no barracão.

Personalidade cercada de segredos e controvérsia, Michael Jackson, o astro pop de quem Paulo Barros é fã, também deu as caras, assim como os super-heróis Batman e Homem Aranha: o homem-morcego “bateu asas” descendo a rampa montada no quarto carro; o aranha a escalou.

Com tantas surpresas, uma após a outra, seria difícil destacar o ponto alto da passagem da Tijuca, mas, a julgar pela reação da plateia, a comissão de frente, formado por um mágico e seis casais de dançarinos, foi o grande destaque. Um mágico os cobria com um grande pano e as bailarinas “trocavam de roupa”. Mais um truque, e elas apareciam com uma nova. E outra, e outra…

Entusiasmo

O público bateu palmas, gritou e cantou o refrão com entusiasmo: “É segredo, não conto a ninguém/ Sou Tijuca, vou além/ O seu olhar vou iludir/ A tentação é descobrir”. A bateria também empolgou, não só pelas paradinhas, mas especialmente pela performance dos 260 ritmistas. Vestidos de mafiosos, eles eram interpelados por gângsteres armados, que vinham num carro preto. Os ritmistas então se dividiam em dois grupos, como se estivessem acuados.

Tradicionalista, mestre Casagrande, mesmo depois de quatro meses de ensaios, teve medo de falhar, e confessou, na concentração, que preferia como era “nos anos 80 e 90”, quando bastava “sustentar o desfile da escola”. “Infelizmente, agora temos que dar show, e existe o risco de errar. Mas vai dar certo.” Deu.

Adriane Galisteu, a rainha da bateria, também foi impecável. Veio fantasiada de dama da máfia, uma melindrosa perfeita. De peruca chanel preta e piteira falsa na mão, a apresentadora, grávida de quinze semanas, não dispensou o salto alto. Mas foi comedida no pré-carnaval. “Não deu para malhar tanto, claro. Mas mãe feliz é bebê feliz, e quem tem saúde pode fazer tudo”, contou Adriane, que, como faz todos os anos, desfilou com o apoio de dois médicos. Bem pequena, a barriga estava coberta por um maiô.

Enredo

O enredo da Tijuca, inusitado, foi passado a Paulo Barros pelo estudante Vinicius Ferraz, um adolescente apaixonado por carnaval, pelo Orkut. Presente da avenida, o garoto estava tão emocionado que mal conseguia falar. “Venho assistir há cinco anos, mas nunca tinha desfilado. Eu adoro carnaval e mal posso acreditar que é a minha ideia que está aqui na avenida. Me sinto um coautor do enredo”, disse o menino, minutos antes de a Tijuca entrar.

“Sou Salgueiro, mas passei o tema para o Paulo porque sou fã do estilo dele. Quero estudar Belas Artes e ser carnavalesco quando crescer”. Pelo visto, o Salgueiro perdeu um torcedor: Vinicius, que cursa o segundo ano do Ensino Médio, se sente tão tijucano que está com as cores da escola gravadas até nos ferros do aparelho de dentes.

 

Muito nervoso na concentração, Barros, que está de volta à Tijuca depois de três anos em concorrentes, foi econômico nas palavras. Fez questão, porém, de dar o recado de sua escola: “Não faço enredo para causar qualquer tipo de polêmica, e sim para as pessoas se divertirem. Voltei pra minha casa e estamos preparados para ganhar o título dessa vez.” As suas melhores colocações na escola foram dois segundos lugares.

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