A boa pessoa de negócios é aquela que sabe antecipar-se às tendências e vislumbrar cenários para chegar à frente da concorrência. O mundo corporativo valoriza este perfil e mostra-se disposto a pagar um bom preço pelo talento. Os dois lados querem a mesma coisa, e um completa o outro.

Bom salário, plano de saúde, 13.º e fundo de garantia eram a combinação ideal do emprego dos sonhos de qualquer funcionário que buscava a colocação no mercado de trabalho. Essa fórmula, no entanto, ficou obsoleta. Esses desejos não mais satisfazem as pessoas, muito menos as empresas. O profissional moderno procura uma organização socialmente responsável, repleta de desafios, espaço para crescer e um plano de carreiras estruturado. Em contrapartida, as companhias exigem proatividade, empreendedorismo, inovação, liderança, capacidade de se adaptar às transformações provocadas pela ciência da informação e vocação para lidar com gente.

Essas vantagens comparativas dão-se num cenário ultracompetitivo, permeado por pressões em busca de resultados, num ambiente de instabilidade contínua e cada vez mais aguçado em face do mercado recessivo. É em meio a este mosaico de incertezas que o profissional tenta se equilibrar para manter-se produtivo na maior parte do tempo. Assim, prolongar a vida útil e aumentar a fertilidade de idéias farão a diferença. Porém, o efeito colateral dessa overdose empresarial levará a resultados catastróficos, caso não haja um equilíbrio entre saúde, felicidade e qualidade de vida.

Manifesto a minha preocupação com os workaholics e aos executivos que olham para a floresta e só conseguem enxergar uma árvore. Confinar-se dentro do escritório não é sinônimo de produtividade. Muito pelo contrário. Gerenciar o próprio destino é criar uma espécie de blindagem contra os efeitos nocivos do estresse, mesmo que pareça impossível em certas ocasiões que exigem mais horas de trabalho. O problema é que a exceção se transformou em regra e esses períodos de alta performance parecem cada vez mais freqüentes e intermináveis.

Tal estado de coisas deixa o profissional num beco sem saída e tomado por interrogações por onde quer que se olhe. Como se conservar criativo, motivado e vigoroso física e mentalmente para corresponder à expectativa da empresa e saciar as exigências internas? A medicina e a psicologia são poderosas aliadas na busca dessas respostas preciosas. No entanto, para não ficar refém dessa situação tão angustiante quanto nociva, cabe ao profissional administrar esse estresse da maneira mais racional possível. Para fazer isso, é preciso conhecer o inimigo em profundidade para, em seguida, optar pelo melhor remédio para enfrentá-lo. É fazer dele um aliado para agir de forma coerente e conseqüente, de forma objetiva e eficiente, principalmente porque sua disseminação tem a capacidade de suprimir o talento, aniquilar o poder criativo e dizimar o estoque de motivação que toda pessoa carrega dentro de si.

O desconforto causado pelo estresse está presente em todas as situações do cotidiano. Não há nada mais apavorante e estressante do que despertar com o barulho ensurdecedor do despertador. A partir daí, inicia-se uma série de fatos que podem fugir a seu controle. Seja no banho a jato, no café da manhã atribulado, no trânsito caótico, no atraso para chegar ao aeroporto e na incerteza de estar a tempo na reunião com os clientes. Nesses casos, o relógio rege sua trajetória e lhe inunda de tensão. A gestão desse dia-a-dia é fundamental para seu bem-estar. A reinvenção dessas práticas mais saudáveis preservarão sua reserva de energia para que, num segundo momento, essa travessia seja realizada com segurança, sem maiores percalços. Não permita que as demandas diárias o deixe em frangalhos, porque corpo e mente necessitam atuar equilibrados para produzir resultados positivos.

Insônia, dores musculares, taquicardia, sudorese excessiva e hipertensão, dentre outros sintomas, podem ser o início do fim. Como conseqüência, evidenciam-se a baixa realização profissional, a insatisfação, a impaciência, a irritabilidade e a eterna sensação de estar constantemente sobrecarregado. Depois, surgem as doenças, as desavenças familiares, a baixa estima, o isolamento. A ciência assegura que a estrada final pode ser a morte. Não pretendo ser alarmista, muito menos trágico, mas é imperativo que se reconheça seus limites ao ser colocado num ambiente de pressão. Essa demanda tornou-se rotineira nesse mercado cada vez mais competitivo, em que a arte de vender transformar-se num grande espetáculo.

É fundamental fazer um pacto com a qualidade de vida, mesmo que pareça impossível. Portanto, mude o que precisa ser mudado, sem pressa para não gerar mais ansiedade e, consequentemente, mais pressão e, por fim, mais estresse. Priorize as transformações. Exercícios físicos produzem endorfina em doses ideais para garantia da satisfação plena de conforto. Técnicas de relaxamento e dietas também auxiliam nesse processo de descontaminação. Não descarte a possibilidade de consultar um especialista para pavimentar essa transição. É fundamental redefinir sua visão de mundo, mesmo que as cobranças pareçam incontornáveis. Essa reação tem o objetivo primordial de preservar a vida.

Júlio Sérgio de Souza Cardozo é presidente da Ernst & Young na América do Sul.

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