Chico Buarque joga futebol na Festa Literária de Paraty

Paraty, 10 (AE) – Durante mais de uma hora, o escritor e compositor Chico Buarque de Holanda divertiu-se hoje (10) com o esporte que mais gosta, o futebol – a seu pedido, os organizadores da 2.ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) organizaram uma partida envolvendo alguns escritores e jogadores locais, em um clube da cidade.

Chico participou de dois jogos (venceu o primeiro por 3 a 2 e o segundo por 5 a 2), na tarde de hoje, e chegou a marcar um gol. “Foi uma partida em que buscamos tanto o resultado como um bom espetáculo”, disse Chico, que foi respeitosamente enfrentado pelos adversários. À noite, ele participaria da mais disputada e esperada mesa de debates, ao lado do escritor americano Paul Auster.

Foi a primeira grande aparição pública de Chico Buarque, desde que decidiu isolar-se com a família para comemorar seus 60 anos, no mês passado. Ele, que chegou carregando uma bolsa com o distintivo do seu clube do coração, o Fluminense, comentou de forma irônica sobre o assunto: “Completar essa idade não é coisa que se faça em público”.

Chico chegou a Paraty na noite de sexta e, apesar de sua notória indisposição em enfrentar o assédio do público, passeou por algumas ruas para admirar o movimento da cidade. Segundo ele Paraty assumiu, nesses dias da Flip, a mesma condição de cidade-sebo que Hay-on-Wye, no País de Gales, onde tradicionalmente há encontros literários. “Estive lá há cinco anos e percebi que a cidade é tomada por livrarias e sebos”, disse. “Em Paraty, durante esse período, o mais importante é a literatura.” Em campo, Chico Buarque exibiu disposição física e noção tática, atuando no meio-de-campo e no ataque. Apesar de enfrentar adversários mais jovens, o escritor teve a persistência de marcar seu gol. O momento, porém, teve poucos espectadores – uma chuva torrencial obrigou o público a procurar abrigo em uma região mais distante. “Foi pena pois perderam um lance maravilhoso”, brincou ele, que evitou também apontar o melhor em campo. “A modéstia me impede de dizer isso.” Para que o jogo fosse igualmente disputado, os organizadores da Flip convidaram também alguns veteranos jogadores locais ao invés de apenas garotos.

Chico foi lacônico sobre suas expectativas a respeito do debate que teria à noite, com Paul Auster, o mais disputado da Flip – os ingressos para o encontro foram os primeiros a se esgotar, em poucas horas. “O público é quem vai ditar o rumo do debate”, disse o compositor, revelando sua preferência por um livro de Auster, A Invenção da Solidão. “Adoro essa obra.” Auster era uma das personalidades presentes ao futebol. Acompanhado da mulher, a também escritora Siri Hustvedt, ele até tentou uma ambientação: provou um prato de feijoada e, depois de aprovar, trouxe outro para mulher. Auster também arriscou dar uma espiada no jogo, embora confessasse completa ignorância em relação às regras. “Parece divertido”, disse ele, que logo foi embora.

Na platéia também estavam outros escritores como Luis Fernando Verissimo, Angeli, Rosa Montero, José Eduardo Agualusa, Miguel Sousa Tavares e Ziraldo, que se recuperou de uma recente intervenção cardíaca. “Eu até jogaria se não tivesse sido vetado pelo médico”, brincou o cartunista. Antes de deixar o clube, discretamente escoltado por seguranças, Chico Buarque aceitou atrasar a saída e posar para um foto ao lado de um time de crianças de uma escola de futebol, que iniciavam os treinos no campo onde o compositor acabar de jogar. Depois de se ajoelhar na grama, para ficar na mesma altura dos moleques, Chico Buarque desejou-lhes boa sorte.

Voltar ao topo