Comissão conjunta vai visitar a Fazenda Araupel

Uma comissão de mediação conjunta entre governos estadual e federal visita na manhã de hoje, a Fazenda Araupel, em Quedas do Iguaçu, na região Sudoeste do Paraná, para fazer um levantamento técnico da área e negociar o remanejamento pacífico das famílias de trabalhadores sem terra para outra área.

A decisão foi tomada na tarde de ontem durante uma reunião promovida pelo secretário de Estado da Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, com o superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Celso Lisboa de Lacerda; a ouvidora-adjunta da Ouvidoria Nacional Agrária, Maria de Oliveira; e representantes da diretoria da empresa Araupel. “A comissão vai à fazenda para levar soluções e acalmar os ânimos na área. A desocupação da parte invadida é viável, mas não vai resolver o problema. A idéia é apresentar uma solução. E a Secretaria está trabalhando além dos seus limites”, considerou Delazari.

Uma parte da fazenda foi invadida em 1999 por cerca 700 famílias do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. No último sábado, mais de 4 mil integrantes do MST se juntaram ao acampamento, depois de o Superior Tribunal de Justiça ter pedido a intervenção no Estado, pelo não cumprimento da reintegração de posse dada naquele ano.

“Emergência”

O objetivo da comissão composta por representantes da Secretaria da Segurança Pública, da Ouvidoria Agrária Nacional, do Incra e Procuradoria-Geral do Estado é realizar um levantamento técnico da área e formular uma possível proposta à diretoria da empresa Araupel para a aquisição de terras que possam servir a assentamentos na região. “Vamos à fazenda também para diminuir as animosidades e levar garantias para todos os lados. Para o governo, a Fazenda Araupel é uma emergência”, afirmou Maria de Oliveira.

A comissão também buscará negociar junto aos líderes do MST o remanejamento de todas as famílias que ocupam o local invadido para a área da Bacia de 4,2 mil hectares, que está tomada pelo grupo inicial de 700 famílias desde 1999. “Estamos deslocando um contigente policial suficiente para o local para garantir que a operação seja realizada com toda a tranqüilidade”, disse o secretário da Segurança Pública.

Policiamento

Ontem havia 170 policiais na área. Hoje, o contingente deverá ser de cerca de trezentos policiais. “O que não permitiu o conflito entre funcionários e sem-terra até agora foi a eficiência da Secretaria da Segurança Pública, que deslocou a Polícia Militar rapidamente para o local invadido”, constatou a ouvidora-adjunta.

A medida deverá garantir o funcionamento normal da empresa, que corre o risco de paralisar seus serviços nos próximos dias em virtude de o MST estar impedindo o acesso aos depósitos com madeira, matéria-prima utilizada pela Araupel. “O governo do Estado, que tem sensibilidade, sabe que temos de arranjar um local para deslocar essas famílias. E sabe também que a Araupel não pode parar de funcionar. Muitas pessoas da região dependem da empresa”, observou o superintendente do Incra. Segundo ele, o instituto está se esforçando para adquirir terras no Paraná para promover a reforma agrária no Estado. “Estamos tratando a situação com cautela. O papel da Secretaria é evitar o conflito no campo”, afirmou Delazari.

Requião

O governador Roberto Requião informou ontem que convidou representantes da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar) e da Sociedade Rural de Londrina, para integrarem o fórum de discussões sobre a questão dos sem-terra. “Vamos ampliar o fórum de discussões porque o problema das invasões afeta a todos e precisamos buscar soluções de consenso e pela via do entendimento”, afirmou.

Segundo o governador, a questão específica da ocupação da área da Fazenda Araupel, no município de Quedas do Iguaçu, é delicada, porque envolve também um conflito entre os empregados da empresa e os sem-terra. “Uma solução passa pela atuação do Incra e do Ministério de Desenvolvimento Agrário, que deve dar um rumo para as negociações”, disse Requião.

“Quedas do Iguaçu vive em função da empresa”

A ocupação da Fazenda Araupel, em Quedas do Iguaçu, por parte do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), extrapolou a questão dos direitos à propriedade. Enquanto os trabalhadores dão como certa a criação de um assentamento modelo na área, alegando que até a população da cidade é favorável à ocupação, o prefeito do município, Vitório Revers (PSDB), alerta para os problemas que podem ser causados caso a reintegração de posse, ganha ontem pela empresa, não seja cumprida.

Revers disse que metade da população da cidade depende da Araupel para viver. “A cidade vive em função da empresa. O governo tem que olhar situação de uma maneira diferente. Temos 28 mil habitantes, desses 15 mil dependem da Araupel”, contou, afirmando que o número de moradores do município que estão apoiando ou invadiram a fazenda é diminuto. “Não tem cem pessoas. Lá tem gente de todo lugar, até uns paraguaios que se reconhece pela língua espanhola”, contou o prefeito, destacando que a nova ocupação está no coração da propriedade, bem próximo à reserva madeireira da Araupel. “Eles têm produção para mais uma semana. Se a empresa parar aí a situação complica. Ao trabalhadores vão se revoltar”, disse, lembrando que o comércio da cidade depende do dinheiro que vem dos funcionários da Araupel.

Situação

Por sua parte, os sem-terra firmam que não há tensão alguma na fazenda, já que a população da cidade não é contraria a ocupação. “Umas quinhentas famílias que estão aqui dentro são de Queda do Iguaçu”, afirmou um dos membros da coordenação estadual do MST, Adélson Schwalemeberg. Ele disse que o dia de ontem foi tranqüilo no acampamento. “Estamos terminando de fazer a barracas. A chuva atrapalhou um pouco. Tem só uns vinte policiais por aqui”, contou, lembrando que mais famílias ainda estão se dirigindo para a fazenda. Outro líder do movimento, Elemar Cezimbra, afirmou que a Fazenda Araupel já é considerada como uma vitória do movimento. Os sem-terra alegam que a empresa cometeu inúmeras irregularidades, como a grilagem de terras e a construção de um cemitério clandestino, durante os 30 anos que está lá.

Anteontem, o governo do Estado recebeu a denúncia que a Araupel ajuda as policias Militar e Civil da região em troca de favorecimentos. A empresa confirmou a ajuda, mas negou que em algum momento foi beneficiada por isso. (Lawrence Manoel)

Faep se mobiliza contra as invasões

A Federação da Agricultura do Paraná (Faep) está se mobilizando para combater as invasões do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Um escritório jurídico em Curitiba já foi disponibilizado pela Faep para atender proprietários de terras que tiveram suas reintegrações de posse concedidas pela Justiça e não aplicadas pelo governo Estadual. A sugestão é que esses ruralistas engrossem o número de ações que pedem a intervenção federal no Paraná.

O coordenador da comissão de política fundiária da Faep, Tarcísio Barbosa de Souza, explicou que a comissão é formada por sociedades rurais, sindicatos e representantes da agroindústria. “Temos três linhas de ação. A técnica que orienta sobre documentação. A jurídica, sobre reintegração de posse e a intervenção, entre outros, e política”, explicou, destacando que na segunda-feira uma ato público reuniu 500 proprietários em Ponta Grossa. “Desse ato resultará uma carta que será enviada aos três poderes e a Igreja Católica”, contou.

Nesse documento constarão o pedido para que as reintegrações sejam cumpridas, além de um pedido para que o Incra cadastre as pessoas que realmente tem aptidão para terra.

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