Ciclo de desenvolvimento

Ao completar um ano de sua eleição como presidente da República, por ocasião da abertura do 22.º Congresso da Internacional Socialista, Lula manifestou a convicção de que, doravante, teremos um novo e vigoroso ciclo de desenvolvimento. Um ciclo diverso do experimentado de 1930 a 1980, quando o País cresceu à taxa média de seis por cento ao ano. Diverso porque o presidente acredita possível, neste novo ciclo, promover também melhor distribuição de riqueza e justiça social.

O auditório socialista deve ter influenciado essa qualificação do desenvolvimento agora anunciado, pois Lula se encontrava na incômoda situação de um presidente de esquerda que realiza uma administração inquinada de neoliberal e até de direita. E seus projetos sociais, tão alardeados, esbarraram desde o início na falta de planejamento e escassez de recursos, óbices que, enquanto oposição e mesmo durante a campanha eleitoral, parecia não imaginar. Claro é que este governo assumiu com promessas e sonhos que respondiam à ideologia que pregava há décadas. No poder, encontrou uma realidade diversa e adversa, o País com um endividamento imenso, uma inescapável necessidade de rolar essa dívida e, para isso, produzir um enorme superávit primário. E problemas sociais multiplicados e gigantescos, para cuja solução são necessários bilhões e bilhões, de que o País não dispõe.

Não teve outra solução, senão seguir os mesmos passos do governo anterior, que condenava. E agravando o aperto, do que resultou, até agora, um processo recessivo e, no momento, alguns leves sinais de recuperação que ainda não têm nenhuma sustentação plausível. Os projetos sociais se mostraram insuficientes, embora multiplicados e o Fome Zero, principal bandeira, quase que morre à míngua de planejamento e recursos. No momento, anda a passos de tartaruga.

A conseqüência mais grave dessa inesperada situação foi o aumento do desemprego e as dificuldades, se não impossibilidade, de retomar o crescimento econômico, o que agora Lula promete. Promete, mas não pela primeira vez. Apenas acrescenta ao seu sonho a justiça social que um ciclo de desenvolvimento deveria propiciar, o que o anterior não fez e um governo petista tem obrigação de realizar.

Para realizar tal ciclo de desenvolvimento com justiça social, imagina o governo, notadamente o ministro Guido Mantega, do Planejamento, um acordo com a iniciativa privada. Esta entraria com a maior parte do dinheiro, se associaria ao governo e ambos desenvolveriam um grande projeto de infra-estrutura, que gere empregos e base para o desenvolvimento.

Lembremo-nos que quando se fala em infra-estrutura, embora o caminho seja o correto, se está referindo a investimentos gigantescos e com resultados a longo prazo. A iniciativa privada quer resultados a mais curto prazo, não confia em associações com governos, tanto mais se de esquerda, e ainda se queixa de que a administração Lula lhe negou condições mínimas de crescimento e, em alguns casos, de sobrevivência. Esse castigo veio com o aumento do superávit primário, dos juros, cortes de crédito e desemprego, que fez encolher o mercado.

O sonho é bonito e oxalá seja realizável. Mas tudo indica que o discurso de Lula e suas promessas de novo ciclo de desenvolvimento econômico com justiça social não passaram de um discurso adaptado às expectativas da platéia do Congresso da Internacional Socialista. Esperamos que sua equipe tenha fórmulas eficientes para obter tão espetaculares resultados, pois nada melhor para o Brasil que o anunciado “vigoroso ciclo de desenvolvimento”.

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