Clima continua tenso em Pernambuco

"Estamos vivendo uma guerra." A declaração é do coordenador estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra em Pernambuco, Jaime Amorim, traduz o clima de tensão vivido no Estado depois do assassinato de três integrantes do MST no interior pernambucano nesta semana.

De acordo com a coordenação estadual do movimento, existem vários pontos críticos na região, e novas mortes podem acontecer a qualquer momento.

"Temos companheiros sob a ameaça de morte em várias cidades. A situação em Pernambuco é de desespero. Existem milícias armadas atuando livremente em todo o Estado e nós já denunciamos isso diversas vezes, mas até agora pouco foi feito e o resultado está aí, com mais três companheiros mortos", criticou Amorim.

As cidades de Ouricuri e Bonito, no Sertão do Estado são apontadas pelos sem-terra como pontos de perigo iminente para novos atentados.

Na noite da última quarta-feira, Josuel Fernandes da Silva, 29 anos, foi baleado com dois tiros, quando assistia televisão na casa de familiares, no município de São José da Coroa Grande, no litoral sul de Pernambuco. Josuel ainda foi levado ferido para o Hospital da Restauração no Recife, mas faleceu na manhã da quinta-feira. O rapaz vivia no acampamento Manguinhos, localizado naquele município.

De acordo com a coordenação do movimento, várias pessoas acampadas no local vinham sendo ameaçadas por pistoleiros.

Uma denúncia formal sobre o caso chegou a ser feita na delegacia local e a Ouvidoria Agrária Nacional do Ministério do Desenvolvimento Agrário. O pai da vítima, Fernando Silva – que presenciou o crime, também foi ameaçado. "Eles mataram meu filho e eu não pude fazer nada. Só estou vivo porque acabaram as balas e eles foram embora", afirmou Fernando, que está escondido na casa de parentes.

Dois dias depois, um novo atentado tirou a vida dos irmãos Francisco Manoel de Lima, 28 anos, e Edilson Rufino da Rocha, de 36. Integrantes do MST há mais de oito anos, os agricultores foram mortos na manhã da última sexta-feira, na casa dos pais, localizada no sítio Bebedouro, no município de Passira. Os irmãos moravam no acampamento Gregório Bezerra, instalado na Fazenda Recreio, desde 2003. A propriedade, de 700 hectares está ocupada por 200 famílias.

"Eles estavam com medo das ameaças e por isso deixaram o acampamento há cerca de uma semana. Foi tudo muito rápido. Três homens arrombaram a porta da casa e foram direto para o quarto onde eles estavam. Eles atiraram nos dois e foram embora andando", comentou uma irmã das vítimas.

De acordo com Joba Alves, da coordenação estadual do MST no município, os irmãos eram testemunhas de um inquérito policial que investigava a atuação de milícias armadas na região. "Tenho certeza de que foram assassinados por isso. Em depoimento à polícia, há pouco tempo, os companheiros ajudaram a identificar e prender pistoleiros que atuam na área, ameaçando sem-terra", disse Joba.

Em maio deste ano, outro integrante do movimento, Luís Afonso, foi baleado em Passira por pistoleiros, apesar dos ferimentos, Afonso conseguiu sobreviver.

O ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rosseto, o secretário nacional de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, e o presidente nacional do Incra, Rolf Hackbart, viajarão para Passira onde participam do enterro dos irmãos Edílson e Francisco.

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