CNBB se solidariza a bispo convocado pela justiça para explicar denúncias

Brasília ? O Conselho Regional da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que abrange os estados do Amapá e Pará, divulgou hoje (17) nota em solidariedade ao bispo do Xingu, Dom Erwin Kräutler. Ele foi convocado pelo presidente do Tribunal de Justiça do Pará, desembargador Milton Augusto de Brito Nobre, para explicar denúncias publicadas no jornal O Estado de São Paulo, do último dia 13, sobre o assassinato da missionária norte-americana Dorothy Stang.

Segundo a matéria, D. Erwin teria dito que existiria "uma manobra dos governo federal e do estado do Pará, com cumplicidade da justiça, para encerrar as investigações do assassinato da irmã Dorothy Stang, sem que todos os responsáveis sejam identificados e processados". O bispo nega que tenha falado isso.

"É um absurdo, uma deturpação. Eu não disse que existe manobra, de jeito nenhum. Não falei a palavra complô, não é do vocabulário que uso quando dou entrevista", afirmou hoje D. Erwin em entrevista à Agência Brasil. Segundo o bispo, durante o sermão da missa de um ano da morte da irmã Dorothy, em Anapu (PA), ele fez um "apelo às autoridades, especialmente para a justiça, para ampliar, aprofundar as investigações". O bispo acredita que mais pessoas, além daquelas que já foram apontadas, estejam envolvidas no assassinato. "Eu não tenho culpa se as minhas palavras saem de outra maneira", disse ele.

O presidente do Tribunal de Justiça do Pará disse, em carta enviada ao bispo, que "é preciso parar de atirar, impunemente, pedras na vidraça alheia". O desembargador Milton Nobre afirmou que não pode admitir que a instituição que dirige seja "enxovalhada publicamente, atribuindo-se a ela conduta subalterna ou de cumplicidade com manobras indignas". Milton Nobre convocou D. Erwin para, num prazo de 10 dias (a contar do último dia 14), comprovar as afirmações, inclusive com depoimento pessoal, "sob pena de ter que desmenti-las pelos mesmos meios utilizados para denegrir a imagem da Justiça".

O bispo informou que já encaminhou ao desembargador explicações sobre o fato. D. Erwin enviou ao presidente do Tribunal de Justiça do Pará uma cópia do sermão que proferiu na missa. Segundo o bispo, na entrevista dada aos jornalistas depois da missa, ele "praticamente repetiu" o que disse na homilia. D. Erwin disse que não poderá comparecer ao tribunal porque, a partir de hoje, visitará municípios da região para um trabalho de evangelização dos moradores.

"Eu fico dez dias vivendo no barco, viajando de comunidade a comunidade, dando a assistência que eu posso dar. Pelo menos por dez dias, fico incomunicável, porque lá não tem telefone e não posso me contactar com quem quer que seja", destacou o bispo.

D. Erwin disse que já recebeu do desembargador Milton Nobre outra carta em que ele não fala mais em convocação. "Como não falou mais em convocação, espero que seja encerrado esse assunto. De fato, não tenho mais o que dizer", ressaltou.

Na nota divulgada hoje, o presidente da Regional Norte 2 da CNBB, Dom Flávio Giovenale, afirma que reconhece e respeita o empenho do poder judiciário do Pará, mas lamenta que a missa de um ano da morte da irmã Dorothy tenha sido marcado por "desentendimentos e mal-entendidos".

Ele diz ainda que "lamenta a imediata credibilidade dada a aspectos da notícia publicada, sem prévia averiguação", o que considera "incompatível com a responsabilidade que o presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Pará tem perante a sociedade e, em especial, perante o Poder Judiciário".

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