Os tripulantes nem precisaram falar uns com os outros, mas o silêncio que ficou à bordo foi suficiente para traduzir a decepção pela chegada do veleiro Brasil 1 em quarto lugar na madrugada deste sábado, no Rio. Foram cerca de 12 mil quilômetros e 21 dias no mar desde Wellington, Nova Zelândia, na quarta etapa da regata de volta ao mundo Volvo Ocean Race.

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"Após 21 dias de uma etapa muito dura ficar bem perto do pódio e terminar em quarto… Fica aquele silêncio à bordo", definiu André Fonseca. O velejador disse que nos dois últimos boletins o Brasil 1 aparecia em segundo e em terceiro. "Vínhamos com o terceiro lugar garantido, perdemos a posição, queríamos muito subir no pódio."

As últimas horas e a chegada foram em baixo de muita chuva e com pouca visibilidade. O comandante Torben Grael, bicampeão olímpico da classe Star, disse que a tripulação ficou com "água na boca", diante da possibilidade de ir ao pódio. "Ficamos um pouco decepcionados com o resultado, estivemos a ponto de ir um pouco melhor, fica um amargo na boca. Mas quando estávamos em segundo quebrou um dos cabos e rasgou a vela balão" contou (foram cinco as velas rasgadas nessa etapa, de ventos muito fortes).

Torben, de 41 anos, aparentava exaustão, mais magro, barba por fazer, olhos vermelhos de sono e mãos queimadas pelo frio dos mares do Sul – foi recebido pela mulher Andrea, os filhos Marco e Martine, a mãe Ingrid e o irmão Axel. Nem bem desembarcou e já estava cumprindo compromisso com um dos patrocinadores, sendo barbeado para as câmaras de TV e as fotos. "Está todo mundo exausto, as últimas horas foram de instabilidade, de muita troca de velas", revelou.

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Mas Torben destacou o orgulho por ter completado a volta ao mundo particular do barco. "No ano passado saímos aqui do Rio fomos para a Europa (ainda na fase de preparação) e estamos em casa mais uma vez."

Vencer os mares do Sul – com ondas gigantes, ventos fortes e frio – e ser o primeiro barco brasileiro em competição a contornar o Cabo Horn também foi motivo de orgulho. Torben considera que a etapa mais dura da regata foi concluída. "É um marco passar pelo Horn numa regata de volta ao mundo."

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O veleiro holandês ABN Amro 1 terminou em primeiro lugar na mais longa etapa da competição, cruzando a linha de chegada no Rio às 18h23 de sábado, com o tempo total de 20 dias 1h48m23. Com isso, a tripulação de comandante Mike Sanderson consolidou a liderança na regata de volta ao mundo, com 49 pontos. Piratas do Caribe (EUA), do comandante Paul Cayard, cruzou às 4h06m50 deste sábado, e o ABN Amro 2 (HOL), que tinha a bordo o brasileiro Lucas Brun, completou o pódio da etapa às 4h30, chegando 25 minutos à frente do Brasil 1, que ocupa o quinto lugar na classificação (26,5 pontos).

Terminada a quarta etapa da regata de volta ao mundo, começa a regata fora d? água. Na base do Brasil 1, montada na Marina da Glória, com dois contêineres, um oficina e outro armazém, que vieram de navio da Cidade do Cabo, a equipe de terra, com 25 funcionários, espera tirar o barco da água o mais rapidamente possível para fazer a revisão e os reparos necessários. E o veleiro tem de estar pronto a tempo da disputa da regata in port, dia 25, e para a largada da quinta etapa, rumo a Baltimore/Nova York, nos Estados Unidos, dia 2 de abril.